Plataforma Cuidar de Quem Cuida já fez mais de 100 consultas

Desde dia 15 de Março já foram dadas mais de 100 consultas de psiquiatria à distância através da plataforma Cuidar de Quem Cuida, um dos 19 projectos eleitos pela bolsa Gulbenkian Soluções Digitais Covid-19.

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Desde meados de Março, que já foram realizadas 103 consultas de psiquiatria urgentes a profissionais de saúde através da plataforma Cuidar de Quem Cuida, criada há cerca de dois meses para oferecer apoio gratuito à distância na área da saúde mental aos profissionais em instituições na linha da frente da covid-19. São os enfermeiros que mais pedem ajuda seguidos dos médicos, mas também há contactos de profissionais na área de farmacêutica, psicologia e nutrição.

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Desde meados de Março, que já foram realizadas 103 consultas de psiquiatria urgentes a profissionais de saúde através da plataforma Cuidar de Quem Cuida, criada há cerca de dois meses para oferecer apoio gratuito à distância na área da saúde mental aos profissionais em instituições na linha da frente da covid-19. São os enfermeiros que mais pedem ajuda seguidos dos médicos, mas também há contactos de profissionais na área de farmacêutica, psicologia e nutrição.

O projecto faz parte do Centro de Medicina Digital P5 (P5), uma iniciativa da Escola de Medicina da Universidade do Minho que desenvolve aplicações de tecnologia na área da saúde. Desde Abril que a plataforma Cuidar de Quem Cuida é um dos 19 projectos financiados pela Gulbenkian Soluções Digitais Covid-19, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian com o apoio da EDP, que junta 200 mil euros para soluções digitais que promovem a mitigação dos efeitos do novo coronavírus em Portugal.

Uma das grandes dificuldades entre profissionais de saúde é adaptação à nova realidade numa altura em que o trabalho não pára.

“Comecei a ver colegas sobrecarregados logo no início da pandemia. Mesmo quem não trabalha directamente com os infectados foi obrigado a uma grande mudança de rotina”, partilha com o PÚBLICO Lídia Sousa, uma das 253 profissionais voluntárias actualmente registadas na plataforma do P5.

O serviço online, a funcionar desde dia 15 de Março, trata-se de um dos vários exemplos de telemedicina que surgiram em Portugal devido às medidas de contenção social. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a telemedicina consiste no uso de comunicações electrónicas e tecnologias da informação para fornecer serviços médicos quando os participantes estão em locais diferentes. Deste modo, a plataforma Cuidar de quem Cuida é uma forma rápida de profissionais de saúde obterem ajuda sem risco de contágio ou stress adicional – uma das maiores queixas dos profissionais.

“Chegam-me contactos de pessoas que sentem que não estão a conseguir lidar com o aumento da ansiedade e stress. Muitos também tiveram de sair das suas casas e estão com muitas saudades da família”, explica Lídia Sousa, que tem agendado as sessões de videoconferência no P5 para o final da tarde, depois do dia de trabalho.

Quando necessário, os casos são reencaminhados para apoio psicológico adicional, também gratuito e também à distância. Até agora, o P5 tem usado o apoio da Gulbenkian — dez mil euros, ao todo — para suportar os custos de alojamento da plataforma online, trabalhar em actualizações do serviço e divulgá-lo junto dos profissionais de saúde. Há também uma aplicação móvel, para Android e iOS, em fase de testes.

“Desde o arranque, fomos contactados por cerca de 70 profissionais de saúde à procura de ajuda, mas têm existido várias consultas de follow-up”, detalha Pedro Morgado vice-presidente da Escola de Medicina Digital. A procura foi maior no começo, com 20 pedidos de consulta feitos um dia após o lançamento, mas Morgado antecipa “um novo boom" se o número de infectados voltar a aumentar. 

Para marcar uma consulta, os profissionais interessados têm apenas de preencher um formulário com o contacto preferencial, horário, área em que trabalham, e o distrito de onde vêm — o primeiro critério de alocação é a disponibilidade de um psiquiatra para ajudar rapidamente e o segundo é tratar-se de um médico que trabalhe numa instituição longe do distrito do utente do P5.

Lídia Sousa acredita que este apoio continuará a ser necessário muito depois do retorno à normalidade. “É provável que continue a ser preciso ajudar profissionais na linha da frente meses depois da crise da covid-19, por exemplo devido a stress pós-traumático que não acaba com o final do surto”, reconhece a psiquiatra, ressalvando, no entanto, que para muitos “o aumento de sentimentos negativos como a tristeza, a ansiedade e o medo é normal” e “e irá resolver-se naturalmente com tempo e apoio do núcleo familiar.”

Além da plataforma Cuidar de Quem Cuida, o P5 também disponibiliza uma linha de apoio psicológico, por telefone, para a comunidade académica da Universidade do Minho, e residentes nos municípios de Braga e de Guimarães.