Novo coronavírus detectado em dois cães em Hong Kong. Animais não desenvolveram doença
Os dois cães, de idades e raças diferentes, foram contagiados pelos donos, que também estavam infectados. Não há provas de que os cães possam transmitir o vírus a outros animais ou de volta para os humanos.
Quando o novo coronavírus é detectado num residente de Hong Kong, a pessoa é hospitalizada e os chamados “contactos próximos” são colocados em quarentena em centros. Para quem tem animais de estimação, há a opção de deixar os cães e gatos em isolamento e ao cuidado do Departamento de Agricultura, Pescas e Conservação (AFCD, na sigla inglesa). Durante este isolamento, o AFCD procede à recolha de amostras destes animais, não só saber se estão infectados com o SARS-CoV-2, mas também para determinar quais os melhores métodos de tratamento de animais durante a quarentena, incluindo o momento em que os bichos regressam aos cuidados dos donos.
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Quando o novo coronavírus é detectado num residente de Hong Kong, a pessoa é hospitalizada e os chamados “contactos próximos” são colocados em quarentena em centros. Para quem tem animais de estimação, há a opção de deixar os cães e gatos em isolamento e ao cuidado do Departamento de Agricultura, Pescas e Conservação (AFCD, na sigla inglesa). Durante este isolamento, o AFCD procede à recolha de amostras destes animais, não só saber se estão infectados com o SARS-CoV-2, mas também para determinar quais os melhores métodos de tratamento de animais durante a quarentena, incluindo o momento em que os bichos regressam aos cuidados dos donos.
Foi desta forma que uma equipa de investigadores de Hong Kong descobriu que, dos 15 cães de famílias com casos confirmados de covid-19 colocados em quarentena até 27 de Março, dois tiveram resultados positivos e estavam infectados com o novo coronavírus. Os resultados desta investigação foram publicados na última edição da revista científica Nature.
A primeira infecção foi detectada num spitz-alemão macho, com 17 anos, que tinha um elevado número de problemas subjacentes, incluindo um sopro cardíaco de grau II, hipertensão pulmonar e sistémica, doença renal crónica, entre outras, além da idade já avançada. A dona, uma mulher de 60 anos, desenvolveu sintomas da covid-19 a 12 de Fevereiro de 2020 e foi diagnosticada 12 dias depois, a 24 de Fevereiro. Tanto a empregada doméstica como outro membro da família foram mais tarde confirmados como infectados. O cão foi transferido para uma instalação administrada pelo AFCD a 26 de Fevereiro e foram recolhidas amostras nasais, orais, rectais e ainda fecais. Nos dias seguintes, e em seis ocasiões diferentes, outras amostras adicionais para a detecção de vírus foram recolhidas.
“Durante o período de quarentena, o cão permaneceu radiante e em alerta e sem nenhuma mudança óbvia na situação clínica”, detalham os investigadores.
O segundo caso de infecção foi registado num pastor-alemão, com dois anos e meio, e sem outros problemas de saúde associados. O dono desenvolveu sintomas a 10 de Março e foi diagnosticado no dia 17 desse mês. Foram recolhidas as mesmas amostras que no caso do spitz-alemão, e o animal teve testes positivos em duas ocasiões. No entanto, um segundo cão que vivia na mesma casa do pastor-alemão foi testado por diversas vezes e os resultados foram sempre negativos.
“Os nossos resultados demonstram uma infecção por SARS-CoV-2 em dois cães. As provas sugerem que as transmissões de humano para animal podem ocorrer. Não temos informações sobre se o vírus pode causar sintomas graves em cães, mas não observamos nenhum sinal específico durante o período em que estiveram infectados”, concluem os investigadores.
Grupo não sabe se animais transmitem vírus
O spitz-alemão morreu dois dias depois de sair do isolamento, algo que o grupo crê ter sido causado pelas doenças subjacentes que já tinha. No entanto, o responsável pelo animal não permitiu que fossem realizados mais exames, logo os investigadores não podem ter a certeza desta tese. E existem ainda outros dados que o grupo não conseguiu concluir. “Algo que não sabemos é se os cães infectados podem transmitir o vírus para outros animais ou de volta para os seres humanos”, lê-se nas conclusões do estudo, onde também é referido que o facto de o cão que vivia com o pastor alemão (era de uma raça diferente) não ter sido infectado sugere que a transmissão não ocorreu entre os dois dentro da mesma casa.
Estes dois casos em Hong Kong demonstram que os cães podem adquirir a infecção em habitações com humanos infectados, mas que não desenvolvem a doença causada pelo vírus, a covid-19. Outra investigação mencionada no estudo dá conta de que a análise a 4000 amostras de cães, gatos e cavalos de locais onde a transmissão comunitária de SARS-CoV-2 estava a ocorrer entre humanos não conseguiu detectar quaisquer resultados positivos. Isto pode sugerir que o vírus não circula amplamente em animais de companhia. “Este estudo não investigou especificamente cães de doentes com covid-19, como é o caso do nosso”, lembram os investigadores.
“Estas descobertas e os resultados de testes em animais durante o surto de SARS, em 2003 podem ter implicações para a gestão dos cuidados dos animais pertencentes a pessoas que desenvolvem a infecção por SARS-CoV-2. Não existiam provas de que os animais domésticos tivessem algum papel na transmissão do surto de SARS. No entanto, e do ponto de vista da precaução, os animais de estimação pertencentes a casos positivos de covid-19 podem ser isolados e testados, como está a ser feito na Região Administrativa Especial de Hong Kong”, sugerem os investigadores.
Do que se sabe até agora sobre o novo coronavírus, continuam a não existir provas de que os cães, gatos ou outros animais de companhia — ou selvagens — possam transmitir o novo coronavírus a humanos, apesar de existirem casos de infecção registados em gatos e tigres.