Uma app para confinar os que entopem o Facebook com comida

Dez anos depois do livro com o mesmo nome, temos uma app que é um cofre de receitas, um portal para cozinheiros e uma rede social para amadores.

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O caudal de pão torto, macarons acidentados e outros arremedos de cozinheiro em prisão domiciliária que nos entupiram as redes sociais nas últimas semanas só piorou a experiência do confinamento. Pensem no Big Brother, mas sem as nomeações. A solução era desamigá-los. Ou apresentar-lhes agora a aplicação chamada Hoje, o Chef sou eu!.

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O caudal de pão torto, macarons acidentados e outros arremedos de cozinheiro em prisão domiciliária que nos entupiram as redes sociais nas últimas semanas só piorou a experiência do confinamento. Pensem no Big Brother, mas sem as nomeações. A solução era desamigá-los. Ou apresentar-lhes agora a aplicação chamada Hoje, o Chef sou eu!.

Tem dezenas de receitas de conhecidos chefs portugueses e dá um mural a cada utilizador. É um cofre com receitas e pode ser uma rede social. O ideal para manter foodies entretidos e para confinar virtualmente os imitadores e pretendentes de jalecas. 

Em teoria, é só vantagens. Tem cinco tipos de receitas: sopas; Mini Chef (para explorar com os mais pequenos); petiscos; receitas familiares e sobremesas. Além disso, tem chefs famosos e premiados em número q.b.. 

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E a cereja no topo é o tal mural, onde se regista, guarda, publica e partilha, sem irritar quem não gosta de ver comida que nunca chegará a provar ou que só queria saber qual é a gargalhada do momento no Facebook, a nova fantasia do Twitter ou a mais recente indignação viral. 

Na prática, porém, também há senãos. Começa pela experiência geral, bastante datada. Não tem vídeo, nem realidade virtual ou multimédia ou dinâmica que nos resgate da sensação de estarmos a usar uma app de 2012. Parece a mera transposição de um livro.

Em 2020, o Homo digitalis instala tudo o que lhe aparece à frente. Mas é mais selectivo nas apps que abre do que na comida que mete à boca. Mãos cheias de nomes sonantes e pratos gourmet têm de ser servidos com um toque mais actual.

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Outra fava saiu aos vegan e vegetarianos. Aparentemente, ninguém pensou neles. Os responsáveis da app prometem mais receitas e vídeos no futuro. É bom sinal.

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Depois há o senão de todas as aplicações pequenas ou em início de vida: a falta de escala. Quem gosta de grandes audiências, vai sentir saudades do WhatsApp ou do YouTube.

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Capa do livro editado em 2009 DR

Uma coisa tem, o ingrediente que melhora tudo: a paixão. Não se está aqui porque está lá toda a gente; está-se porque se gosta de comida e de cozinha.

Quem está com vontade de Brasil ou Angola? O Henrique Sá Pessoa resolve isso com uma moqueca. Não dá para matar saudades de mar no Algarve? Estão lá as conquilhas na cataplana do chef António Nobre.

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A app foi lançada por uma editora alentejana, Caminho das Palavras, que convidou também os chefs Amaya Guterres, Augusto Gemelli, Bertílio Gomes, Giorgio Damasio, João Leandro, Luís Américo, Marco Gomes, Paulo Morais, Paulo Pinto, Ricardo Costa, Rui Paula e Vítor Matos. São nomes reconhecíveis, com eco internacional e estrelas Michelin.

Cada um apresenta-se com biografia e pelo menos três receitas. Alguns partilham mais do que três, anota André Pereira, da editora que, há uma década, publicou Hoje, o Chefe Sou Eu!, livro com 168 páginas para explorar na companhia de filhos e filhas, jovens dispostos a assumir a batuta ao fogão.

Dez anos depois, surge esta aplicação, que contraria o cânone dominante: naquele aspecto despojado e estático, não promete fazer tudo por nós. Ao invés, lembra-nos que na cozinha ou se mete as mãos na massa, ou nada. 

Disponível nas lojas de aplicações da Google e da Apple, é uma forma de “descobrir novas refeições, neste tempo em que por vezes já falta a criatividade na cozinha”, defende André Pereira.

Além disso, “também promove o melhor da gastronomia portuguesa, os chefs e produtos nacionais”. Só precisa de um “tempero” que nos envolva, que melhore a experiência e nos faça ter vontade de reabrir a app na próxima refeição.

O uso é gratuito e o acesso às receitas é livre. Quem quer um mural e interagir com outros utilizadores tem de criar um perfil. 

O mural permite fazer o “check in” em sítios (fornecendo à app dados de localização). E permite partilhar “estados”, que podem ser fotografias ou texto (limitado a 140 caracteres). Por agora, não há a opção de vídeo.

O registo pode ser feito com contas Facebook ou Twitter. Associar estas redes permite partilhar cada publicação em simultâneo nessas plataformas.