Se as abelhas desaparecerem, a alimentação humana estará em risco. Hoje é o dia delas
O valor anual dos serviços ecológicos e económicos fornecidos pelas abelhas pode atingir os 528 mil milhões de euros na sua dimensão global.
Nesta quarta-feira comemora-se o Dia Mundial das Abelhas mas o seu zumbido nos campos do Alentejo, assim como noutras regiões do país, é cada vez mais ténue. O fenómeno surge associado à progressiva redução da flora autóctone (esteva, rosmaninho, alecrim, margaças) e ao aumento exponencial do uso de fitofármacos e à ocupação de grandes espaços abertos pelo novo modelo agrícola que está a ser implantado na região.
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Nesta quarta-feira comemora-se o Dia Mundial das Abelhas mas o seu zumbido nos campos do Alentejo, assim como noutras regiões do país, é cada vez mais ténue. O fenómeno surge associado à progressiva redução da flora autóctone (esteva, rosmaninho, alecrim, margaças) e ao aumento exponencial do uso de fitofármacos e à ocupação de grandes espaços abertos pelo novo modelo agrícola que está a ser implantado na região.
Em nota de imprensa divulgada esta manhã, a Quercus destaca o papel destes pequenos insectos como agentes polinizadores à escala global: “Se as abelhas desaparecessem surgiria uma enorme dificuldade em alimentar a actual população mundial”.
O equilíbrio da agricultura, a manutenção de ecossistemas saudáveis e a conservação da biodiversidade passou a assumir contornos cada vez mais decisivos num número crescente de países, sobretudo aqueles onde as culturas intensivas passaram a marcar a agenda económica.
O exemplo de Alqueva é revelador: Os números que vêm publicados no Anuário Agrícola de Alqueva de 2019 referem que o amendoal plantado já se aproxima dos cerca de 12 mil hectares, uma área que necessita da instalação de 120 mil colmeias para assegurar a polinização desta cultura de frutos secos.
“Isto significa que, sem abelhas, grande parte dos produtos agrícolas de que dependemos não existiria, tais como hortícolas, frutos, cereais e forragens para alimentar os animais para consumo humano” assinala a Quercus com uma advertência: “Sem a presença de abelhas no nosso planeta, toda a cadeia alimentar seria seriamente afectada”. O mundo assistiria a uma “enorme perda de biodiversidade, e os ecossistemas entrariam num processo crescente de destruição” com a forte degradação de todos os serviços que estes nos prestam, acrescenta a organização ambientalista.
A Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos (IPBES) realça o peso da função social que as abelhas desempenham, referindo que “o valor anual dos serviços ecológicos e económicos fornecidos pelas abelhas pode atingir os 528 mil milhões de euros” na sua dimensão global.
Pese embora o reconhecimento da sua importância, muitas das espécies de polinizadores, com destaque para as abelhas, têm vindo a desaparecer por todo o mundo como consequência das actividades humanas, sublinha a Quercus.
Estes insectos são particularmente sensíveis ao aquecimento global. Um aumento de temperatura de 1.8ºC a 2.6ºC (o esperado até ao final deste século) poderá ser fatal para as abelhas. Para além disso, especialistas de todo o mundo estão preocupados com o decréscimo das populações das abelhas, “provocado por factores tais como a agricultura intensiva, o uso de pesticidas, a poluição, a introdução de espécies exóticas, entre outros”, observa a organização ambientalista.
Para mitigar o desaparecimento dos pequenos insectos, a Quercus está a dinamizar a Campanha “SOS Polinizadores” desde 2015. Em parceria com o Grupo Jerónimo Martins e a ADERAVIS - Associação para o Desenvolvimento Rural e Produções Tradicionais do Concelho de Avis tem vindo a organizar um ciclo de formações iniciais de apicultura. Estas formações destinam-se sobretudo a não-apicultores que pretendam adquirir algumas colmeias para produção familiar de mel e outros produtos da colmeia destinados ao autoconsumo.