Descoberto o buraco negro mais próximo da Terra
Está a mil anos-luz de distância da Terra e “partilha” um sistema com duas estrelas, que podem ser vistas a olho nu a partir do hemisfério sul numa noite escura e límpida.
Aos poucos vamos conhecendo cada vez melhor o que nos rodeia na imensidão do Universo. Desta vez, uma equipa de cientistas descobriu um buraco negro situado a mil anos-luz de distância da Terra, tornando-se o buraco negro mais próximo do nosso planeta que se conhece até agora. O sistema onde se encontra este buraco negro (o HR 6819) é descrito num artigo científico publicado nesta quarta-feira na revista Astronomy & Astrophysics.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Aos poucos vamos conhecendo cada vez melhor o que nos rodeia na imensidão do Universo. Desta vez, uma equipa de cientistas descobriu um buraco negro situado a mil anos-luz de distância da Terra, tornando-se o buraco negro mais próximo do nosso planeta que se conhece até agora. O sistema onde se encontra este buraco negro (o HR 6819) é descrito num artigo científico publicado nesta quarta-feira na revista Astronomy & Astrophysics.
A história da descoberta do HR 6819 começou quando cientistas estudavam sistemas estelares duplos. Mas, ao analisarem as suas observações, detectaram que havia uma terceira presença neste sistema além de duas estrelas: era um buraco negro.
Através do espectrógrafo FEROS no telescópio MPG/ESO do Observatório Europeu do Sul (ESO), conseguiu perceber-se que uma das estrelas orbitava um objecto “invisível” num período de 40 dias e que a outra estrela está mais longe do buraco negro. A detecção do buraco negro foi possível devido à atracção gravitacional que exerce na órbita da estrela mais interior.
Este é um dos primeiros buracos negros descobertos que não interage violentamente com o meio que o circunda, refere-se num comunicado do ESO. Ao estudar a órbita da estrela mais interior, a equipa calcula ainda que a massa deste buraco negro seja quatro vezes a massa do nosso Sol. “Só pode ser um buraco negro”, realça Thomas Rivinius, cientista do ESO que liderou este estudo.
Estrelas vistas a olho nu
O HR 6819 encontra-se na constelação de Telescópio e, como está tão perto de nós, as suas estrelas podem ser vistas a partir do hemisfério sul numa noite escura e límpida sem telescópio ou binóculos, refere a equipa. “Ficámos bastante surpreendidos quando percebemos que este é o primeiro sistema estelar com um buraco negro que podemos observar a olho nu”, nota Petr Hadrava, cientista emérito da Academia de Ciências da República Checa e um dos autores deste trabalho.
E antes deste, qual era o buraco negro mais próximo de nós? Thomas Rivinius aponta um sistema binário chamado V616 Mon – que deverá ter um buraco negro. Alguns estudos apontam que esteja a cerca de 3200 anos-luz de nós e outros que estará a aproximadamente 1300 anos-luz. Portanto, isso é mais do triplo e mais 30%, respectivamente, do que está o HR 6819, que se encontra a mil anos-luz de distância da Terra. “Há pelo menos mais um candidato para um buraco negro a uma distância semelhante, também a uns 1300 anos-luz, chamado ‘V Pup’, mas até que seja confirmado que alberga um buraco negro é preciso ter cautela”, assinala ainda o cientista.
Thomas Rivinius diz ao PÚBLICO que a parte mais importante desta descoberta é que este buraco negro está muito próximo de nós, mas que ao mesmo tempo “não é especial”. O cientista refere que conhecemos apenas algumas dúzias de buracos negros de massa estelar na Via Láctea (a nossa galáxia). Quase todos tinham uma interacção violenta com o seu meio envolvente e foram detectados pela emissão de fortes raios X.
“Penso que haverá milhões a milhares de milhões de buracos negros na Via Láctea”, indica. “Encontrarmos agora um deles num sistema triplo mesmo ao virar da esquina significa que deverá haver outros escondidos nestes sistemas triplos.” No comunicado, a equipa acrescenta que, durante todo o tempo de vida da Via Láctea, muitas estrela já terão entrado em colapso sob a forma de buracos negros no final das suas vidas. Dietrich Baade, astrónomo emérito do ESO e também autor do trabalho, adianta que, ao encontrar-se um buraco negro num sistema triplo tão próximo da Terra, significa que estamos só a ver “a ponta de um icebergue muito interessante”.
Além de esta descoberta poder ajudar a encontrar outros buracos negros na Via Láctea, a equipa também espera que dê pistas sobre fusões cósmicas violentas que produziram ondas gravitacionais suficientemente fortes para serem detectadas a partir da Terra. Afinal, alguns cientistas consideram que estas fusões podem acontecer em sistemas com configurações semelhantes às do HR 6819. Veremos que outras novidades este sistema triplo nos trará.