Vinte anos e a Fugas está aqui para as curvas
Longa vida à Fugas e obrigada, em nome de toda a equipa, por estar desse lado todas as semanas, todos os dias. E por aceitar que o guiemos sempre por bons caminhos
Gosto de pensar (e de dizer) que ainda sou nova, mas, agora que olho para trás, lembro-me bem da animação que ia pela redacção do PÚBLICO no ano 2000, quando o Manuel Carvalho, o David Lopes Ramos e o Aníbal Rodrigues andavam a congeminar um novo projecto editorial. O Fugas chegou às bancas a 21 de Maio desse mítico ano 2000 e habituei-me, sábado após sábado, a devorar as reportagens de viagens pelo mundo, os relatos de passeios incríveis em Portugal e as suculentas críticas gastronómicas, que me faziam crescer água na boca e me ensinaram palavras que nunca tinha ouvido na vida. Tassalho é uma dessas palavras – era assim o David Lopes Ramos, que continua a fazer-nos muita falta.
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Gosto de pensar (e de dizer) que ainda sou nova, mas, agora que olho para trás, lembro-me bem da animação que ia pela redacção do PÚBLICO no ano 2000, quando o Manuel Carvalho, o David Lopes Ramos e o Aníbal Rodrigues andavam a congeminar um novo projecto editorial. O Fugas chegou às bancas a 21 de Maio desse mítico ano 2000 e habituei-me, sábado após sábado, a devorar as reportagens de viagens pelo mundo, os relatos de passeios incríveis em Portugal e as suculentas críticas gastronómicas, que me faziam crescer água na boca e me ensinaram palavras que nunca tinha ouvido na vida. Tassalho é uma dessas palavras – era assim o David Lopes Ramos, que continua a fazer-nos muita falta.
Nessa altura eu era realmente nova e costumava dizer isto muitas vezes: quando for grande, quero ser o Luís Maio. Para os mais novos da redacção à época, a canalha, no fundo, ele tinha o melhor trabalho do mundo. Viajava muito e depois contava-nos tudo – era fácil sentir uma certa inveja, claro. Para quem não se lembra, nessa altura viajar não era tão fácil como passou a ser depois, as low cost eram uma miragem, os hostels idem e o Airbnb ainda não tinha nascido – e a canalha ganhava pouco.
Depois a gente cresce e percebe que, afinal, nem tudo são rosas numa vida que nos obriga a fazer as malas constantemente e que viajar para contar aos outros não é exactamente o mesmo que viajar para nós próprios. Ainda assim, quando, em 2008, tive a imensa sorte de integrar a equipa da Fugas, sucedendo ao Pedro Garcias, que tinha sido o editor nos cinco anos anteriores, senti que tinha ganho o Totoloto. A esta altura, já o Fugas era a Fugas – o projecto inicial tinha crescido e evoluído para uma revista que tratava as viagens, os passeios, os hotéis, os restaurantes, os bares, os vinhos, os automóveis com mais profundidade.
Ao longo destes anos todos, planeei mais de 600 números da Fugas. Não o fiz sozinha, é evidente. Tive sempre comigo uma equipa fantástica: os jornalistas da casa, os colaboradores mais ou menos habituais, os fotojornalistas, os designers gráficos – e a nossa Lucinda Vasconcelos, secretária da Fugas desde a primeira hora, sem ela não somos ninguém. Em 2011 a Fugas lançou o seu primeiro site e eu ganhei um co-editor e um amigo para a vida: o Luís J. Santos. Ainda cá estamos os dois e todos os dias nos divertimos muito a fazer a Fugas.
Cometemos muitos erros, naturalmente, mas também temos muitos motivos de orgulho: sentimos muitas vezes que contribuímos realmente para a felicidade das pessoas, sejam aquelas que viajam através dos nossos olhos, sejam aquelas cujas boas práticas damos a conhecer todas as semanas, todos os dias. Agora que fazemos 20 anos, vinte!, abrimos os álbuns de memórias e recordamos algumas das melhores experiências que tivemos à boleia da Fugas.
A edição deste sábado, caro leitor, não é exactamente aquela que tínhamos previsto. Desde o final do ano passado que andávamos a pensar nos 20 anos da Fugas, tínhamos um mundo de ideias na cabeça, mas depois aconteceu-nos isto. O mundo está parado à conta de uma pandemia, o mundo das viagens ainda mais. E nós, porque temos 20 anos, já temos idade para ter juízo, assumimos há mais de dois meses a nossa responsabilidade: não sabemos até quando isto vai durar, ninguém sabe, pelo que não vale a pena enfiar a cabeça na areia e viver no mundo da fantasia. Desde Março que não há na Fugas uma reportagem que seja, ainda que de forma ténue, um convite a viajar. Em consciência, não o podemos fazer – e até temos várias reportagens prontas a servir.
Tivemos que nos adaptar, que nos reinventar, que pôr à prova a nossa criatividade e resiliência. Essa decisão difícil, de pormos em stand-by tudo aquilo que nos dê vontade de ir ganhar o mundo, estendeu-se, de forma natural, a esta edição que queríamos especialíssima. Está mais contida do que todos desejaríamos, mas está feita à medida das nossas convicções do momento. Por agora, ficamos em casa, por Portugal, e quando pudermos teremos, de novo, muito mundo por desbravar. Com outras preocupações, certamente: basta ler o texto da Andreia Marques Pereira, que antecipa, através de várias conversas com especialistas, como deverão ser as nossas viagens depois disto tudo.
De resto, os 20 anos da Fugas poderão ser como o Natal. Quando isto tudo passar, teremos certamente muito bom material para partilhar. Até lá, longa vida à Fugas e obrigada, em nome de toda a equipa, por estar desse lado todas as semanas, todos os dias. E por aceitar que o guiemos sempre por bons caminhos.