Governo conta com hidrogénio para mobilizar investimentos de sete mil milhões

Governo quer mega projecto de produção de hidrogénio verde em Sines e rede com 50 a 100 postos de abastecimento de veículos a hidrogénio para descarbonizar os transportes de passageiros e mercadorias.

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O ministro Matos Fernandes no final do Conselho de Ministros em que foi aprovada a estratégia para o hidrogénio LUSA/MÁRIO CRUZ

O Governo aprovou esta quinta-feira em Conselho de Ministros, para consulta pública, a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2), na qual deposita grandes expectativas para a dinamização da economia na próxima década. A estimativa é que os projectos relacionados com o hidrogénio sejam capazes de mobilizar, até 2030, investimentos na ordem dos 7000 milhões de euros.

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O Governo aprovou esta quinta-feira em Conselho de Ministros, para consulta pública, a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2), na qual deposita grandes expectativas para a dinamização da economia na próxima década. A estimativa é que os projectos relacionados com o hidrogénio sejam capazes de mobilizar, até 2030, investimentos na ordem dos 7000 milhões de euros.

Destes, cerca de “900 milhões de euros deverão ser apoios públicos ao investimento e produção”, adiantou ao PÚBLICO o ministro do Ambiente e da Acção Climática (MAAC), João Pedro Matos Fernandes.

Estes fundos poderão vir de fontes como “o futuro POSEUR e outras fontes de financiamento comunitário, como o IPCEI [Important Projects of Common European Interest]”, adiantou o governante.

Segundo o ministro, o Governo quer lançar ainda no POSEUR - Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos um aviso de 40 milhões de euros para a produção de gases renováveis (onde se incluem o hidrogénio, mas também o biometano).

Num momento “em que a Europa acordou para o hidrogénio”, em que “os países começaram a falar” no tema e a Comissão Europeia ainda está a preparar a sua estratégia, Portugal apresenta-se com o trabalho de casa já feito. “Fomos o primeiro país a desenvolver uma estratégia nacional para o hidrogénio verde”, destacou o governante.

A EN-H2 enquadra o papel do hidrogénio no sistema energético nacional e vem propor “medidas de acção e metas de incorporação para o hidrogénio nos vários sectores da economia” de modo a contribuir para o objectivo de descarbonizar a economia até 2050.

O grande pilar de todo este “novo ecossistema económico” que o Governo espera começar a dinamizar será, como já refere o Plano Nacional de Energia Clima 2030 (o principal instrumento de política energética e climática nacional do país na próxima década, cuja versão definitiva foi também aprovada esta quinta-feira), um gigantesco projecto de produção de hidrogénio produzido a partir de electricidade renovável (principalmente solar) instalado em Sines.

Este “projecto-âncora à escala industrial de produção de hidrogénio verde” através da electrólise da água do mar poderá representar um investimento total de quatro mil milhões de euros, adiantou Matos Fernandes.

Em Sines, será instalada uma unidade industrial com uma capacidade total em electrolisadores de, pelo menos, 1 Gigawatt (GW), para que a região se posicione com um “importante hub de hidrogénio verde”. A produção deverá iniciar-se em 2022.

Portugal tem várias vantagens competitivas face aos restantes países europeus, salientou Matos Fernandes. “Além dos terrenos e do porto de águas profundas” em Sines, onde se pode alicerçar um grande projecto de exportação (em que o país já tem uma parceria com a Holanda, mas que está aberta à participação de outros Estados-membros), Portugal “tem uma rede de gasodutos preparada numa grande extensão para o transporte de hidrogénio” e a capacidade de produzir electricidade renovável (necessária para a electrólise) “a preços imbatíveis”.

Preços que são “virtualmente impossíveis” de serem conseguidos em países “como a Alemanha e a Holanda”, frisou o ministro, lembrando que quanto mais barata for a electricidade utilizada, menor o custo da produção de hidrogénio.

Os restantes três mil milhões expectáveis de investimento referem-se a todos os outros projectos que o Governo acredita que o hidrogénio irá potenciar. Incluem, por exemplo, as adaptações necessárias aos gasodutos e uma rede de entre 50 a 100 postos de abastecimento a hidrogénio.

Isto porque a descarbonização dos transportes rodoviários de mercadorias e passageiros é outro dos vectores de uma estratégia que quer “promover e apoiar o hidrogénio e os combustíveis sintéticos produzidos a partir de hidrogénio, em complemento com a electricidade e os biocombustíveis avançados”.

Se Sines será o coração da estratégia do país para produzir hidrogénio verde, a ambição é ainda maior. O Governo espera que Portugal tenha, em 2030, uma capacidade de produção de 2 GW alicerçada também “noutros projectos de menor dimensão”.

O ministro deu como exemplo o projecto-piloto que a EDP está a desenvolver na central termoeléctrica do Carregado. Além disso, também as futuras infraestruturas de abastecimento de veículos a hidrogénio deverão ter produção local.

Matos Fernandes sublinhou que “não há nenhum risco de mercado neste investimento” porque “há um largo conjunto de consumidores” em Portugal com capacidade para absorver mais de metade da produção esperada. Deu o exemplo da Galp, cuja refinaria de Sines já hoje é grande consumidora de hidrogénio, mas hidrogénio produzido a partir de hidrocarbonetos.

Lembrou ainda que a Salvador Caetano é fabricante de autocarros movidos a hidrogénio e que os lares portugueses têm capacidade para “substituir até 3% do gás natural que consomem, por exemplo, nos fogões, sem necessitar de nenhum investimento”.

O hidrogénio representa ainda “uma oportunidade para a descarbonização” das indústrias metalúrgica, química, extractiva, do vidro e cerâmica e do cimento. “A descarbonização não pode ser apenas electrificação e a indústria vai continuar a usar gases renováveis”, salientou o ministro do Ambiente.