Magistrados investigam a mensagens de ódio a italiana refém de grupo jihadista

A conversão ao islão de Silvia Romano provocou uma onda de ataques contra a refém que regressou no domingo a Itália.

Foto
Silvia Romano: a rua onde vive, em Milão, está a ser patrulhada por polícia MARCO OTTICO/EPA

Magistrados italianos abriram uma investigação a uma série de mensagens enviadas a uma trabalhadora humanitária italiana que foi raptada no Quénia e esteve mais um ano refém de um grupo islamista. Quando se soube que se tinha convertido ao islão, a italiana recebeu uma série de mensagens de ódio e ameaças. A polícia está a patrulhar a rua em que vive Romano, em Milão.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Magistrados italianos abriram uma investigação a uma série de mensagens enviadas a uma trabalhadora humanitária italiana que foi raptada no Quénia e esteve mais um ano refém de um grupo islamista. Quando se soube que se tinha convertido ao islão, a italiana recebeu uma série de mensagens de ódio e ameaças. A polícia está a patrulhar a rua em que vive Romano, em Milão.

Silvia Romano estava a trabalhar num orfanato numa aldeia no Sudeste do Quénia quando foi levada por homens armados em Novembro de 2018. Foi levada para a Somália e acredita-se que tenha ficado em poder do grupo jihadista Al-Shabaab, um dos mais perigosos de África.

Quando regressou a Itália no domingo depois de todo este tempo, Romano, 24 anos, foi recebida pelo primeiro-ministro, sorrindo. Tinha o cabelo tapado por um lenço.

Ainda que não tenha falado em público sobre o que passou, a sua família confirmou que durante o tempo em cativeiro Romano se converteu ao islão, e mudou o primeiro nome para Aisha.

Romano disse não ter sido forçada a converter-se, segundo os relatos dos jornais, decidindo fazê-lo de livre de vontade depois de ler o Corão. Também disse que não foi maltratada pelos seus captores.

A notícia da sua conversão provocou reacções em alguns círculos.

“Islâmica e feliz. Silvia, a ingrata”, titulava na segunda-feira Il Giornale.

Um político da província de Treviso escreveu num post no Facebook dizendo que Romano devia ser enforcada. O post foi rapidamente apagado.

Igreja condena críticas

“Imaginem os terroristas islâmicos. Ficaram com o dinheiro que conseguiram cometendo um acto criminoso, e ‘venceram’ a batalha cultural em nome da conversão islâmica”, disse Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita Liga.

O Governo italiano terá pago um resgate de 1,5 milhões de euros, segundo alguns media do país. Seguindo a política em casos destes, o Executivo não comentou. Um porta-voz do grupo Al-Shabaab disse ao diário La Repubblica que houve pagamento de resgate, mas declinou comentar quanto.

A Itália é um país de maioria católica e a Igreja foi calorosa ao receber de volta Romano: “Nesta altura, todos nos sentimos como se ela fosse a nossa própria filha”, disse o cardeal Gualtiero Bassetti.

O diário do Vaticano Osservatore Romano defendeu que as críticas à antiga refém mostram “um olhar desumano”.