Continua o desconfinamento. Números não justificam passos atrás

Durante a reunião, os especialistas fizeram a leitura dos (poucos) números dos últimos 15 dias em Portugal e no estrangeiro.

Fotogaleria

Na sexta reunião que nesta quinta-feira de manhã voltou a levar políticos e parceiros sociais ao Infarmed, os peritos e epidemiologistas traçaram o retrato do período de situação de calamidade correspondente à primeira fase de desconfinamento. Foi uma reunião mais completa, apesar de mais curta do que o habitual, sem surpresas a registar. E isso é uma boa notícia. O número principal a registar é 0,98 e diz respeito ao indicador R (número médio de contágios causado por cada pessoa infectada​ pelo coronavírus).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Na sexta reunião que nesta quinta-feira de manhã voltou a levar políticos e parceiros sociais ao Infarmed, os peritos e epidemiologistas traçaram o retrato do período de situação de calamidade correspondente à primeira fase de desconfinamento. Foi uma reunião mais completa, apesar de mais curta do que o habitual, sem surpresas a registar. E isso é uma boa notícia. O número principal a registar é 0,98 e diz respeito ao indicador R (número médio de contágios causado por cada pessoa infectada​ pelo coronavírus).

Foi o Presidente da República que, logo à saída, deu a conhecer o valor médio do R efectivo em todo o país (0,98), sendo mais elevado em Lisboa do que no centro e mais elevado no centro do que na zona norte. “Os números são de confiança”, confirmou depois José Luís Carneiro, do PS. “Os indicadores são positivos (...). Este contágio está sob controlo das autoridades de saúde”, concluiu.

Fontes contactadas pelo PÚBLICO repetem que a reunião não teve muitas novidades, uma vez que ainda não há dados suficientes sobre os efeitos dos primeiros tempos de desconfinamento em Portugal, e que as duas palavras mais importantes ditas durante o encontro foram “confiança” e “determinação"

Questionado sobre a possibilidade de haver ou não passos atrás, o Presidente da República disse apenas que “havia um calendário”, que “está apresentado”. “Continua a sintonia entre quem tem de decidir e os portugueses, que têm nas suas mãos a decisão final”, registou.

O Presidente da República disse ainda que foram apresentados vários dados que indicam que o desconfinamento foi muito contido, porque os portugueses foram sensíveis ao que lhes foi pedido. “Foi confirmada a tendência (decrescente) de casos de internamento e de internamento em cuidados intensivos e também de letalidade. Como um todo, tem havido boa comunicação entre as autoridades sanitárias e os portugueses”, disse Marcelo.

Números menos bons

Três dados menos bons foram apresentados durante a reunião que serviu para fazer comparações com outros países:

De acordo com um inquérito levado a cabo pela Escola Nacional de Saúde Pública, 20% dos inquiridos referiram ter dificuldade de acesso a máscaras por causa do seu preço. “É um sinal da vulnerabilidade”, disse o deputado bloquista Moisés Ferreira, repetindo que “o preço deve ser tabelado e não só a margem de lucro”, e pedindo que se reforce a distribuição à população.

Se Portugal tivesse mantido o SNS em pleno, teriam faltado 352 camas de cuidados intensivos. É um investimento que tem de ser feito no próximo Inverno”, exigiu o social-democrata Ricardo Baptista Leite, já do lado de fora da reunião, sublinhando também que será preciso encomendar já a vacina da gripe.

A percentagem de portugueses que perderam os seus rendimentos, total ou parcialmente (40%), levou o deputado André Ventura (Chega) a dizer que não há a confiança que muitos referiram à saída da reunião. “Não, não estamos numa situação de confiança”, disse, pedindo medidas de apoio para suportar estas pessoas. Sobre este assunto, outro responsável partidário ouvido pelo PÚBLICO acrescentou que foi demonstrado que as consequências do vírus e da doença são assimétricas na população: os mais velhos morrem mais, mas são os mais jovens que mais perdem rendimento.

Porque os dados portugueses ainda são provisórios, a reunião demorou-se na análise de casos internacionais, como aliás disse Marcelo Rebelo de Sousa: “Da experiência de outros países, a primeira conclusão provisória é de que o R, indicador de transmissão, não mudou muito com o desconfinamento. O desconfinamento não teve consequências em termos de surto.” Contudo, explicou o Presidente, ainda não passaram os 15 dias devidos (seis de incubação e oito de reporte). 

Estão já previstas mais duas reuniões destes peritos: uma no início e outra na terceira semana de Junho.