Creche: que crescimento na época covid-19?
As creches, assim como os lares, jamais são depósitos de seres humanos. É necessário arranjar estratégias para que crianças, pais, educadores de infância, auxiliares estejam todos em segurança.
Toda a situação caótica que a covid-19 veio trazer às vidas de cada um é intensa, marcante e sem dúvida que nenhum de nós esperava passar por isto. As catástrofes pertencem aos outros, pertencem ao cinema... mas, verdade seja dita, isto é uma cena de cinema, jamais encenada, preparada, ou passada em audição. Perguntamo-nos se fomos escolhidos para a personagem. Não me lembro de ter estado na audição.
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Toda a situação caótica que a covid-19 veio trazer às vidas de cada um é intensa, marcante e sem dúvida que nenhum de nós esperava passar por isto. As catástrofes pertencem aos outros, pertencem ao cinema... mas, verdade seja dita, isto é uma cena de cinema, jamais encenada, preparada, ou passada em audição. Perguntamo-nos se fomos escolhidos para a personagem. Não me lembro de ter estado na audição.
Pois é... e agora, o crescimento das nossas crianças. Questão fulcral daqueles e daquelas que nos vão suceder.
Como pediatra tenho tido várias questões de pais sobre se o filho deve ou não regressar à escola. A minha resposta jamais pode ser indiferente aos filhos que tenho, e pensar que se eu estivesse no lugar destes pais o que faria, como me sentiria? Não ir à escola é a solução que me vem à cabeça e que partilho com os pais, porque seria o que eu faria. Mas há pais que não podem optar, encontram-se sem ajudas pelo confinamento ou nunca as tiveram. E têm que alimentar a família. Têm que manter o trabalho para pagar as contas. O dinheiro, infelizmente, sobrepõe-se à vida.
As regras que são delegadas por quem de direito jamais conhecem o desenvolvimento psicomotor das crianças. Como se pode dizer a crianças, independentemente da sua idade, que têm que ter um distanciamento social de dois metros? Para além da preocupação dos pais, isto vai ser uma dor de cabeça para os educadores de infância, que, para além de terem que proteger os filhos dos outros, têm que se proteger a si próprios e aos que têm em casa.
Qual a melhor forma de proteger e ajudar a economia? Parece que as duas coisas jamais combinam. Porque se protegermos o ser humano a economia para, e ao colocarmos a economia a funcionar dificilmente conseguimos proteger-nos.
Este medo atroz que assolou o mundo deve ser controlado dentro de cada um com confiança de que tudo vai ficar bem. Demagógico? Pois é, também acho. Mas se não tivermos esperança jamais damos passos em frente.
Se as nossas crianças devem ir para as creches? Digo o que digo a todos os pais que me perguntam: “Se tiver possibilidades, deixe ficar em casa.” Pertenço à geração dos que foram maioritariamente educados em casa e sobrevivi. Agora, não havendo hipóteses, por falta de apoio, de exigência laboral, dificilmente há volta a dar à questão. E terão que ir!
E agora? Estamos na creche, que perigos nos assolam?
Em primeiro lugar, as creches devem estar completamente “clean”. Devem conter só o essencial. Sem bonecada nas paredes que acumula pó e vírus.
A muda de roupa é fantástica se esta for entregue aos pais logo assim que entregam a criança, assim como a muda de calçado.
Troca de brinquedos? Entrámos num mundo que vai delinear o futuro destas crianças – de não partilha. Até aos sete anos de idade, a influência que temos sobre as nossas crianças é enorme.
Se em vez de brincarem com os brinquedos da creche, trouxerem de casa o seu brinquedo, que facilmente se desinfeta e do qual têm que tomar conta até que os pais os vão buscar, talvez seja mais seguro. A criança sente-se segura com o seu brinquedo que já conhece e, se não o partilhar, é porque tem que protegê-lo para estar igual quando os pais chegarem. Chama-se a isto âncora. Algo que os liga ao seio familiar e faz com que jamais tenham que chorar pela não partilha do brinquedo.
Lavagem das mãos? Pois nesta fase os meninos e meninas jamais devem ir à casa de banho sozinhos, para que possam higienizar-se em segurança. O gel desinfetante jamais deve estar ao acesso das crianças pelo risco de ingestão ou contacto com mucosas como os olhos.
Quanto aos lençóis da sesta, têm que ser lavados diariamente. Mais trabalho? Pois é.
E o uso de máscara? Não se deve usar até aos dois anos. As crianças não têm capacidade de perceber para que serve e podem asfixiar.
E a mochila que vai para a creche e volta para casa? Tantos pormenores em que pensar. Deve ser lavável e de secagem rápida para estar pronta no dia a seguir.
Escovagem dos dentes na creche? Não concordo nesta fase. Escovam de manhã e à noite em casa e chega.
Materiais que utilizam para fazer trabalhos? Façam trabalhos virtuais agora e enviem miminhos aos pais pela Net.
Refeições? Como já preconizado, tudo deve ser de metal. Nada de plásticos. E bem desinfetado entre cada utilização, pois senão terão que definir o prato e os talheres do Manel, da Maria, do Joaquim...
Abraços e beijinhos? Somos feitos de afetos. As crianças precisam do toque. Somos humanos. Como a outra senhora fez, vistam um saco de plástico gigante e abracem em segurança... ok, um por dia, para terem sacos de plástico novos.
Como controlar o espaço que as crianças frequentam? Quanto a mim é impossível. Onde colocam as mãozinhas, tossem, espirram... Se as salas tiverem menos meninos e meninas e mais educadores e auxiliares talvez seja possível de controlar.
As creches, assim como os lares, jamais são depósitos de seres humanos. Assim como tantos ficaram a tomar conta dos velhinhos nos lares durante esta temporada, é necessário arranjar estratégias para que crianças, pais, educadores de infância, auxiliares estejam todos em segurança.
E atenção... muitos foram os pais que perderam o emprego com esta situação. Precisamos que as creches façam a sua parte em compaixão para os ajudar a reconstruir a vida – só assim a creche se tornará crescimento... para toda a família.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico