Areal da baía de São Martinho do Porto foi desinfectado com hipoclorito
A associação ambientalista ZERO considera que não há razões para esta desinfecção, especialmente tendo em conta que, com o estado de emergência as praias estiveram desertas.
A Junta de Freguesia de São Martinho do Porto, distrito de Leiria, levou a cabo uma acção de desinfecção do areal da praia com um tractor e uma solução que continha hipoclorito, no início de Maio, avançou o jornal local Gazeta das Caldas.
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A Junta de Freguesia de São Martinho do Porto, distrito de Leiria, levou a cabo uma acção de desinfecção do areal da praia com um tractor e uma solução que continha hipoclorito, no início de Maio, avançou o jornal local Gazeta das Caldas.
A informação foi confirmada ao jornal pelo presidente da Junta, Joaquim Clérigo, que explicou que “o depósito tem 400 litros” e foram usados “três litros de hipoclorito”, ou seja, menos de 1%. O PÚBLICO tentou contactar a Junta de Freguesia de São Martinho do Porto, mas até ao momento não obteve resposta.
A professora do departamento de Engenharia Química da Universidade de Porto Conceição Alvim Ferraz explicou ao PÚBLICO que o hipoclorito de sódio é usado como desinfectante “em concentrações baixas, mas que se for em concentrações elevadas é tóxico”. Confrontada com os níveis de hipoclorito usados na solução segundo declarações do autarca, a docente considera que são valores muito baixos. “Tenho dúvida que tenham algum poder desinfectante”, acrescentou.
Já em Espanha, em Abril, uma praia foi alvo de uma desinfecção: as autoridades locais usaram um desinfectante com 2% de lixívia para limpar o areal de 1,2 quilómetros de Zahara de los Atunes (na província de Andaluzia). Uma ideia que motivou a indignação de associações ambientalistas como a Greenpeace, que considerou a acção um atentado ambiental.
Associação ZERO questiona motivo para desinfecção
Para a associação ambiental ZERO o importante é a acção em si e não tanto a concentração de hipoclorito. “Estamos a falar de uma praia que à partida esteve deserta”, disse Susana Fonseca, membro da direcção da Zero, referindo-se às restrições aplicadas durante o estado de emergência. “De onde veio o vírus para justificar uma desinfecção que o faça desaparecer?”, questionou.
Em Março, uma equipa de cientistas norte-americanos divulgou um estudo que revela que o novo coronavírus pode permanecer activo durante até quatro horas nas superfícies de cobre das moedas, 24 horas em superfícies de cartão e entre dois a três dias nas superfícies de plástico ou de aço inoxidável como as torneiras. Tendo em conta estes dados, a ambientalista considera não haver razão para a acção levada a cabo em São Martinho do Porto. “Do nosso ponto de vista isto nunca devia ter acontecido, nem que fosse com água com sal, não faz sentido nenhum”, acrescentou.
“São produtos que têm um impacto ambiental significativo. Não há razão para as juntas de freguesia gastarem dinheiro [neste tipo de intervenções]”, concluiu.