Lonely Planet em luta pela sobrevivência: um planeta mais solitário
Primeiro foi o digital, agora é a pandemia. A Lonely Planet já fechou lojas e reduziu pessoal. Os guias sobrevivem, por enquanto, mas o carisma não é o mesmo. Isso de andar meses na estrada com um Lonely Planet enrugado atado à mochila é coisa do século passado.
Estive no Festival do Deserto, em Jaisalmer, fez vinte anos em Fevereiro passado. No meio de corridas de camelos engalanados, concursos de bigodes esquisitos e muita excitação, esqueci-me de comer até anoitecer. Tinha um guia em papel guardado na mochila, mas estava demasiado cansado para esmiuçar a sua lista de recomendações. De maneiro que entrei no primeiro restaurante que encontrei aberto e nunca mais me esqueci, por duas razões. Por causa da refeição servida, excelente e barata, mas também pelo cartaz exposto na varanda, que lamentava ter esta casa sido injustamente omitida pela “Bíblia”. Haveria uma Bíblia no Rajastão? Sim, esclareceram-me, ali o que valia mesmo era a Bíblia Azul dos mochileiros, como era localmente conhecido o Lonely Planet da Índia. Na verdade, o mesmo que eu tinha seguido quase religiosamente ao longo de um mês de itinerância pelo subcontinente indiano.