Estudo confirma que crianças têm menos receptores no nariz para captar o novo coronavírus
Uma equipa de investigadores norte-americanos confirmou que as crianças têm menos receptores ECA-2 nas células do nariz, o que poderá explicar o facto de haver menos casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus nos mais novos.
As células que revestem o interior do nariz das crianças (que podem ser a porta de entrada do novo coronavírus) têm uma quantidade menor do que as dos adultos de receptores ECA-2, que permitem a entrada do vírus no organismo, avança um novo estudo, publicado esta quarta-feira na revista Journal of the American Medical Association (conhecida como JAMA).
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As células que revestem o interior do nariz das crianças (que podem ser a porta de entrada do novo coronavírus) têm uma quantidade menor do que as dos adultos de receptores ECA-2, que permitem a entrada do vírus no organismo, avança um novo estudo, publicado esta quarta-feira na revista Journal of the American Medical Association (conhecida como JAMA).
Muito se tem teorizado sobre o papel das crianças na transmissão do novo coronavírus. Os dados mostram que há menos crianças infectadas e os especialistas garantem que, além disso, uma grande parte das crianças com covid-19 apresenta sintomas mais leves do que os adultos — embora tenham sido também detectados em crianças casos de reacção inflamatória rara que pode estar associada à covid-19.
O novo estudo, realizado por uma equipa de investigadores norte-americanos, confirma agora que a quantidade destes receptores vai aumentando com o avançar da idade. A equipa analisou 305 amostras de tecido nasal, que estavam preservadas no instituto de investigação do Hospital Monte Sinai, em Nova Iorque, retiradas entre 2015 e 2018 a pessoas entre os 4 e 60 anos.
Os autores chegaram à conclusão que a quantidade existente de receptores ECA-2 varia com a idade, sendo mais baixa em crianças com menos de dez anos, o que poderá “ajudar a explicação por que a covid-19 é menos predominante em crianças”.
No entanto, os próprios autores admitem que o facto de não terem sido recolhidas e analisadas amostras de idosos, o grupo etário mais afectado pelo novo coronavírus, é uma limitação do trabalho.
Cristina Calvo Rey, porta-voz da Associação Espanhola de Pediatria, acredita que esta pode ser uma explicação “muito plausível” para o facto de haver menos casos de covid-19 em crianças, acrescentando que este estudo “pode contribuir perfeitamente” para esclarecer esta questão. Porém, a especialista crê que a razão pela qual as crianças aparentemente são menos afectadas pelo novo coronavírus “é provavelmente multifactorial”, diz ao diário El País.
No início deste mês, Maria João Brito, pediatra infecciologista do Hospital Dona Estefânia, explicou ao PÚBLICO que “o vírus para se ligar à célula respiratória tem de ter um receptor” e que as crianças têm “esses receptores em menor número do que os adultos”. Além disso, segundo a especialista, “as crianças têm uma imunidade mais forte, a chamada imunidade inata, que vai desaparecendo ao longo da vida e que é uma imunidade que também é mais capaz de combater os vírus”. Uma outra explicação poderá estar relacionada com o facto de “as crianças fazerem muitas infecções virais”: “elas contactaram com outros vírus que circulam habitualmente e, portanto, talvez o facto de haver outros vírus a competir possa fazer com que as crianças se infectem menos”.
Cristina Calvo Rey acrescenta ao El País que “as crianças estão muito habituadas a entrar em contacto com vírus, como outros coronavírus e enterovírus, e podem ter desenvolvido algum tipo de imunidade cruzada”. Já Cristóbal Coronel, da Sociedade Espanhola de Pediatria de Atenção Primária, sublinha ao mesmo jornal que é preciso ter em conta que nos quadros respiratórios nas crianças, “os mais frequentes, são provocados por um coronavírus”.