Sucesso da vacina da Universidade de Oxford está “longe de ser garantido”, avisa coordenador
Na mesma semana em que a AstraZeneca disse que até ao final de 2021 teria capacidade de produzir mil milhões de doses da potencial vacina da covid-19, um dos coordenadores do projecto veio alertar para o perigo de “falsas promessas” e avisar que só existe uma probabilidade de 50% de os ensaios clínicos funcionarem.
O mundo está de olhos postos na potencial vacina para a covid-19 que está a ser desenvolvida por uma equipa da Universidade de Oxford, no Reino, e que foi uma das primeiras a iniciar ensaios clínicos em humanos. Esta semana, a empresa farmacêutica AstraZeneca, que se aliou à instituição de ensino superior britânica neste processo, anunciou que estabeleceu acordos para 400 milhões de doses da vacina. Também o governo britânico concordou pagar por cerca de 100 milhões de doses de uma potencial “cura” para o novo coronavírus.
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O mundo está de olhos postos na potencial vacina para a covid-19 que está a ser desenvolvida por uma equipa da Universidade de Oxford, no Reino, e que foi uma das primeiras a iniciar ensaios clínicos em humanos. Esta semana, a empresa farmacêutica AstraZeneca, que se aliou à instituição de ensino superior britânica neste processo, anunciou que estabeleceu acordos para 400 milhões de doses da vacina. Também o governo britânico concordou pagar por cerca de 100 milhões de doses de uma potencial “cura” para o novo coronavírus.
No entanto, um dos coordenadores do projecto, o professor Adrian Hill, já veio alertar para o perigo de “falsas promessas” e avisar que o sucesso dos ensaios clínicos está “longe de ser garantido”. Hill revelou este sábado ao The Telegraph que só existe uma probabilidade de 50% de a vacina funcionar e que a meta de Setembro pode ter sido empurrada para meses depois, já que a equipa enfrenta um problema. O “adversário”, ou seja, o vírus, está a desaparecer tão rapidamente no Reino Unido que a próxima fase dos testes tem apenas metade da probabilidade de suceder. Isto porque sem transmissão comunitária da covid-19, os voluntários não ficarão infectados com a doença, deixando a equipa incapaz de perceber que se vacina funciona ou não.
Este aviso do professor chega na mesma semana em que a AstraZeneca disse que até ao final de 2021 teria capacidade de produzir mil milhões de doses da vacina — baptizada com o nome AZD1222 (ouChAdOx1 nCoV-19) — para o novo coronavírus. Apesar da confiança de que este produto estará disponível a partir de Setembro, a AstraZeneca reconheceu que podem existir problemas de fiabilidade.
Hill diz ao jornal britânicos que das 10 mil pessoas recrutadas para testar a vacina nas próximas semanas é esperado que menos de 50 pessoas contraiam o vírus. E se menos de 20 tiverem testes positivos, os resultados podem vir a ser inúteis.
Numa conferência em Downing Street, a 17 de Maio, o ministro britânico para o Desenvolvimento Internacional, Alok Sharma, chegou a sugerir que metade da população do Reino Unido poderia receber a vacina até ao Outono, mas Hill diz ao Telegraph que, apesar de os ensaios clínicos continuarem a decorrer, estes podem nem vir a dar nenhum resultado.
“É uma corrida, sim. Mas não é uma corrida contra as outras equipas. É uma corrida contra o desaparecimento do vírus e contra o tempo”, refere o professor de 61 anos, acrescentando que se no início dos ensaios clínicos os investigadores avançaram que existia uma probabilidade de 80% de desenvolver uma vacina eficaz até Setembro, agora essa probabilidade diminuiu. “Estamos na posição bizarra de querer que a covid-19 fique, pelo menos durante mais algum tempo, mas os casos estão a diminuir”.
O Reino Unido registou este sábado mais 282 mortes pela covid-19 (um número inferior ao de sexta-feira) elevando o total no país para 36.675. O país continua a ser o segundo com mais vítimas mortais pela doença. Durante uma conferência de imprensa, a sub-directora-geral da Saúde britânica, Jenny Harries, disse que “a única nota positiva sobre o número de mortes é que este está a começar a diminuir”.
Já o ministro dos Transportes britânico, Grant Shapps indicou que o país registou 2959 novos casos de contágio este sábado — os números divulgados na sexta-feira tinham apontado a existência de 3287 novos casos de infecção. No total, já 257.154 pessoas testaram positivo desde o início do surto, mas os números têm vindo a diminuir nas últimas semanas, ao mesmo tempo que o Governo de Boris Johnson se prepara para anunciar medidas de desconfinamento.
De acordo com documentação de 15 de Maio da Organização Mundial da Saúde (OMS), encontram-se em investigação por empresas de biotecnologia, empresas farmacêuticas e universidades 118 candidatas a uma vacina para o SARS-CoV-2. Entre as dezenas de candidatas, há agora oito vacinas em ensaios em pessoas.