Rinoceronte-branco-do-norte: como a pandemia pode precipitar a extinção de uma subespécie
Os esforços para salvar uma subespécie de rinocerontes estão em pausa devido às restrições de viagem — e ao risco de contaminar outras espécies de primatas. Mas o tempo não pára de contar.
Três embriões esperam em nitrogénio líquido o levantamento das restrições de viagem que permitiriam a uma equipa de conservacionistas internacional juntar-se para criar um bebé muito especial.
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Três embriões esperam em nitrogénio líquido o levantamento das restrições de viagem que permitiriam a uma equipa de conservacionistas internacional juntar-se para criar um bebé muito especial.
A fertilização in-vitro é a única forma de salvar uma subespécie de rinocerontes em perigo crítico de extinção. No mundo, existem apenas dois exemplares de rinoceronte-branco-do-norte: e as duas são fêmeas.
Quando Sudan, o último macho da espécie, foi eutanasiado aos 45 anos, a equipa da reserva natural Ol Pejeta recolheu material genético que tencionava usar para tentativas futuras de reprodução. Para que isso aconteça será necessário que, para além dos óvulos de Najin e do sémen congelado de Sudan, uma fêmea da mais comum subespécie de rinoceronte-branco-do-sul sirva de barriga de aluguer.
Mas os esforços para criar em laboratório embriões viáveis que trariam uma nova esperança à subespécie em extinção estão em pausa devido à pandemia de covid-19. O processo de recolher mais óvulos e o aperfeiçoamento da técnica de inseminação artificial está a cargo de cientistas do Quénia, Alemanha, Itália e República Checa, país onde Sudan foi mantido em cativeiro num zoo até 2009, antes de ser transportado para junto das duas últimas fêmeas da mesma subespécie, Najin, 27 anos, e Fatu, 17 anos – respectivamente suas filha e neta.
“Nós sabemos que o tempo está contra nós”, disse Cesare Galli, um dos especialistas, à Associated Press. “As fêmeas vão envelhecer, e não temos muitas por onde escolher.” Como os óvulos são limitados, a equipa está a usar embriões da subespécie sul para tentar chegar a uma gravidez bem-sucedida.
Em Julho de 2019, um rinoceronte-branco-do-sul macho saudável nasceu pela primeira vez nos Estados Unidos através de inseminação artificial, no jardim zoológico de San Diego: a sua “mãe-de-aluguer”, uma rinoceronte chamada Victoria, esteve 493 dias prenha. Estima-se que existam cerca de 18 mil animais da subespécie rinoceronte-branco-do-sul, classificada como “quase ameaçada” pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza.
As restrições das viagens, no entanto, não são o único problema. Na Ol Pejeta Conservancy também habitam primatas que são susceptíveis ao novo coronavírus. “Ameaças uma espécie para salvar outra”, diz Galli.
Por agora, relata a Associated Press, Fatu e Najin, filha e mãe, aguardam protegidas dos caçadores furtivos e na companhia de Tewa, uma fêmea de rinoceronte-branco-do-sul candidata a barriga de aluguer. O objectivo final é criar uma manada de cinco animais, que poderiam ser devolvidos ao seu habitat natural em África. Mas este é um final feliz que, mesmo sem interrupções, levaria muitos anos a tornar-se realidade.