Covid-19: Com mais de cinco milhões de casos, desenvolvimento humano está em retrocesso
Desigualdade entre países pobres e ricos gera preocupações, numa altura em que a América Latina regista o maior número diário de casos de covid-19. Estados Unidos, Rússia e Brasil são os países com maior número de casos.
Numa altura em que foi ultrapassada a barreira dos cinco milhões de casos de covid-19, o mundo poderá, pela primeira vez nos últimos trinta anos, estar perante um retrocesso no desenvolvimento humano. O alerta é do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que pede respostas a nível mundial para fazer face aos impactos causados pela pandemia, principalmente nos países mais pobres e desiguais.
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Numa altura em que foi ultrapassada a barreira dos cinco milhões de casos de covid-19, o mundo poderá, pela primeira vez nos últimos trinta anos, estar perante um retrocesso no desenvolvimento humano. O alerta é do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que pede respostas a nível mundial para fazer face aos impactos causados pela pandemia, principalmente nos países mais pobres e desiguais.
Segundo os dados do PNUD, os países com mais recursos contabilizam, em média, 55 camas de hospitais, mais de 30 médicos e 81 enfermeiros por cada 100 mil pessoas. Nos países mais pobres, estes números descem para sete camas, 2,5 médicos e seis enfermeiros.
“Não podemos ter sistemas de saúde que atendam apenas as pessoas que podem pagar. Enquanto as pessoas com menos rendimentos não conseguirem aceder aos serviços de saúde básicos e essenciais, todos estão em risco”, lamentou ao The New York Times Carina Vence, antiga ministra da Saúde do Equador.
A América Latina regista, actualmente, o maior número de casos diários de covid-19 em todo o mundo, representando cerca de um terço dos 91 mil casos confirmados desde o início desta semana, enquanto a Europa e os Estados Unidos foram responsáveis por cerca de 20% dos novos casos, segundo contas da Reuters.
Grande parte destes novos casos tem origem no Brasil, que é, actualmente, o terceiro país no mundo com mais infectados (291.579), atrás dos Estados Unidos e da Rússia. “Não há dúvidas de que o epicentro da pandemia está a mudar-se para o Brasil, onde encontrará uma população muito vulnerável”, afirmou ao Financial Times Alexandre Kalache, ex-alto funcionário da Organização Mundial de Saúde e presidente do Centro Internacional de Longevidade. “Se continuarmos nesta curva, chegaremos às 120 mil mortes. Podemos alcançar os Estados Unidos nas próximas semanas”, alertou.
Covid-19 fomenta desigualdades
O relatório da PNUD alerta também para o facto de a pandemia afectar de forma desigual países ricos e pobres, nomeadamente ao nível do acesso a educação. A organização admite que 60% das crianças com idade para estar na escola primária não estejam a receber educação devido à pandemia.“Há gente que pode trabalhar e estudar a partir de casa, mas nem todos têm essas oportunidades. Metade do planeta não tem acesso à internet”, afirmou Heriberto Tapia, investigador do PNUD, citado pelo El País.
Quanto ao impacto económico da pandemia, o Banco Mundial estima que o coronavírus possa deixar entre 40 a 60 milhões de pessoas na pobreza extrema, particularmente na África subsariana e no Sul da Ásia. Na Índia, a Organização Mundial do Trabalho refere que mais de 400 milhões de pessoas estão em risco de ficar na pobreza, devido ao elevado número de trabalhadores na economia informal.
Segundo Heriberto Tapia, “é muito importante a colaboração internacional” para pelo menos “abrandar o retrocesso” e a disparidade económica e social. “Os países em desenvolvimento não têm capacidade para implementar grandes pacotes de ajuda como os que são aprovados em nações mais ricas. Muito menos para se endividarem”, alertou.
O covid-19 já causou mais de 326 mil mortos no mundo, apesar de o número real poder ser bastante superior, tendo em conta a limitação que muitos países têm para testar a população, além de que que muitos países não contabilizam os óbitos fora dos hospitais. Os Estados Unidos registam o maior número de óbitos – 93.606 -, sendo que mais de metade das mortes foram registadas na Europa. Cerca de dois milhões de pessoas já recuperaram depois de terem estado infectados pelo SARS-CoV-2.
Com Inês Chaíça e Hélio Carvalho