Almaraz mais oito anos até ao seu encerramento, ou não
Foram feitas demasiadas concessões a estes reactores, que continuarão em funcionamento com enormes carências de segurança. É que em caso de acidente nuclear não há mascarilha que pare as radiações.
Cumpre-se o calendário, previsto pelo acordo celebrado entre o Ministério da Transição Energética e as empresas monopolistas Endesa, Iberdrola e Naturgys, que em Portugal se anunciam, com descaramento, renováveis, este calendário que não ouviu a sociedade civil, nem teve a participação democrática da cidadania e nem sequer ligou peva, mesmo peva, a Portugal e aos acordos ibéricos na matéria.
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Cumpre-se o calendário, previsto pelo acordo celebrado entre o Ministério da Transição Energética e as empresas monopolistas Endesa, Iberdrola e Naturgys, que em Portugal se anunciam, com descaramento, renováveis, este calendário que não ouviu a sociedade civil, nem teve a participação democrática da cidadania e nem sequer ligou peva, mesmo peva, a Portugal e aos acordos ibéricos na matéria.
Com o Armazenamento Temporário Individualizado (ATI), que denunciámos só servia para dar cobertura a este desenlace, vamos ter mais oito anos de funcionamento e produção de resíduos e um travão ao desenvolvimento de alternativas locais de emprego no quadro do desmantelamento das duas unidades de produção, que hoje é absolutamente desnecessária.
Para estes oito anos, o Conselho de Segurança Nuclear (CSN) estabeleceu condições técnicas e de segurança reforçadas (dado o risco ser maior), que deverão ser fiscalizadas todos os anos, para certificar do seu cumprimento.
Oito anos em que se vai parar o desenvolvimento de renováveis, também na base do sistema eléctrico, e oito anos mais em que Portugal continuará a ser um verbo de encher dado o menosprezo com que somos considerados, sem articulação sequer dos planos de emergência entre os dois países, e oito anos mais em que resíduos radioactivos continuarão a ser armazenados nos locais de produção que contestámos por não obedecerem às exigências e qualificação adequadas face a riscos sismológicos ou de outro tipo, naturais ou de origem antrópica (atentados, por ex.).
Foram feitas demasiadas concessões a estes reactores que continuarão em funcionamento com enormes carências de segurança, pela deterioração, pelo envelhecimento de partes fundamentais para o funcionamento como os geradores a vapor e as bombas de refrigeração, que desafiamos o CSN, hoje mais transparente e idóneo, a inspeccionar e controlar, de todas, por todas as formas.
Temos, além disso, a bacia, a barragem de refrigeração já quase repleta de resíduos sólidos, o que em caso de necessidade não poderá cumprir as funções que lhe estão cometidas ao ver diminuída a quantidade de água disponível.
As actuais canículas, que levam ao encerramento, arriscado por vezes, de dezenas de centrais em todo o mundo no período extremo, a que se junta a diminuição dos trabalhadores em efectividade nestes tempos de pandemia, com problemas na estrutura de funcionamento, são outros dos muitos, muitos motivos de preocupação.
Por isso, o Observatório Ibérico de Energia e a Adenex também exigimos que se realize, quanto antes, um simulacro de emergência nuclear que tenha em conta não só os 10 kms do seu entorno mas um raio de 100 kms, muito menos do que a área afectada pelo acidente de Chernobyl, que obviamente envolva as autoridades portuguesas e que consciencialize as populações para o que fazer num caso desses.
É que em caso de acidente nuclear não há mascarilha que pare as radiações.