Mais de 70% dos profissionais de saúde com níveis médios ou elevados de burnout

Profissionais de saúde dizem estar cansados, mas consideram que a disponibilidade de equipamentos de protecção individual melhorou ao longo da pandemia, conclui barómetro da Escola Nacional de Saúde Pública.

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rui gaudêncio

“Quase três em cada quatro (72,2%) profissionais de saúde apresenta níveis médios ou elevados de exaustão emocional e valores semelhantes de burnout.” Esta é uma das conclusões do questionário de Saúde Ocupacional do Barómetro Covid-19, projecto de investigação da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). Os profissionais de saúde dizem estar cansados, mas consideram que a disponibilidade de equipamentos de protecção individual melhorou ao longo da pandemia.

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“Quase três em cada quatro (72,2%) profissionais de saúde apresenta níveis médios ou elevados de exaustão emocional e valores semelhantes de burnout.” Esta é uma das conclusões do questionário de Saúde Ocupacional do Barómetro Covid-19, projecto de investigação da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). Os profissionais de saúde dizem estar cansados, mas consideram que a disponibilidade de equipamentos de protecção individual melhorou ao longo da pandemia.

A informação foi recolhida através de um inquérito online. A participação é voluntária e anónima, “não se podendo em caso algum generalizar os resultados obtidos”. O terceiro e último questionário recolheu, entre os dias 30 de Abril e 8 de Maio, 532 respostas. No total participaram de 5365 profissionais de saúde. O primeiro questionário foi feito entre 2 e 10 de Abril.

A ENSP refere que os dados recolhidos neste último inquérito revelam “um agravamento dos já elevados níveis reportados”. Os questionários anteriores já mostravam o impacto a nível psicológico que o contacto com doentes ou casos suspeitos de covid-19 tinha: “quase três quartos dos respondentes apresentam níveis de ansiedade elevados ou muito elevados como resposta às situações de stress que vivenciam” e que “14,6% tinham mesmo níveis de depressão moderados ou elevados”.

Segundo os resultados, 42,6% dos profissionais disse que dorme menos de seis horas por dia diárias, valores semelhantes aos obtidos no segundo questionário. E 58% disse ter uma sensação de fadiga intensa ou muito intensa, “testemunha uma situação próxima da exaustão ou ‘esgotamento'”.

Sobre a carga de trabalho, “destaca-se que 30,6% considera o seu nível de fadiga semelhante ao da semana anterior, enquanto 45,3% apresentaram maiores níveis de fadiga e 12,7% fadiga extrema”. A ENSP refere que 48,8% dos profissionais de saúde não praticou exercício físico na última semana e que apenas 16,5% disseram fazê-lo todos ou quase todos os dias.

Dos profissionais de saúde que participaram nos três questionários, mais de um terço (36,7%) trabalha em área dedicada aos doentes covid-19 (1937 profissionais) e “51,9% trabalhou na última semana oito ou mais horas diárias (18,2% dos quais mais de 12 horas diárias)”.

Um terço não faz automonitorização de sintomas

Ainda de acordo com o resultado dos vários inquéritos, “um terço (33,3%) dos 5365 profissionais de saúde não realiza a automonitorização diária”. O que “deveria ser a regra na perspectiva quer da protecção da saúde do profissional de saúde, quer da redução da probabilidade do risco de contágio”. Cerca de 13% dos profissionais de saúde inquiridos foi caso suspeito e 80 dos 523 trabalhadores testados tiveram um teste positivo. “Testes esses realizados mais de 3 dias após a suspeita em quase um terço dos casos (30,1%)”, refere a ENSP.

São “resultados reveladores da morbilidade aumentada nestes grupos profissionais em relação à população geral, mesmo com o recurso a equipamentos de protecção individual e, igualmente, a insuficiente rapidez no esclarecimento das situações suspeitas”, diz, no comunicado, António Sousa Uva, coordenador científico do estudo.

Sobre a disponibilidade de equipamentos de protecção individual (EPI), para mais de metade dos profissionais inquiridos foi melhor ou muito melhor na última semana do que em relação às anteriores. “Na opinião da grande maioria dos respondentes (77,8%) os EPI são adequados ou muito adequados.”

Quanto a serviços de saúde ocupacional ou de saúde e segurança do trabalho, 36% dos profissionais considerou que no local onde trabalha não existe um serviço que realize a gestão dos riscos profissionais, designadamente do risco de infecção por covid-19. Para António Sousa Uva, “tal devia constituir motivo de reflexão profunda”. O investigador salienta que a protecção e a promoção da saúde de quem trabalha faz parte das boas práticas e que trabalhar em boas condições de saúde e segurança “permite mesmo aumentar a produtividade e diminuir o absentismo”.