Regina Duarte e Brasil: fim do namoro?

Foi protagonista em telenovelas de enorme alcance e a Helena-musa em várias novelas criadas por Manoel Carlos. Mas, sobretudo, Regina Duarte ficou conhecida como a “namoradinha do Brasil”.

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“Vocês acabaram de presenciar, ao vivo, a verdadeira faceta da namoradinha do Brasil!”, escreveu a actriz brasileira Maitê Proença na sua conta de Twitter, pouco depois de a secretária para a Cultura brasileira “dar um chilique”, como auto descreveu, em directo na CNN Brasil. “Sabíamos desse jeitinho da Regina Duarte desde sempre.”

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“Vocês acabaram de presenciar, ao vivo, a verdadeira faceta da namoradinha do Brasil!”, escreveu a actriz brasileira Maitê Proença na sua conta de Twitter, pouco depois de a secretária para a Cultura brasileira “dar um chilique”, como auto descreveu, em directo na CNN Brasil. “Sabíamos desse jeitinho da Regina Duarte desde sempre.”

Regina Duarte, que disse que “a covid está trazendo uma morbidez insuportável” ou que exortou o país a seguir em frente e a parar de falar dos tempos da ditadura — “Ficar cobrando coisas que aconteceram nos anos [19]60, 70, 80? Gente, vamos embora, vamos para a frente” —, foi interpelada pela colega de profissão, mas recusou-se a ouvir as suas palavras, retirando até o auricular. E, o que poderia ser interpretado como uma oposição política, acabaria por ganhar outro fôlego por Maitê ter sido uma das pessoas que defendeu o apoio de Regina a Bolsonaro.

Numa mensagem em vídeo, Maitê Proença disse “estou aqui clamando”: “fale com a sua classe, Regina”. Mas, a actriz e secretária para a Cultura não ouviu e até acusou a mensagem de ser antiga. “Vocês estão desenterrando mortos”, acusou os pivôs Reinaldo Gottino e Daniela Lima, que se encontravam em estúdio. E, logo, Maitê Proença respondeu, em directo no Twitter: “Estou vivíssima, querida Regina!”

Pelas redes sociais saíram muitos comentadores em defesa da secretária para a Cultura, mas igualmente uma torrente de críticos que se dividem entre achar que Regina Duarte não está bem e os que alegam, como Maitê Proença, que ela sempre foi assim.

Para o humorista Gregorio Duvivier dizer que “Regina surtou” não é exacto: “Não se chama surto quando agrada o seu patrão e [ele] te mantém no cargo. É oportunismo mesmo.”

Já o realizador e argumentista brasileiro Marcelo Rodrigues acusou a dirigente política de “falta de humanidade”. “Regina, acabou aqui todo e qualquer respeito que eu tinha por você. Respeito os seus trabalhos de actriz e ponto.”

"Desmascarar” a actriz

Pelas redes sociais, surgiu ainda um apoio novo ao actor Zé de Abreu (o Nilo de Avenida Brasil) que, há três meses, já tinha manifestado vontade de “desmascarar” a actriz, acabando por denunciar a falta de profissionalismo da colega de elenco em várias novelas. “Em Desejos de Mulher (em que a dupla fazia par romântico), ao usar ponto electrónico por preguiça de decorar, ela prestava mais atenção a seu ouvido (veja cenas onde ela entorta a cabeça pensando que iria ouvir melhor! Jesus, a porra do auricular estava enfiado no seu ouvido!) que aos seus colegas.”

À Folha de S. Paulo, disse: “Não dá para respeitar quem apoia [Jair] Bolsonaro nem considerar ser humano um fascista.” E, depois de ter sido acusado de misoginia, Zé de Abreu foi peremptório: “Vagina não transforma uma mulher num ser humano.”

A jornalista brasileira Hildegard Angel, com passagens pelo teatro, cinema e televisão, descreveu que foi como se Regina Duarte “retirasse a máscara de ‘namoradinha’ e revelasse uma face monstruosa de quem ‘lava as mãos na bacia de sangue’, como na peça [As Espingardas da Senhora Carrar] de Brecht”. Uma posição partilhada pelo ex-deputado do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) Jean Wyllys: “Regina despiu a pele de namoradinha do Brasil e mostrou a sua face monstruosa.”

Também o actor Lima Duarte, que esta semana protagonizou uma sentida homenagem a Flávio Migliaccio​, encontrado morto na segunda-feira, tecendo duras críticas ao regime actual no Brasil, tinha dado a entender, em Janeiro, a pouca simpatia que nutria pela colega com quem contracenou em Roque Santeiro: “Perfeito para o Brasil de hoje: Sinhozinho Malta na Presidência e Viúva Porcina na Cultura.”

A “namoradinha do Brasil”

Regina Duarte nasceu a 5 de Fevereiro de 1947, numa localidade do interior do estado de São Paulo. O pai era o primeiro-tenente do Exército Jesus Nunes Duarte, mas havia uma veia artística forte na família: a mãe era Dulce Blois, pianista e professora de piano do Rio Grande do Sul. 

A actriz daria os primeiros passos na profissão com apenas 14 anos, no Teatro do Estudante de Campinas. Mas, aos 18, teria a sua oportunidade na televisão, ao integrar o elenco de A Deusa Vencida (1965), e no teatro, sob a direcção do reconhecido Antunes Filho (1929-2019). Porém, seria já na Globo que conquistaria o título de “namoradinha do Brasil” por causa do seu papel em Minha Doce Namorada (1971), em que vestia a pele da órfã Patrícia.

Nem sempre a actriz se mostrou satisfeita com a alcunha e chegou mesmo a contestá-la ao interpretar a prostituta Janete na peça Réveillon. Mas, com o encanto do autor Manoel Carlos por si, que a colocaria em papéis de destaque em várias telenovelas, dando-lhe sempre o nome de Helena, Regina Duarte voltaria a apaixonar o Brasil — e, ao ser a Helena-musa de Manoel Carlos, de certa forma a resgatar o epíteto do início da sua carreira.

A relação amorosa com o país já tinha sido, porém, posta à prova, quando a actriz saiu em defesa do actor José Mayer, demitido pela Globo, após este ter assumido publicamente ter assediado sexualmente uma colega de produção. E, quando aceitou a pasta da Cultura proposta por Jair Bolsonaro, foi atacada por uma corrente de críticas de ex-colegas. Agora, por fim, parece que o namoro terminou.