TAP recua no plano de voos para os próximos meses

Transportadora aérea foi alvo de fortes críticas após ter divulgado uma estratégia de recuperação de rotas em Junho e Julho que foi vista como desvalorizadora do Porto.

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Reuters/Rafael Marchante

A TAP vai “adicionar e ajustar os planos de rota anunciados para este momento de retoma por forma a procurar ter um serviço ainda melhor e mais próximo a partir de todos os aeroportos nacionais” onde opera. Ou seja, vai rever a estratégia de rotas e frequências que divulgou na segunda-feira, e que foi recebida com uma bateria de críticas negativas que envolveram o Presidente da República.

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A TAP vai “adicionar e ajustar os planos de rota anunciados para este momento de retoma por forma a procurar ter um serviço ainda melhor e mais próximo a partir de todos os aeroportos nacionais” onde opera. Ou seja, vai rever a estratégia de rotas e frequências que divulgou na segunda-feira, e que foi recebida com uma bateria de críticas negativas que envolveram o Presidente da República.

Em comunicado enviado pelo conselho de administração da TAP, a transportadora diz que vai “de imediato” colaborar  “com todos os agentes económicos, nomeadamente associações  empresariais e entidades regionais de turismo,  para viabilizar  o maior número de oportunidades”. “Considerando o período difícil que Portugal atravessa”, refere a empresa, esse plano “ficará, naturalmente, subordinado aos constrangimentos legais que existam quanto à mobilidade das pessoas e ao transporte aéreo”.

O comunicado termina afirmando que “o objectivo da TAP é continuar a voar para retomar a sua operação e a servir os seus clientes sempre com o objectivo de assegurar a sua sustentabilidade futura e continuar a projectar Portugal no mundo”.

A revisão do plano de voos para os meses de Junho e de Julho surge após dois dias de fortes críticas em relação ao que tinha sido comunicado.

Na terça-feira, Rui Rio, líder do PSD e ex-presidente da Câmara do Porto, defendeu que “uma empresa regional não pode ter os apoios que tem uma empresa que é estrategicamente importante para o país como um todo”.

Já o actual presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, acusou a TAP de “impor um confinamento ao Porto e Norte”, com as críticas a alargarem-se a outros autarcas do norte e partidos com assento parlamentar.

No caso do PS, o seu secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, tinha desafiado a TAP a corrigir a estratégia de recuperação de rotas.

Depois, foi a vez de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmar à Lusa que acompanhava “a preocupação manifestada por vários partidos políticos e autarcas relativamente ao plano de retoma de rotas da TAP, em particular no que respeita ao Porto”. E se todos estes já eram fortes golpes na companhia área da qual o Estado é dono de 50% do capital (45% são do consórcio privado formado por David Neeleman e Humberto Pedrosa, e outros 5% estão com trabalhadores).

Esta quarta-feira, houve uma nova vaga de críticas, como a da Associação Empresarial de Portugal, que instou o Governo a apoiar financeiramente a TAP apenas “se a empresa assumir outra opção estratégica” e da região do Algarve demonstrar o seu desagrado.

A crítica mais significativa, no entanto, teve origem no primeiro-ministro, António Costa. Em declarações à Lusa, o líder do Governo António Costa afirmou que “não tem credibilidade qualquer plano de rotas definido pela TAP sem a prévia informação sobre a estratégia de reabertura de fronteiras definida pela República Portuguesa”.

Pelo menos até 15 de Junho, estão interditados os voos para Itália e Espanha e para cidades do Brasil além do Rio de Janeiro e São Paulo, e, no plano de Julho, a TAP já contempla esses cenários - com a nota de que a operação “respeita o quadro de restrições à mobilidade das pessoas definido”. A transportadora diz também que a lista de rotas “pode ser ajustada sempre que as circunstâncias assim o exijam”.

O presidente do Turismo do Algarve, João Fernandes, e o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), António Miguel Pina, também contestaram hoje os planos da TAP.

“Antes da pandemia, a suposta companhia aérea de bandeira do país assegurava apenas três voos diários de Lisboa a Faro, numa tímida ponte aérea com o hub nacional. Quando a pandemia eclodiu na Europa, a TAP foi expedita a suprir as já reduzidas ligações ao Aeroporto Internacional de Faro e, de acordo com o plano agora apresentado, o reatar da actividade para o Algarve será muito lento, com apenas duas ligações diárias em Julho», defenderam.

A estratégia da TAP, acrescentaram, não servia o Algarve nem seguia “o exemplo das congéneres aéreas mundiais”, que anunciaram, diziam, “uma retoma mais robusta da operação para a região”.  

Até aqui, a transportadora tem apenas assegurado, a partir do Porto, a ligação a Lisboa, três vezes por semana. E, de acordo com o plano apresentado pela empresa liderada por Antonoaldo Neves, o Porto ganhava apenas uma rota em Junho, com a ligação ao Funchal, passando a ter mais duas novas rotas, internacionais, em Julho: Paris (três vezes por semana) e Luxemburgo (duas vezes).

Por essa altura, Lisboa terá 42 rotas, a maior parte internacionais, e 21 ligações semanais entre a capital e o Porto (antes da covid-19 eram 13 por dia).

O plano contempla também o regresso a Faro com 14 voos por semana a partir de Julho, e um reforço para os dois arquipélagos, além de duas ligações internacionais a partir e Ponta Delgada (Boston e Toronto).

PS chama Antonoaldo Neves e Miguel Frasquilho

O PS, entretanto, já entregou hoje na Assembleia da República um pedido para a realização de uma audição parlamentar urgente do presidente da comissão executiva, Antonoaldo Neves, e do presidente do conselho de administração, Miguel Frasquilho.

Os deputados socialistas defenderam que a estratégia anunciada pela TAP na segunda-feira é marcada “por uma grande desproporção de voos com origem em Lisboa em relação à operação de serviços mínimos a partir do Porto e de Faro”, pelo que a empresa tem de explicar bem “os critérios e a estratégia da companhia para os próximos meses, numa altura em que estão em causa apoios à transportadora nacional”.

Há regiões do país, afirmam, “que também precisam do turismo para recuperarem da crise económica decorrente da pandemia, como é o caso das regiões Norte e Sul” e que “não se entende a publicação de um plano de rotas nacionais e internacionais sem a prévia informação do Governo sobre a estratégia de reabertura de fronteiras de Portugal”.

Numa questão de dias, as rotas da TAP tornaram-se assim num dos pontos críticos da definição das ajudas públicas que a transportadora solicitou no final de Março, e cuja dimensão e forma estão agora a ser desenhados pela gestão, pelos accionistas privados e pelo Governo.

Na mais recente ida ao Parlamento, o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, afirmou, entre outros aspectos, que uma ajuda pública implicará a aceitação de um conjunto de condições e de controlo.