Ataques de Haftar a Trípoli intensificam-se apesar de haver divisão no movimento

Aeroporto foi o último alvo, depois de artilharia chegar perto das representações diplomáticas de Itália e Turquia na cidade. A presença de mercenários também está a aumentar.

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O Exército Nacional Líbio, do marechal Khalifa Haftar, intensificou os seus ataques na capital líbia, Trípoli, depois de a sua ofensiva na capital esbarrar com dificuldades sobretudo por causa da maior intervenção de forças turcas a favor do governo reconhecido internacionalmente de Fayez al-Sarraj, e após uma recente divisão no seu próprio movimento.

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O Exército Nacional Líbio, do marechal Khalifa Haftar, intensificou os seus ataques na capital líbia, Trípoli, depois de a sua ofensiva na capital esbarrar com dificuldades sobretudo por causa da maior intervenção de forças turcas a favor do governo reconhecido internacionalmente de Fayez al-Sarraj, e após uma recente divisão no seu próprio movimento.

Nos últimos dias registaram-se ataques renovados na capital, um deles ao aeroporto de Mitiga, o único a funcionar na Líbia, com tanques de combustível e aviões de passageiros atingidos, segundo o Ministério dos Transportes. Também Itália e Turquia disseram que houve ataques perto das suas embaixadas na quinta-feira, culpando as forças de Haftar. Itália disse que do ataque, perto da residência do embaixador, resultaram dois mortos, o que levou a uma condenação por parte da União Europeia. Bruxelas atribuiu a operação às forças de Haftar, estas recusaram ter disparado contra estes locais.

Também houve um ataque perto do porto de Trípoli, onde as Nações Unidas suspenderam uma operação de desembarque de migrantes resgatados de barcos no mar e que tentavam chegar à Europa.

Segundo a ONU, cerca de quatro quintos das 130 vítimas civis do primeiro trimestre do ano na Líbia foram resultado de ataques de Haftar, que há um ano leva a cabo uma ofensiva para tentar capturar a capital do executivo de Sarraj. Este número de vítimas é um aumento de 45% em relação ao mesmo período do ano passado.

Haftar, que domina o Leste do país, é apoiado pela Rússia, que tem enviado mercenários - segundo um relatório confidencial a que a agência Reuters teve acesso, o russo Wagner Group tem entre 800 a 1200 operacionais na Líbia. O marechal é ainda apoiado pelo Egipto, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

Nas últimas semanas, o avanço de Haftar para a capital tem sido travado pela maior presença de forças turcas em apoio do governo de Trípoli, que controla ainda grande parte do Oeste do país, e que tem levado a uma retirada das forças do Exército Nacional Líbio.

Neste cenário, o papel dos Estados Unidos tem sido pouco claro. Depois de no ano passado o Presidente Donald Trump ter telefonado a Haftar, o que foi visto como um potencial sinal de apoio, Washington tem feito, e repetido, apelos a ambas as partes em guerra para uma desescalada.

Esta semana, um responsável do gabinete de Médio Oriente do Departamento de Estado dos EUA, Henry Rooster, declarou que “os EUA não apoiam a ofensiva de Haftar” e, mais, referiu-se a “um desenvolvimento preocupante”, que é “o estabelecimento de chamadas relações diplomáticas entre Haftar e o regime [sírio] de Assad, que é parte da questão dos mercenários sírios”.

Várias tentativas de acordos entre as duas facções, incluindo numa reunião em Berlim em Janeiro, têm falhado. O país está efectivamente dividido desde 2014.

Mas há notícias sobre um desentendimento entre Haftar e um dos seus aliados políticos, Aguila Saleh, líder da Câmara dos Representantes em Tobruk, a capital do Leste.

Saleh anunciara um plano que se preparava para apresentar às Nações Unidas e que previa um Conselho Presidencial que representaria três regiões históricas da Líbia. Um governo, nomeado, seria independente deste conselho.

Mas pouco depois Haftar pareceu recusar a iniciativa do aliado e numa intervenção televisiva declarou o fim do acordo entre as duas facções líbias assinado em 2015, a frágil base das instituições no país, e declarou que “aceitava um mandato popular” para governar a Líbia.

Após o discurso, nova reviravolta: Haftar disse que suspendia as actividades militares e pediu uma trégua humanitária (o que foi visto, diz o diário britânico The Guardian, como um reconhecimento de que terá passado dos limites: nas semanas anteriores, as suas forças responderam a uma série de revezes militares com ataques indiscriminados, atingindo várias vezes hospitais). O Governo de Sarraj recusou a trégua, e nos últimos dias, os ataques aumentaram de novo.

O desentendimento entre Saleh e Haftar não é o primeiro, e segundo uma análise no jornal egípcio Al-Ahram, os dois estão a competir por cargos relevantes que possam sair do processo político mediado pelas Nações Unidas.