Jerónimo de Sousa sobre layoff: “Não pode ser um processo que continue meses sem fim”
Em entrevista ao Diário de Notícias, o líder do PCP reconhece que a tarefa de “impedir que o Governo caia” está nas mãos dos socialistas.
O secretário-geral do PCP, partido que se reunirá em congresso no final do ano, deixou claro este sábado que o Governo não contará com os comunistas para alargar o regime de layoff durante vários meses. “Não pode ser um processo que continue meses sem fim”, disse Jerónimo de Sousa em entrevista ao Diário de Notícias.
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O secretário-geral do PCP, partido que se reunirá em congresso no final do ano, deixou claro este sábado que o Governo não contará com os comunistas para alargar o regime de layoff durante vários meses. “Não pode ser um processo que continue meses sem fim”, disse Jerónimo de Sousa em entrevista ao Diário de Notícias.
“Ainda hoje ouvi o dirigente da CIP dizer ‘isto do layoff tem de continuar’. Isto dito assim, aparentemente, é aceitável, esquecendo que muitos e muitos que estão sob o layoff, com uma pressão tremenda, viram um terço do seu salário volatilizar-se”, sublinhou o comunista, que aproveitou para denunciar “aproveitamentos por parte de sectores do patronato”, sobretudo “por parte de empresas que têm lucros fabulosos e que não admitiram sequer fazer também uma parte do sacrifício”.
Esta é apenas uma das razões por que o PCP considerou o estado de emergência como um exagero, abstendo-me uma vez na votação do decreto que o instituiu e rejeitando-os noutras duas. “O estado de emergência serviu, não para salvaguardar a saúde dos portugueses, mas para transformar a dificuldade numa oportunidade para muitos”, defendeu Jerónimo, referindo-se ao patronato. “Tenho grande dificuldade em compreender que cerca de 500 empresas, tendo tido lucros fabulosos, queiram prolongar o layoff.”
E se esse estado de excepção teve reflexos negativos em termos laborais, em termos sociais também os teve. “Creio que se estabeleceu uma pressão tremenda e inaceitável, com base na certidão de nascimento. Não pode haver um critério, uma imposição sobre os mais velhos, com consequências que ainda estão por avaliar”, sublinhou. Para Jerónimo, nos últimos meses até a política perdeu a “dimensão da proximidade, do afecto” e “sofreu um revés”.
Quando contar com o PCP
Questionado sobre o apoio ao Governo, nomeadamente no que diz respeito ao orçamento suplementar, Jerónimo não mudou o rumo da argumentação do PCP. “Olhamos para o documento, estudamo-lo, reflectimos e dizemos se estamos de acordo ou se estamos em desacordo. E nunca por nunca nós abdicamos da palavra dada. É essa a nossa disposição em relação ao orçamento suplementar e em relação ao Orçamento do Estado para 2021, que vamos começar a apreciar em Junho ou Julho.”
“Não há acordo escrito, e o PCP mantém-se nesta posição: no que for bom para o povo, para os trabalhadores, pode o PS estar convicto de que pode contar com o PCP. Naquilo que acharmos que é negativo, seja no plano nacional, seja no plano da UE, nós não acompanharemos”, acrescentou.
E defenderão os comunistas a demissão do Governo se este propuser medidas de austeridade para fazer face à crise? “Consideramos que essa não é a questão agora - a demissão do Governo -, mas se o Governo do PS enveredar por essa política de retrocesso, que se manifestou nos PEC e no pacto de agressão, nós não acompanharemos o PS”, avançou Jerónimo.
Ainda assim, para o secretário-geral do PCP, “está nas mãos do PS impedir que o Governo caia”.
Quanto a lições a tirar da crise, Jerónimo de Sousa destaca duas. “A vida mostrou a importância que tem a produção nacional, aquilo que dissemos tantas e tantas vezes, que é preciso não estarmos dependentes do défice alimentar, do défice energético, do défice demográfico. Essa foi uma das lições. A outra e talvez mais significativa é o papel estratégico, fundamental, do Serviço Nacional de Saúde. Se tivéssemos ido na conversa da privatização, da transformação da saúde numa área de negócio, hoje a situação seria dramática.”
Numa entrevista em que fala sobre “o papel da União Europeia (UE) nesta fase dramática” para dizer que “foi uma posição clara de paralisia, de muita indecisão”, Jerónimo assumiu-se como “profundamente pessimista [nestas matérias] tendo em conta o papel negativo e paralisante que tiveram as instituições da UE”.
Houve ainda disponibilidade por parte do líder comunista para responder a perguntas sobre o futuro. O seu e o do partido, mas sem novidades. Jerónimo de Sousa limitou-se a insistir no que já havia dito anteriormente. “A questão do secretário-geral não vai ser, de facto, um problema do XXI Congresso, porque neste partido não há candidatos a coisa nenhuma e, depois, porque na opção que se escolher, seja daqui a uns meses seja daqui a uns anos, sempre prevalece a ideia de saber o que melhor serve o partido.”