Órgãos de comunicação social suspendem cobertura junto à residência do Presidente do Brasil

Grupo Globo e jornal Folha de S.Paulo anunciaram que os seus jornalistas deixarão de cobrir a residência oficial de Jair Bolsonaro, depois de terem sido alvo de agressões e ataques por parte dos apoiantes do Presidente brasileiro. Estado de SãoPaulo, Valor Económico, Metrópoles, UOL, Rand e o grupo Bandeirantes juntaram-se.

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Apoiantes de Jair Bolsonaro insultam jornalistas junto ao Palácio da Alvorada, em Brasilia Joedson Alves/EPA

Agressões a jornalistas e falta de segurança levaram o Grupo Globo e o jornal Folha de S.Paulo a cancelar a cobertura jornalística na residência oficial do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em Brasília. A decisão foi pouco depois seguida por outros órgãos de comunicação social brasileiros: os jornais Estado de São Paulo e Valor Econômico, os portais Metrópoles e UOL, a emissora Band e o grupo Bandeirantes. 

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Agressões a jornalistas e falta de segurança levaram o Grupo Globo e o jornal Folha de S.Paulo a cancelar a cobertura jornalística na residência oficial do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em Brasília. A decisão foi pouco depois seguida por outros órgãos de comunicação social brasileiros: os jornais Estado de São Paulo e Valor Econômico, os portais Metrópoles e UOL, a emissora Band e o grupo Bandeirantes. 

Todos os dias, apoiantes de Bolsonaro ficam ao lado dos jornalistas, em frente ao Palácio da Alvorada, onde o Presidente brasileiro cumprimenta frequentemente os militantes e faz declarações à imprensa. Separados apenas por uma grade, os jornalistas têm sido alvo, com cada vez mais frequência, de agressões por parte dos apoiantes do chefe de Estado brasileiro. Mas Bolsonaro também já “foi grosseiro e ofendeu jornalistas no local”, escreveu o portal UOL. 

Na segunda-feira, após as críticas do Presidente à imprensa, apoiantes de Jair Bolsonaro hostilizaram os profissionais da comunicação social. Os elementos da segurança no local não intervieram. O portal Metrópoles denunciou inclusive que os jornalistas foram alvo de insultos como “comunistas, escória, ratos, comprados, lixo”. "Sempre aos berros, com os militantes bolsonaristas quase entrando no espaço reservado para o trabalho da imprensa e separado apenas por uma grade baixa. Em nenhum momento os seguranças do Alvorada interromperam as manifestações”, escreveu o portal de Brasília. 

Face ao ocorrido, o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, o maior conglomerado de media e comunicação do Brasil, transmitiu ao ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, a decisão de cancelar a cobertura jornalística no Palácio da Alvorada.

“É público que o Presidente da República na saída, e muitas vezes no retorno ao Palácio, desce do carro e dá entrevistas, bem como cumprimenta simpatizantes (...) Entretanto são muitos os insultos e os apupos que os nossos profissionais vêm sofrendo dia a dia por parte dos militantes que ali se encontram, sem qualquer segurança para o trabalho jornalístico. Estas agressões vêm crescendo”, de acordo com o comunicado do Globo.

“Assim, informamos que a partir de hoje [segunda-feira] os nossos repórteres, que têm como incumbência cobrir o Palácio da Alvorada, não mais comparecerão àquele local na parte externa destinada à imprensa. Com a responsabilidade que temos com os nossos colaboradores, e não havendo segurança para o trabalho, tivemos de tomar essa decisão”, concluiu a nota, assinada por Paulo Camargo.

Também o jornal Folha de S.Paulo, um dos de maior circulação do país, comunicou que a cobertura jornalística no local está suspensa até que o Governo garanta a segurança dos profissionais de imprensa. E o portal Metrópoles escreveu que “a suspensão perdurará enquanto o clima de hostilidade continuar e não houver condições para que os profissionais de imprensa possam trabalhar em segurança”. 

No ano passado, a imprensa brasileira sofreu uma média diária de 11 mil ataques pelas redes sociais, o que representa sete agressões por minuto, indicou um relatório divulgado em Março sobre violações à liberdade de expressão. 

E as ameaças também se têm somado. A Rede Globo publicou esta terça-feira uma nota de repúdio pelas ameaças veladas que o apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, tem recebido o jornal tem sido crítico de Bolsonaro. Bonner e a sua filha receberam mensagens por WhatApps, provenientes de um número de Brasília, com uma lista de moradas suas e dos seus familiares, disse o canal televisivo. Os números de contribuinte do apresentador, da sua mulher, filhos, pai, mãe e irmãos também foram enviados, ficando permeáveis a todo o tipo de fraudes. 

O relatório da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) apresentou este ano, pela primeira vez, um capítulo sobre os ataques virtuais que atingem o jornalismo profissional. O documento sublinhou que repórteres responsáveis por matérias críticas do Governo do Presidente Jair Bolsonaro tornaram-se alvos de ataques virtuais, promovidos por apoiantes do actual executivo.

Já em Janeiro, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) do Brasil responsabilizou Jair Bolsonaro por 58% dos 208 ataques ocorridos em 2019 contra jornalistas e órgãos de comunicação social. “Sozinho, o Presidente Jair Bolsonaro foi responsável por 58% destes ataques, chegando a 121 casos”, indicou a Fenaj, na apresentação de um relatório sobre o tema.

Desde a campanha eleitoral, que o levou à vitória nas eleições de 2018, Bolsonaro tem mantido um confronto aberto com os principais meios de comunicação social brasileiros, como a TV Globo, o Folha de S.Paulo ou a revista Veja.