Encontrado SARS-CoV-2 em sémen de doentes com covid-19
Cientistas assinalam que este trabalho não mostra propriamente que o novo coronavírus é transmissível.
Cientistas da China detectaram a presença do coronavírus SARS-CoV-2 em sémen de doentes com covid-19. Contudo, no artigo que publicaram na última edição da revista médica JAMA Network Open, não se prova que este vírus possa ser sexualmente transmissível.
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Cientistas da China detectaram a presença do coronavírus SARS-CoV-2 em sémen de doentes com covid-19. Contudo, no artigo que publicaram na última edição da revista médica JAMA Network Open, não se prova que este vírus possa ser sexualmente transmissível.
Ao todo, analisou-se sémen de 38 doentes entre os 15 e os 59 anos com covid-19 do Hospital Municipal de Shangqiu, na província de Henan, no Centro da China. Detectou-se então material genético do vírus no sémen de seis doentes. Quatro desses doentes estavam num estado agudo da infecção e dois estavam a recuperar.
Mesmo assim, os investigadores frisam que este estudo é limitado pela pequena amostra analisada e por não se ter seguido durante muito tempo os doentes depois dos resultados. “Portanto, são necessários mais estudos relativamente a informações detalhadas sobre a excreção viral, o tempo de sobrevivência [do vírus] e a [sua] concentração no sémen”, lê-se no artigo científico.
Stanley Perlman explicou ao jornal norte-americano The New York Times que o facto de o teste dar positivo para coronavírus no sémen não significa que o vírus aí seja infeccioso. “Este é um resultado interessante, mas deve-se confirmar se há um vírus infeccioso”, disse o professor de microbiologia da Universidade do Iowa, nos Estados Unidos, que não esteve envolvido no estudo. Stanley Perlman acrescenta que os testes ao sémen podem apenas ter detectado fragmentos de ARN (o material genético) viral.
A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva também avisou que estes resultados não devem ser motivo de alarme. Contudo, para assegurar a segurança, “pode ser prudente evitar o contacto sexual com homens até 14 dias sem sintomas”, afirmou em comunicado, citado pela agência Associated Press, Peter Schlegel, ex-presidente da sociedade.
Já num estudo publicado na revista Fertility & Sterility, da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, não se detectou a presença de SARS-CoV-2 em amostras de 34 homens chineses com uma forma ligeira ou moderada da doença. Os investigadores também referiram que o trabalho não era abrangente o suficiente para responder à questão se a doença é sexualmente transmissível. Embora, a partir dos resultados que obtiveram, essa hipótese pareça remota.
Citada pelo The New York Times, a Organização Mundial da Saúde indica que, embora os coronavírus não sejam normalmente transmitidos através do sexo, ainda é cedo para se saber se acontece o mesmo com o SARS-CoV-2.
Há vírus, como o ébola e o Zika, que são sexualmente transmissíveis. Por exemplo, no caso do ébola, cientistas chegaram a encontrar vestígios deste vírus no sémen de sobrevivente 82 dias depois do início dos sintomas da doença, o que significa que o vírus permanece no corpo muito tempo depois de os sintomas terem desaparecido e a pessoa já estar saudável.