Três enfermeiros e 100 pares de sapatos: uma manifestação atípica em Braga
O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses apelou desta forma à “dignificação da carreira”. Na manifestação só estiveram presentes três enfermeiros, mas uma centena fez-se representar por sapatos.
No Dia Internacional do Enfermeiro, uma manifestação em Braga pela valorização da carreira contou com a presença de três enfermeiros e 100 pares de sapatos. A manifestação foi assinalada desta forma porque a larga maioria dos enfermeiros estão na linha da frente do combate à pandemia de covid-19.
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No Dia Internacional do Enfermeiro, uma manifestação em Braga pela valorização da carreira contou com a presença de três enfermeiros e 100 pares de sapatos. A manifestação foi assinalada desta forma porque a larga maioria dos enfermeiros estão na linha da frente do combate à pandemia de covid-19.
Guadalupe Simões, dirigente nacional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), explicou à Lusa que o objectivo foi, mesmo num quadro de constrangimento resultante da covid-19, assinalar o Dia Internacional do Enfermeiro e voltar a colocar na agenda do Governo “todas as questões por solucionar”, com destaque para a valorização da carreira.
“A carreira actual é um retrocesso relativamente às que temos, não permite o desenvolvimento profissional e salarial dos enfermeiros”, referiu. Guadalupe Simões aludiu aos 20 mil enfermeiros cujos pontos não foram contabilizados para efeitos de progressão na carreira. Segundo a dirigente sindical, isto traduz-se em “20 anos de trabalho deitados fora, por parte deste Governo”.
O SEP critica também o facto de a carreira de enfermeiros especialistas não ser valorizada. Além disso, é “inadmissível” a disparidade de pagamento aos enfermeiros infectados com covid-19, com os que têm contrato de trabalho em funções públicas a receberem 100% e os que têm contrato individual de trabalho apenas 75%.
Além do calçado dos enfermeiros, também se viam sapatos dos filhos destes profissionais na manifestação, como uma forma de simbolizar a distância e o afastamento familiar que o risco de contágio do vírus obriga.
Para Guadalupe Simões, é gratificante ouvir a sociedade a classificar como “heróis” os profissionais de saúde e ter o reconhecimento público do ministério da tutela, do Governo e do Presidente da República, mas é também “mais do que justo que isso seja materializado em algo mais”. “Nomeadamente, na questão do risco e da perigosidade da profissão”, sublinhou, lembrando que em Portugal há cerca de 800 enfermeiros infectados com covid-19 e que no mundo já morreram quatro centenas daqueles profissionais.
Actualmente, por causa da pandemia “há uma consciência maior da população sobre o papel dos enfermeiros, mas é preciso que essa consciência também chegue aos governantes, com vista à dignificação da carreira”, disse ainda a dirigente nacional.
O Dia Internacional do Enfermeiro, assinalado todos os anos no dia 12 de Maio, celebra simbolicamente o nascimento de Florence Nightingale, também conhecida como fundadora da Enfermagem Moderna e primeira mulher a receber ordem de mérito.
2020 foi definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no ano passado, como o Ano Internacional do Enfermeiro, precisamente por passarem 200 anos desde o nascimento de Florence Nightingale.