“TAP está a tentar impor um confinamento ao Porto e ao Norte”, acusa Rui Moreira
Presidente da Câmara do Porto acusa companhia aérea de “abandonar o país” e questiona Governo sobre financiamento dado à TAP. “Não façam de nós tolos”, pediu. Autarcas do Norte falam de “insulto à região”.
A companhia aérea TAP anunciou esta segunda-feira o seu plano de retoma de parte da operação e deixou autarcas do Norte em rebuliço, ao admitir fazer alterações nas rotas e anunciar 27 voos semanais até ao fim de Junho e 247 no seguinte, a maioria a partir de Lisboa. Rui Moreira nunca poupou nas palavras para falar da TAP e repetiu a fórmula esta terça-feira, numa conferência de imprensa em que se juntaram representantes de vários municípios e Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal. Acusando a companhia de estar a “tentar impor um confinamento ao Porto e ao Norte”, Rui Moreira apelou a um equilíbrio por parte do Governo na hora de financiar a TAP.
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A companhia aérea TAP anunciou esta segunda-feira o seu plano de retoma de parte da operação e deixou autarcas do Norte em rebuliço, ao admitir fazer alterações nas rotas e anunciar 27 voos semanais até ao fim de Junho e 247 no seguinte, a maioria a partir de Lisboa. Rui Moreira nunca poupou nas palavras para falar da TAP e repetiu a fórmula esta terça-feira, numa conferência de imprensa em que se juntaram representantes de vários municípios e Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal. Acusando a companhia de estar a “tentar impor um confinamento ao Porto e ao Norte”, Rui Moreira apelou a um equilíbrio por parte do Governo na hora de financiar a TAP.
Faz sentido injectar dinheiro na companhia aérea portuguesa? Depende, argumentou o presidente da Câmara do Porto: “Essa ajuda deve apenas compensar a TAP por aquilo que não pode fazer neste tempo [de pandemia], mas na confiança de que amanhã faça tudo o que fazia antes. Senão, a ajuda do Estado não é para resolver o problema da pandemia, é para resolver os problemas históricos da TAP.”
O autarca – que há quatro anos escreveu o livro TAP – Caixa Negra, sobre os “bastidores da ‘guerra séria’ entre a TAP e o Porto” – acusou a companhia de preservar um “carácter colonial” e, como fez no passado, querer abandonar o aeroporto da cidade. “Na altura em que o país mais precisa, a TAP abandona o país. Estar só em Lisboa representa, de facto, abandonar o país.”
Essa movimentação, disse Rui Moreira, seria “aceitável” caso fosse uma companhia privada. Mas, neste caso, não: “A TAP não é nem carne nem peixe: é uma empresa privada quando quer tomar decisões; e é uma empresa pública quando quer que os portugueses paguem os seus vícios.”
Pedindo um tratamento estatal igual aos dados às restantes empresas, Rui Moreira ultimou o Governo a decidir: “Ou é uma empresa privada que não serve o país e tem de encontrar meios de mobilizar financiamento como quiser, ou é participada pelo Governo e tem de ser tomada como activo estratégico nacional.” Caso o apoio seja para “uma empresa de carácter regional”, o autarca tem uma sugestão: “Incorporem a TAP na Carris e façam o que quiserem. Mas não façam de nós tolos.”
Sublinhando não ter um “conceito ideológico” sobre o carácter público ou privado da companhia aérea, Moreira reclamou uma definição: “O que não pode ser é uma empresa que é paga por nós para decidir como quer e ainda por cima decidir mal. Ao querer ser as duas coisas, é aquilo que é hoje, que é nada. A TAP, hoje, para o interesse nacional, é zero.”
Para Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, nem sequer um argumento puramente economicista venceria: “É mentira que não há mercado” para a TAP manter os voos que fazia até à pandemia se instalar, disse, dando exemplos das rotas de outras companhias estrangeiras, que farão mais voos de e para o aeroporto do Porto. Os números são simples: “Em Junho, não haverá nenhum voo internacional de e para o aeroporto Francisco Sá Carneiro. Em Julho, dos 247 voos, a TAP vai fazer apenas cinco internacionais de e para o Sá Carneiro e mais 23 nacionais.”
Falando numa “atitude inadmissível e numa humilhação para a região Norte e para o país”, Luís Pedro Martins deixou um recado: “A TAP só tem sentido enquanto companhia bandeira, enquanto agregadora de todas as regiões, enquanto empresa que presta um serviço a todo o país, já que é com o dinheiro de todo o país que a TAP vai sobrevivendo. O contrário não faz sentido nenhum.”
“Um insulto à região”
O presidente da Câmara de Gondomar, Marco Martins, acusa a TAP de “discriminar” o Norte de Portugal e fala mesmo num “insulto” à região que “mais contribuiu para a economia do país”. Em declarações à agência Lusa, o socialista apelou a António Costa para “pôr ordem” na companhia aérea: “A actual administração da TAP está a ceder a interesses económicos e a suportar os outros negócios que os accionistas têm na região da Lisboa”.
O pedido do presidente da Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro, foi no mesmo sentido. A actual administração da TAP, disse, “está a tratar o aeroporto do Porto como um mero apeadeiro” e isso é “inadmissível”. O também socialista fala, num comunicado, numa “tremenda injustiça” que contribui para o “aprofundamento das assimetrias regionais”.
É um “erro clamoroso”, aponta, por sua vez, o presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos, admitindo uma “profunda preocupação” com as alterações previstas. “O Aeroporto Francisco Sá Carneiro é uma porta de entrada no Norte da Península Ibérica, com um impacto muitíssimo relevante na actividade turística e económica da Área Metropolitana do Porto, mas também da Galiza, do Interior Norte, do Douro, do Eixo Atlântico, enfim, de um território muito vasto”, aponta, em comunicado.
O presidente da Câmara da Maia, Silva Tiago, pediu a António Costa para não passar ao lado deste caso: “Já o fez há umas semanas quando veio ao Porto andar de metro e disse, claramente, que a TAP e o aeroporto estavam unidos e estavam numa comunhão frutuosa e, portanto, espero que ele intervenha e que ponha ordem nesta desordem que é concomitante com uma crise sanitária que nos avassala a todos”, declarou o social-democrata.
José Maria Costa, da Câmara de Viana do Castelo, anseia o regresso do “bom senso” às decisões governamentais, o que implica recordar que “a TAP é uma companhia para todo o Portugal”, disse o socialista.
“Não me calarei”
Na sua página oficial do Facebook, o vereador do PS na Câmara do Porto e deputado europeu, Manuel Pizarro, falou no comportamento da TAP como “um insulto ao Norte e ao Porto”. “A TAP quer o dinheiro dos portugueses, de todos os portugueses, para se salvar. Mas, entretanto, abandona miseravelmente o Norte, cuja economia precisa dramaticamente da retoma das ligações aéreas”, aponta. Prometendo estar atento à acção do Governo no dossier, o socialista prometeu não baixar os braços: “Não podemos aceitar que o dinheiro de todos os portugueses seja entregue a uma empresa que só quer servir uma parte deles. Não me calarei.”
À margem de uma conferência de imprensa, o deputado do Bloco de Esquerda eleito pelo círculo do Porto, José Soeiro, imputou à companhia aérea portuguesa a responsabilidade de transformar o aeroporto do Porto numa “espécie de apeadeiro ao serviço do aeroporto de Lisboa”.
Essa “desvalorização completa do Porto” é contrária ao equilíbrio que o bloquista defende e é “inaceitável”, disse à Agência Lusa: “É por isso é que nós fomos sempre contra a privatização da TAP, mas também da privatização de uma estrutura aeroportuária, aqui no Porto concretamente, onde, nos últimos anos, houve um investimento de dinheiro público na ordem dos 500 milhões e que está a ser cada vez mais colocada basicamente ao serviço das empresas low cost”, afirmou.
Sindicato também reclama: é “um duro golpe”
O Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes da Área Metropolitana do Porto (STTAMP) classificou de “irrisória” a percentagem de voos da TAP com origem no aeroporto do Porto. É “um duro golpe” na economia da região, aponta em comunicado. Pedindo a municípios, empresas e outros agentes da região para se unirem, o sindicato acusa a TAP de continuar a “olhar para o país com os mesmos tiques de centralismo” de outras instituições.
“É incompreensível que um país que nos últimos anos tem tido no turismo uma das mais importantes componentes da sua balança comercial concentre de uma forma inqualificável a operação aeroportuária na região de Lisboa, fustigando uma vez mais a economia da região Norte, mantendo a linha do centralismo bafiento que a história de Portugal desde há muito regista”, escreve.