Desconfinamento: Hotéis começam a reabrir com medidas reforçadas e descontos
Sem reservas nem hóspedes, muitos hotéis decidiram encerrar temporariamente face ao surto de covid-19. Alguns começam agora a reabrir, com ajustes à operação, reforço de medidas de higiene e segurança e descontos.
Refeições entregues no quarto ou feitas no restaurante, agora com lotação reduzida, fim dos buffets, mesas e espreguiçadeiras exclusivas para cada hóspede durante a estadia, oferta de máscaras e de gel desinfectante, check-in online, apps personalizáveis e protecções de acrílico na recepção, assim como protocolos e formação especializada da equipa sobre os novos procedimentos de higiene e segurança.
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Refeições entregues no quarto ou feitas no restaurante, agora com lotação reduzida, fim dos buffets, mesas e espreguiçadeiras exclusivas para cada hóspede durante a estadia, oferta de máscaras e de gel desinfectante, check-in online, apps personalizáveis e protecções de acrílico na recepção, assim como protocolos e formação especializada da equipa sobre os novos procedimentos de higiene e segurança.
Estas são algumas das medidas adoptadas pelas unidades de alojamento turístico portuguesas para o desconfinamento após o estado de emergência. Ao contrário dos restaurantes e de outros estabelecimentos, os hotéis não foram obrigados a fechar por decreto do Governo, mas com as fronteiras encerradas e os portugueses em casa, muitas unidades optaram por fazê-lo para fazer face aos custos e falta de receitas.
De acordo com um inquérito realizado no início de Abril pela Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), cerca de 75% das empresas associadas estavam encerradas. Destas, mais de dois terços estavam ligadas à área do alojamento turístico e 30% ao sector da restauração.
Adeus buffet, olá cesta de piquenique
Encerrado desde 20 de Março, o Rio do Prado decidiu reabrir portas esta quinta-feira (7 de Maio), ancorado nas “características naturais” do empreendimento, localizado a poucos quilómetros da Lagoa de Óbidos. São 20 suítes, todas com acesso directo “pelo vasto jardim de 20 mil m2”, o que “permite facilmente o distanciamento para estes tempos de pandemia”, apontam em comunicado.
Anunciam, no entanto, alterações à operação. Desde logo na recepção, onde foi instalada uma “protecção acrílica”, ou no restaurante, agora limitado a 16 hóspedes por cada serviço de refeição. Foram ainda criados “pátios à frente de cada suíte, onde é possível tomar o pequeno-almoço, almoçar ou jantar, recriando um restaurante individual acompanhado da natureza e de uma lareira para as noites de Primavera”. A ideia, acrescentam, não passa por “produzir buffets” nem “ter cartas para distribuir”, mas antes “individualizar e costumizar ao máximo” a partir de uma ementa que vai sendo afixada “em placas de ferro e giz” e adaptada à oferta de produtos da horta e da estufa do hotel.
Já a limpeza de cada suíte é “realizada sempre pela mesma dupla e os funcionários verificam duas vezes por dias as suas temperaturas, usando máscara ou viseira”. Por “todo o lado”, há ainda dispensadores de gel desinfectante.
Também o Terra do Sempre, na Serra de Grândola, reabre esta sexta-feira (8 de Maio), com “tudo pronto para receber os hóspedes de acordo com as mais rigorosas regras de higiene e segurança impostas pelo novo coronavírus”. Toda a equipa “teve formação” especializada e “todos os espaços comuns serão devidamente limpos e desinfectados”.
Os “sete quartos em sete hectares” possibilitam “o distanciamento social” entre hóspedes, assim como a implementação de alguns “ajustes” nas rotinas da unidade de turismo rural. O pequeno-almoço é entregue em cestos e existe a possibilidade de encomendar o almoço em cabazes de piquenique.
Para quem prefira fazer as refeições no restaurante, este passou para a Casa na Pradaria, um espaço com cerca de 150 m2 “totalmente aberto para o campo”, onde “cada família ou grupo de amigos terá a sua mesa e, em vez do habitual buffet, os hóspedes terão de escolher os pratos através da lista entregue nos quartos”, apontam. Os jantares mantêm-se disponíveis apenas três dias por semana (segundas, quartas e sextas), “com toda a segurança imposta pela DGS”.
Os clientes terão ainda à disposição “máscaras e produto desinfectante de mãos nas áreas comuns”, assim como termómetros. Já a cozinha passa a estar interdita aos hóspedes, as salas comuns têm um limite de lotação e cada grupo terá uma zona própria junto à piscina. Esta, tal como o deck de acesso, só pode ser utilizada “por quem está na água”, sendo “devidamente tratada com o cloro necessário ao combate da covid-19”, acrescenta o comunicado.
As actividades disponibilizadas pela Terra do Sempre serão mantidas, com as devidas precauções quanto a distâncias e higienização dos objectos, como o cinema ao ar livre às segundas, quartas e sábados depois do jantar para as crianças, a mesa de pingue-pongue, os jogos de mesa e DVD's, assim como os passeios à quinta da vizinha Gertrudes, agora com inscrições prévias à chegada para “garantir que todos possam ir mantendo o distanciamento”.
Hotéis rurais são os primeiros a reabrir
Para já, são sobretudo as unidades de turismo rural que têm anunciado a reabertura das reservas, alavancadas pelas próprias características dos empreendimentos, na maioria dos casos com amplos espaços ao ar livre, acesso directo aos alojamentos pelo exterior e localização em territórios de baixa densidade populacional.
O Monte do Giestal, por exemplo, integrado numa herdade com mais de 71 hectares no concelho de Santiago do Cacém, reabre a 15 de Maio e anuncia já ter reservas para esse mesmo fim-de-semana. Também aqui a equipa “recebeu formação específica” e foi implementado um “protocolo interno de actuação relativo ao surto de coronavírus”.
Para além da existência de doseadores com soluções desinfectantes em todas as entradas das áreas comuns, os hóspedes serão recebidos por funcionários equipados com máscara, viseira e luvas, e foram instaladas barreiras de acrílico na recepção e entre os alpendres das dez casas de campo, onde os hóspedes encontram ainda um “kit de protecção”, com máscara, luvas descartáveis e um doseador desinfectante.
O pequeno-almoço, com o buffet substituído por um menu “a pedido”, será servido na sala de refeições mas com um agendamento de horário prévio, para que estejam apenas os clientes “de uma ou duas casas de cada vez”. Já o spa vai manter-se encerrado.
Também a Herdade da Cortesia, em Avis, vai reabrir este fim-de-semana, com redução “para um sexto” da lotação do empreendimento (dos 30 quartos, disponibilizam para já apenas cinco). Próximo de Vila Nova de Milfontes, a Herdade do Amarelo volta a receber hóspedes a partir de 29 de Maio, com a possibilidade de tomar as refeições no quarto ou na sala comum, “reduzida a metade da capacidade”. E em Santa Cruz, no concelho de Torres Vedras, abrem em Junho o Areias do Seixo (dia 9) e a Noah Surf House (dia 8).
Numa tentativa de atrair clientes após o estado de emergência e para celebrar a reabertura, algumas unidades estão a lançar campanhas promocionais. É o caso do Rio do Prado, com 20% de desconto em todas as tipologias para as primeiras 100 reservas de Maio “realizadas directamente com a unidade”, além de um pacote especial para suítes standard, para “duas noites com pequeno-almoço incluído servido em local à escolha do hóspede” (280€). E tanto o Areias do Seixo como a Noah Surf House, projectos turísticos do empresário Gonçalo Alves, oferecem 50% de desconto aos residentes nos concelhos da região do Oeste numa campanha válida até 15 de Maio.
Grupos hoteleiros com apps e horários para refeições
Ao PÚBLICO, o presidente da Associação de Hotelaria de Portugal, Raul Martins, referia no início da semana que o processo de reabertura das unidades hoteleiras será certamente faseado, variando de acordo com a tipologia e as regiões em que se inserem, e ainda com muitas incógnitas. Adiantava que no mês de Julho as reaberturas vão estar essencialmente ligados às férias, abrangendo hotéis em zonas balneares, no interior do país e ilhas, mas previa que, no caso das cidades, a maioria só deverá voltar a ter negócio em Setembro.
O grupo Vila Galé, por exemplo, manteve abertos apenas cinco dos 27 hotéis que detém em Portugal: no Porto, em Coimbra, em Lisboa e em Évora “sobretudo para apoiar profissionais de saúde e outros que tivessem necessidade de se deslocar pelo país”; e o Vila Galé Santa Cruz, na Madeira, “para receber quem chega à ilha e tem de fazer quarentena obrigatória”, enumera Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo.
A possibilidade de reabrir outras unidades “no início de Junho” ainda está a ser avaliada, “provavelmente uma em cada região do país”. Mas, aponta, “tudo dependerá da evolução das condições sanitárias e da evolução da covid-19 em Portugal”. O grupo está, no entanto, já a preparar a reabertura, com a implementação de “várias medidas para garantir a máxima segurança, bem-estar e conforto de clientes e colaboradores”.
Além do reforço da frequência de desinfecção e limpeza das áreas comuns e da instalação de dispensadores de álcool-gel, os funcionários vão utilizar equipamentos de protecção individual (“máscaras, viseiras, luvas, batas”), vai ser lançada uma aplicação móvel onde será feito o check-in e o check-out, os restaurantes, bares, zonas de piscina e ginásios vão ter “limitação de capacidade”, e vão existir horários fixos com necessidade de reserva prévia de horário para as refeições, de forma a “melhor controlar os fluxos e assegurar que não há um acumular excessivo de clientes”.
“Haverá ainda um intervalo de, no mínimo, 24 horas entre a saída dos hóspedes, a limpeza do quarto e a entrada do hóspede seguinte, para permitir bom arejamento e que a higienização seja feita de uma forma mais segura e eficaz.”
Com uma aposta semelhante numa “migração tecnológica de vários serviços de atendimento”, incluindo check-in online, e depois de “uma intensiva desinfecção total das infraestruturas” e implementação de “medidas excepcionais” de higiene e segurança, os hotéis Moov, do grupo Endutex, dois no Porto e um em Évora, preparam-se para reabrir a 13 de Maio.
Entre as medidas, destaca-se “a decisão de manter os quartos bloqueados por três dias depois da sua ocupação”. E “caso um cliente fique mais do que uma noite”, “pode optar por mudar todas as noites para um quarto limpo ou por não ter limpeza e solicitar a troca de toalhas”. Tal como a grande maioria das unidades referidas, os três hotéis Moov contam com o selo “Clean & Safe”, atribuído pelo Turismo de Portugal.
Lançado a 24 de Abril para “distinguir as actividades turísticas que asseguram o cumprimento de requisitos de higiene e limpeza para prevenção e controlo da covid-19 e de outras eventuais infecções”, o selo tinha sido requerido por 2155 empresas até às 12h desta segunda-feira, distribuídos por empreendimentos turísticos (36% do total), empresas de animação turística (40%) e agências de viagens (24%).