Lucro da CGD cai 32%, moratórias já valem 4,7 mil milhões
Banco público perdeu rentabilidade no primeiro trimestre do ano como consequência da quebra de actividade na última quinzena de Março. Paulo Macedo vai propor a não distribuição de dividendos ao Estado.
O banco liderado por Paulo Macedo fechou os primeiros três meses de 2020 com lucros de 86,2 milhões de euros, uma queda de 39,9 milhões ou 32% face ao mesmo período do ano anterior. O rácio de rentabilidade ROE ficou-se pelos 4,5%, uma perda de 2,1 pontos percentuais que afasta a Caixa Geral de Depósitos (CGD) de uma das metas-chave do plano negociado com Bruxelas (9% no final deste ano).
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O banco liderado por Paulo Macedo fechou os primeiros três meses de 2020 com lucros de 86,2 milhões de euros, uma queda de 39,9 milhões ou 32% face ao mesmo período do ano anterior. O rácio de rentabilidade ROE ficou-se pelos 4,5%, uma perda de 2,1 pontos percentuais que afasta a Caixa Geral de Depósitos (CGD) de uma das metas-chave do plano negociado com Bruxelas (9% no final deste ano).
No início da conferência de imprensa de divulgação de contas trimestrais, realizada nesta quarta-feira, Paulo Macedo declarou que o resultado reflecte um reforço de imparidades de crédito e provisões para garantias bancárias de 60 milhões de euros, uma medida que visa já acomodar os efeitos da pandemia de covid-19 na economia e, por consequência, nas suas contas.
Questionado sobre qual teria sido o resultado da Caixa sem o efeito de covid, Paulo Macedo disse que “estaria em linha com o do ano passado (126 milhões)”, sublinhando que o impacto pandémico fez-se sentir sobretudo nos últimos 15 dias de Março.
Neste contexto, o antigo ministro da Saúde informou que vai propor ao accionista Estado a não distribuição de dividendos, com vista a incorporar os resultados em reservas de forma a garantir a solidez do banco, cujos rácios estão neste momento acima das metas definidas pelas autoridades, superando a média em Portugal e na Europa, alega o banco público.
Assim, o rácio de capital total, que mede a solidez da instituição, ficou em 19%, excedendo largamente o nível mínimo exigido pelo Banco de Portugal (BdP).
O presidente da Caixa, referindo ainda que os primeiros meses de actividade reflectem já os impactos iniciais da pandemia na economia portuguesa, sublinhou que os depósitos de clientes aumentaram em 1,7 mil milhões de euros, fruto da dinâmica da operação em Portugal.
Já o stock de crédito, excluindo o negócio da construção e do imobiliário, entre Janeiro e Março, subiu 2,1 %, cerca de 186 milhões de euros. A nova produção atingiu os 1,2 mil milhões de euros.
O crédito à habitação cresceu 13%, ainda que se tenham observado sinais de abrandamento deste negócio.
Em termos de liquidez, a situação da Caixa é hoje diferente da que existia em 2009, última na crise financeira global. Há 12 anos, o rácio de transformação de depósitos em crédito era de 121%, indicador que actualmente é de 72%. O que significa que a Caixa, neste momento, recebe mais depósitos do que concede de empréstimos aos clientes. Por outro lado, o rácio de cobertura por liquidez, que devia rondar no mínimo cerca de 100%, estava a 30 de Março em 392% (faceo aos 303,6% de 2019).
Medidas contra a pandemia
No âmbito das medidas para combater os efeitos da pandemia, e no caso específico dos pedidos de moratórias de pagamento das prestações do crédito à habitação, até segunda-feira, a Caixa tinha recebido um total de 38.238 e concedido praticamente 26 mil autorizações, para um total de 2129 milhões de euros. Este montante foi dividido entre a solução proposta pelo Estado (1023 milhões) e a do sector bancário (1080 milhões), ficando o restante alocado à solução inicial da própria CGD.
Já quanto ao crédito a empresas, os pedidos ascenderam a 15.772 e foram aprovados 11.853, representativos de 2,6 mil milhões de euros, o que coloca o total de créditos envolvido nestas moratórias em 4,737 mil milhões de euros.
No que diz respeito às linhas de crédito a empresas com garantias públicas, o número de operações candidatas ascende a 7375 para um total de 1574 milhões de euros, tendo sido já aprovadas 2440 operações no valor total de 734 milhões.
Macedo admite que os sinais económicos apontam para que esta crise seja mais longa e profunda do que a registada após 2008 e defendeu a extensão da moratória pública para particulares (sem custos para o Estado) e para as empresas para além dos seis meses previstos, talvez por mais seis ou doze meses adicionais. E pediu que a decisão do Governo seja rápida, evitando a confusão que se pode gerar em Outubro quando a medida chegar ao fim.
O presidente-executivo da CGD chamou ainda a atenção para o facto de o custo do dinheiro ser hoje, face a 2008, muito mais baixo para as famílias e para as empresas, o que é um dado positivo. E aconselhou que todas as medidas que vierem a ser tomadas pelo Governo, no quadro do combate aos efeitos da pandemia, não ponham em causa as actuais condições a que o Estado se financia no mercado.
“As medidas europeias conseguiram evitar uma quebra no rendimento disponível”, defendeu o presidente da Caixa, notando que o primeiro choque da crise actual foi no consumo, por falta da oferta. E evidenciou que a Europa actuou mais rapidamente do que em 2008, nomeadamente libertando, por exemplo, as famílias de pagar as suas prestações do crédito a habitação.
“Agora precisamos de um pacote europeu para que os Estados não tenham de acrescentar mais dívida à sua dívida”, acrescentou.
Nos primeiros três meses do ano, acederam aos canais digitais da Caixa mais de um milhão de clientes, que mobilizaram mais de 18,5 milhões de euros. Uma evolução que já traduz o quadro de confinamento por força da pandemia. Em Portugal, o número de clientes digitais atingiu 1,74 milhões com contrato com a Caixadirecta.
No mesmo período, mais de 68% das operações efectuadas pelos clientes do grupo estatal decorreram via canais digitais.