Como viver em segurança? Três profissionais de saúde pública contam como serão as suas vidas
Já se pode ir almoçar fora? E jogar ténis com os amigos? Três profissionais de saúde pública nos EUA partilham as suas opiniões e planos para saídas numa altura em que lojas, serviços e mais espaços públicos começam a reabrir um pouco por todo o mundo.
Com os primeiros passos do desconfinamento surgem também as perguntas sobre como sair de casa em segurança. Apesar de as regras e restrições variem de Estado para Estado, o Washington Post perguntou a três profissionais de saúde pública onde pretendem ir, quais são os locais que vão continuar a evitar, em que se baseiam as suas escolhas, e como é que se vão proteger do novo coronavírus.
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Com os primeiros passos do desconfinamento surgem também as perguntas sobre como sair de casa em segurança. Apesar de as regras e restrições variem de Estado para Estado, o Washington Post perguntou a três profissionais de saúde pública onde pretendem ir, quais são os locais que vão continuar a evitar, em que se baseiam as suas escolhas, e como é que se vão proteger do novo coronavírus.
“Não há nada que não tenha riscos”, afirmou William Petri, professor de doenças infecciosas na Escola de Medicina da Universidade de Virgínia. “Mas é possível medir os riscos… Há uma série de decisões com que as pessoas se vão debater todos os dias”, admitiu o especialista.
Como vão escolher quando sair e até onde ir?
Todos os profissionais contactados pelo Washington Post concordaram que apenas pretendem sair mais vezes de casa quando o número de casos positivos de covid-19 nas suas comunidades começar a diminuir e a tendência se mantiver.
Amanda Castel, uma epidemiologista Escola de Saúde Pública do Instituto Milken da Universidade George Washington, diz que planeia esperar até se verificar na comunidade um conjunto de critérios, entre os quais a queda na percentagem de novos casos de covid-19 durante 14 dias consecutivos.
Mesmo nessa altura, Castel vai ponderar a decisão. “Vou pensar desta forma: é agradável sair, ou preciso de sair?”
Boris Lushniak, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Maryland, disse que vai optar por uma abordagem “moderada”. Embora queira apoiar a economia local, diz que vai “continuar cauteloso do ambiente em redor.”
Regra geral, há três pontos que os especialistas vão considerar antes de sair:
- Se o destino é um espaço fechado ou ao ar livre (ficar no exterior é mais seguro);
- Proximidade a outras pessoas e empregados (é possível manter uma distância de pelo menos 1,8 metros?);
- Duração da saída (quanto mais curta, melhor);
“Eu certamente não me demoraria nestes locais”, admite Amanda Castel.
“Vou estar a olhar para a duração e a intensidade de uma possível exposição”, explica William Petri. “Um almoço muito descontraído num restaurante com pessoas na mesa ao lado é provavelmente mais arriscado do que ir buscar um filtro de óleo à oficina.”
Antes de entrar em qualquer estabelecimento, recomendam verificar:
- Os empregados estão todos a usar máscaras?
- Os empregados conseguem manter distância de 1,8 metros?
- Há gel desinfectante ou outra forma de os empregados desinfectarem facilmente as mãos?
- O número de clientes permite manter uma distância superior a 1,8 metros entre si?
“Se não der para manter a regra dos dois metros de distância, fico de fora”, disse Lushniak.
Outras precauções mencionadas pelos profissionais:
- Transportar gel desinfectante e usá-lo ao entrar e sair de espaços públicos;
- Evitar tocar na cara com as mãos;
- Ir à casa de banho antes de sair de casa, para evitar casas de banho públicas;
- Levar água para evitar ter de usar fontes;
Vão comer em restaurantes?
Amanda Castel diz que não vai optar por uma refeição num restaurante durante algum tempo porque os clientes não podem usar máscara enquanto comem ou bebem. Em vez disso, vai continuar a jantar “fora” através de take-away ou entregas em casa.
Boris Lushniak diz que vai confirmar primeiro se os empregados estão a usar máscaras, quantas pessoas estão no interior do estabelecimento, e quão separadas estão as mesas: “Vai ser mesmo uma questão de perceber como é que grupos de pessoas são controlados.”
Se um restaurante respeitar os requisitos, Lushniak diz que usará a máscara o máximo que puder no estabelecimento para proteger os outros e trará a sua própria caneta para assinar a conta do cartão de crédito.
E idas a cabeleireiros ou barbeiros?
Os três profissionais dizem que pretendem frequentar estes estabelecimentos, mas apenas se os empregados usarem máscara. Para evitar passar mais tempo do que o estritamente necessário nestes locais, os profissionais dizem que vão tentar optar por cortar o cabelo num local ao ar livre, ou lavar o cabelo antes de sair de casa.
Os profissionais de saúde pública também sugerem adiar tratamentos que demorem mais tempo, como pintar o cabelo, para quando o número de novos infectados começar a seguir uma tendência decrescente e assim se mantiver durante um longo período de tempo.
“Entrar e sair é uma estratégia melhor para ambientes fechados”, disse Lushniak.
Castel diz que vai optar por telefonar antes de uma visita a um salão para confirmar quais as precauções em vigor, e se existe a possibilidade de cortar o cabelo no exterior.
Visitas ao centro comercial?
Estar num espaço fechado aumenta o risco, dizem os profissionais, sendo que entrar e sair rapidamente é importante. Se for preciso ir, os profissionais vão tentar optar por horas menos movimentadas, em que existirá menos clientes.
“Se entrarem e existir um murmurinho de movimento no ar, verifiquem o ambiente”, sugere Castel. “As pessoas estão a usar máscaras? Dá para manter o distanciamento social?”
Os profissionais também recomendam evitar tocar na cara e fazer uma higienização constante das mãos, devido ao número de superfícies onde muitas pessoas tocam, incluindo cabides de roupa, terminais de pagamento, e maçanetas nos provadores.
Iriam a uma igreja, sinagoga, mesquita ou outro local de culto?
Amanda Castel optaria por serviços online devido à dificuldade em manter uma distância de segurança em actividades muito frequentadas, especialmente em espaços fechados. Se fosse, Castel diz que seria importante assegurar que mantinha uma distância de pelo menos seis metros dos outros e usaria uma máscara. “Espero que, a esta altura, as pessoas ainda não participem na comunhão”, disse Castel.
Boris Lushniak diz que a sua decisão dependeria do número de participantes, do facto de os crentes estarem a usar máscara e da disponibilidade de gel desinfectante à entrada e saída dos locais de culto.
Já Petri está preocupado com a duração dos serviços religiosos, onde as pessoas se reúnem durante uma hora ou mais. O profissional de saúde sugere basear na decisão na quantidade de pessoas infectadas com o novo coronavírus na comunidade de alguém.
Vão voltar a treinar em ginásios ou participar em aulas de ioga?
“Esses são espaços difíceis”, disse Castel sublinhando as dificuldades em torno do material de exercício que é partilhado. “Desinfectar as superfícies será crítico”, refere.
A profissional diz que se sentiria mais confortável se os próprios sócios a levassem o seu material, como halteres e colchões de ioga.
Lushniak, por seu lado, diz que há um maior risco associado à respiração que se torna mais ofegante devido ao esforço do exercício físico.
O profissional disse que optaria por continuar a treinar ao ar livre, até à fase final do desconfinamento.
Planeiam socializar mais?
Amanda Castel diz que sim, mas só quando se sentir “motivada” para tal, e apenas lá fora. Castel vai transformar pequenas reuniões em eventos do tipo “traga você mesmo”, em que cada pessoa leva a sua própria comida, bebida, pratos, e talheres, de modo a que as pessoas possam permanecer mais de 1,8 metros e evitem tocar nas mesmas superfícies. Luskniak diz que vai socializar apenas em espaços ao ar livre e com menos de dez pessoas, com uma distância de segurança e máscara.
Petri diz que vai voltar a socializar “gradualmente” com um ou dois amigos, mas no exterior, mantendo uma distância de segurança e com máscaras.
Os três admitem que vão evitar socializar com pessoas mais velhas ou que tenham risco acrescido de complicações associadas à covid-19.
Vão à praia?
Como as praias são ambientes ao ar livre, são menos arriscadas, dizem os profissionais. Passeios a pé são preferíveis a banhos de sol porque é mais fácil controlar a proximidade em relação às outras pessoas.
“Se eu fosse [à praia]”, diz Lushniak, “optaria por uma caminhada, e evitaria estender a toalha”.
Os profissionais acrescentam que fariam uma higienização e lavagem das mãos assim que deixassem a areia.
E desportos ar livre, como golfe ou ténis?
Todos disseram que optariam já por estas actividades, mas com precauções, como optar por partidas com pessoas que vivem na mesma casa. Qualquer outra pessoa deve manter uma distância de segurança e usar os seus próprios tacos e carrinhos de golfe.
Petri diz que apenas jogaria com pessoas da sua casa ou um pequeno grupo de amigos. “Quando menos misturas existirem”, disse, “melhor será.”
Lushniak explicou que “mal pode esperar” para regressar ao campo de ténis, mas só irá jogar com pessoas na sua casa. Também irá desinfectar as suas mãos imediatamente depois de jogar caso o campo de ténis esteja contaminado.
Embora ambos os desportos sejam mais seguros porque as partidas podem ocorrer no exterior, profissionais dizem que limitariam o tempo que passam perto de outras pessoas.
De acordo com Castel, “Não deveriam estar a ir ao campo de golfe, e beber um copo depois.”