Professores, planear Setembro: questões e soluções

É necessário que se comece a pensar em alternativas que sejam viáveis e que não coloquem em causa a saúde pública, será assim até que se encontre um tratamento ou uma vacina.

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Nuno Ferreira Santos

Tenho reflectido, por estes dias, sobre as formas como se poderá iniciar o próximo ano lectivo. Esta será a altura própria para pensarmos nisso! Sim, porque não podemos esperar que em Setembro a situação da pandemia esteja resolvida. Os problemas criados por esta nas escolas não passam com as férias do Verão e muito menos se resolvem sozinhos.

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Tenho reflectido, por estes dias, sobre as formas como se poderá iniciar o próximo ano lectivo. Esta será a altura própria para pensarmos nisso! Sim, porque não podemos esperar que em Setembro a situação da pandemia esteja resolvida. Os problemas criados por esta nas escolas não passam com as férias do Verão e muito menos se resolvem sozinhos.

Parece-me por isso necessário que se comece a pensar em alternativas que sejam viáveis e que não coloquem em causa a saúde pública, será assim até que se encontre um tratamento ou uma vacina.

Perante a continuidade da pandemia em Setembro impõe-se as seguintes questões:

  • Qual o número de alunos por turma?
  • Quantos professores a mais serão necessários?
  • Quais as perspectivas relativas à migração de alunos do ensino privado para o ensino público?Perspectiva-se que devido à situação económica do país no pós-covid-19, haja uma migração de alunos do ensino privado para o ensino estatal, pelo que um aumento de turmas em algumas escolas poderá ser uma realidade.
  • Pretende o Estado apoiar as famílias para evitar possível migração?
  • Como se prevê fazer a monitorização da temperatura a alunos e professores?
  • Quem fornece as máscaras? Serão de uso obrigatório em contexto escolar?
  • Qual o número de turmas em simultâneo que cada equipamento escolar alberga para que se cumpra com as regras básicas de distanciamento social?
  • De que forma poderá a escola recuperar a confiança dos pais?
  • Qual a responsabilidade de cada organismo, Ministério da Educação (ME) e câmaras no processo de implementação de medidas?
  • Como pretendem monitorizar a reabertura de Maio e Junho para melhor planear Setembro?

Pode até parecer precoce estarmos já a pensar nestas questões todas, mas uma vez que este período, e por sua vez o ano lectivo, será concluído no formato actual, é importante levantar certas questões que preocupam a comunidade social e escolar.

Ao final das matrículas do ensino público, 26 de Junho, junta-se o concurso de professores 2020/2021, que está a decorrer, e obtemos o número de alunos existentes e o número de professores necessários para iniciar o próximo ano lectivo.

Não podemos esperar muito mais tempo para decidir, teremos de enfrentar o próximo ano lectivo com a certeza de que a situação continuará a ser extraordinária. Agir em vez de reagir!

Contudo, parece-me óbvio que não podemos mandar os alunos de volta à escola com 28 ou 30 estudantes por turma. Sempre fui contra as “turmas galinheiro”, mas infelizmente o desinvestimento na educação a isso tem obrigado.

Esta situação poderá ser mitigada caso o ME e o Governo desencadeiem medidas excepcionais para resolver o problema na ajuda às famílias. Ao não o fazer irão aumentar a despesa pública, tendo de contratar mais professores, sobrando sempre para os contribuintes. Haveria também muita dificuldade de encontrar professores em grande quantidade para o registo de substituição das escolas não agrupadas e agrupamentos.

O facto de o Estado não ter resposta para as creches até aos 3 anos, assim como não ter resposta para um grande número de alunos na educação pré-escolar, sobretudo nas zonas urbanas, seria “obrigado’ a apoiar as famílias, através das diferentes formas da resposta social que o país tem.

Neste momento, arrisco-me a dizer que, quanto mais novo é o aluno mais dificuldades estará a ter com este método de ensino à distância. As crianças do 1.º ciclo, por exemplo, precisam voltar à escola, porque é uma altura muito delicada da sua vida de alunos, porque é quando aprendem a ler e a escrever e isso faz-se também através do afecto, da proximidade entre professor e aluno. Que seja com máscara e com todas as outras medidas necessárias de segurança, o importante é que voltem!

Todas estas decisões/planificações devem ser elaboradas em estreita colaboração com os organismos responsáveis pela saúde, por forma a acautelarem vários cenários que devem ter em consideração o superior interesse do aluno.

Neste sentido e no intuito de promover o debate deixo algumas ideias que poderão vir a ser princípio de soluções e de responder às questões levantadas, nomeadamente:

  • Reduzir as turmas a pelo menos metade do estipulado no pré-covid-19;
  • Aumentar proporcionalmente o número de professores;
  • Desencadear medidas excepcionais de apoio às famílias com filhos no ensino privado/cooperativo;
  • Criar turnos duplos (manhã / tarde) em todas as escolas;
  • Complementar o presencial com o ensino à distância com turnos semanais;
  • Garantir a distribuição de máscaras à comunidade;
  • Garantir a existência e reposição de produtos de higiene (sabão líquido, papel higiénico, papel de secagem de mãos);
  • Criar sistema de monitorização periódica da temperatura corporal;
  • Definir bem o papel de cada entidade no que toca à responsabilidade no cumprimento do estabelecido (ME, câmaras municipais);
  • Recolher e analisar todos os dados relativos à reabertura de alguns graus de ensino em Maio.

Regressar é imperioso! É agora o tempo de planear!