Ruben A.: Salazar leu e não gostou do “palavriado porco”, obscenidades e palavrões
Esta cronologia foi publicada no PÚBLICO a 26 de Março de 2007, nos 32 anos da morte do escritor Ruben A. (1920- 1975).
Ruben Alfredo Andresen Leitão nasceu em Lisboa, a 26 de Maio de 1920. Cresceu no Porto, em casa da avó materna, onde brincava com a sua prima direita, Sophia de Mello Breyner Andresen.
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Ruben Alfredo Andresen Leitão nasceu em Lisboa, a 26 de Maio de 1920. Cresceu no Porto, em casa da avó materna, onde brincava com a sua prima direita, Sophia de Mello Breyner Andresen.
Iniciou o curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa em 1940 mas como reprovava sistematicamente a Psicologia pediu transferência para a Universidade de Coimbra. Formou-se em 1945 com a tese de licenciatura Cartas de Dom Pedro V ao Conde de Lavradio.
Em 1947, na qualidade de bolseiro do Instituto de Alta Cultura, obteve o grau de Master of Arts no King's College, da Universidade de Londres e foi nomeado leitor de português no King's College. Em 1949 conheceu o poeta T. S. Eliot e iniciou a série de crónicas Carta de Londres no Diário Popular. Publica Páginas I, com o nome literário de Ruben A.
Um ano depois conheceu os escultores Henry Moore e Barbara Hepworth e a escritora Rosameond Lehman, com quem manterá correspondência. Publica Páginas II.
António de Oliveira Salazar lê o livro e escreve uma nota que vale a pena reproduzir quase na íntegra: “O livro, ou é de um louco ou de um sujeito que, tendo dinheiro para pagar um livro de dislates, se propôs rir-se de todos nós. Há páginas inteiras completamente ininteligíveis e irredutíveis na análise das regras da gramática portuguesa, recheadas de termos de invenção do Autor e formadas sem tom nem som. Explora-se o reles, o ordinário, o palavriado [sic] porco, não só da língua literária, mas do falar corrente. As porcarias, obscenidades, palavrões juncam o livro. (...). Parece-me que o livro pertence a uma onda modernista, e não é um caso para a Censura e para a polícia de costumes. Mas se o Autor é leitor em Londres, nessa qualidade temos nós de ver o que escreve e como escreve. Em conclusão: O Autor não pode representar Portugal nem ensinar português. Este é que é o ponto essencial a tratar com o Instituto de Alta Cultura. E já não falo de certas taras morais ou sexuais do livro (...); o Autor deve pertencer aí a um círculo de pessoas que a polícia persegue.”
Mas como o reitor inglês da Universidade de Londres não se deixou intimidar por Oliveira Salazar meses mais tarde, em Julho de 1951, este escreve ao ministro Pires de Lima: “Só hoje me mandaram os seus cartões e papéis relativos ao leitorado de Londres. Devolvo estes. Não há objecção ao que se pretende (dado?) que o maluco do homem tem habilidade e competência para o cargo.”
Apesar disso, em 1952 Ruben Leitão renuncia ao leitorado no King's College, casa com Romemary Bach (mãe dos seus quatro filhos: Alexandra Joana, Catarina Inês, Cristovão Tomás, Alexandre Nicolau). Em 1954 publica o romance Caranguejo e é admitido como funcionário da Embaixada do Brasil em Lisboa, onde fica até 1972. Sargaço e Páginas III saem em 1956 e o livro de contos Cores e Páginas IV em 1960.
Inicia em 1963 uma coluna regular sobre “Livros Escolhidos” no Diário Popular que existirá até 1975. Publica Um Adeus aos Deuses - Grécia e estreia-se como dramaturgo com a peça Júlia.
No ano de 1964 publica o primeiro volume de O Mundo à Minha Procura: Autobiografia e também o romance A Torre de Barbela (Prémio Ricardo Malheiros).
Em 1965 promove a primeira semana de música em Viana do Castelo que irá ter mais edições, e no ano seguinte sai a novela O Outro Que Era Eu e também o segundo volume de O Mundo à Minha Procura.
Inicia o Inventário dos Chafarizes Portugueses em 1967 e o terceiro e último volume de O Mundo à Minha Procura sai em 1968.
Em 1972 é nomeado para o Conselho de Administração da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (IN-CM) e é ele que abre a delegação das livrarias IN-CM no Rio de Janeiro (Livraria Camões).
Em 1973 separa-se judicialmente da sua mulher, publica o romance Silêncio para 4, e no ano seguinte é nomeado director-geral dos Assuntos Culturais do Ministério da Educação e Cultura.
Em 1975 é convidado a exercer funções docentes como professor associado na Universidade de Oxford. Vai a 17 de Setembro para Londres de automóvel com Maria Luísa Távora (com quem inicia vida conjugal), mas a 26 de Setembro de 1975 morre vítima de enfarte de miocárdio no St. George's Hospital, em Londres.
Em 1981 é publicado postumamente o romance Kaos (que foi escrito em 1974).
Adaptação da Cronologia Biobibliográfica feita por Jorge Pais de Sousa e publicada no catálogo bibliográfico-documental Para um Ruben global e também da cronologia da fotobiografia O Mundo de Ruben A. (Assírio & Alvim)