Confinamento pôs mais gente a praticar actividade física
Estudo de cinco universidades portuguesas mostra que 45% das pessoas que eram fisicamente inativas antes da pandemia iniciaram a prática de alguma atividade física.
Pode parecer um paradoxo, mas o último mês e meio de confinamento, motivado pela covid-19, tornou os portugueses mais activos fisicamente. Um estudo de um consórcio de cinco universidades para o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) mostra que 45% das pessoas que não praticavam desporto antes da pandemia passaram agora a fazê-lo. Programas criados pelos próprios ou seguidos através das redes sociais e caminhadas foram as soluções preferidas. A introdução do exercício nas rotinas diárias ajudou a lidar com o stress, dizem os especialistas.
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Pode parecer um paradoxo, mas o último mês e meio de confinamento, motivado pela covid-19, tornou os portugueses mais activos fisicamente. Um estudo de um consórcio de cinco universidades para o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) mostra que 45% das pessoas que não praticavam desporto antes da pandemia passaram agora a fazê-lo. Programas criados pelos próprios ou seguidos através das redes sociais e caminhadas foram as soluções preferidas. A introdução do exercício nas rotinas diárias ajudou a lidar com o stress, dizem os especialistas.
O estudo é publicado no portal do IPDJ nesta segunda-feira. Os dados mostram que 72% das pessoas realizam algum tipo actividade física estruturada, mais dois pontos percentuais do que antes do isolamento social. Os inquiridos reportaram também um aumento de 43% no tempo despendido, por semana, em actividades físicas de intensidade vigorosa. Também o período dedicado a caminhar aumentou 4%.
Estes resultados “podem ser explicados como consequência de uma maior disponibilidade temporal” motivada pelo confinamento, admite Luís Sardinha, presidente da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, uma das instituições de ensino superior que integra o consórcio que desenvolveu este estudo. Além disso, o facto de a “indústria do fitness” ter criado soluções que não implicam a saída das pessoas das suas casas, aliado a campanhas de sensibilização por parte dos media e do Governo, “tiveram impacto na vida dos portugueses, priorizando a prática de actividade física nas suas rotinas diárias de forma a melhorarem a capacidade para lidar com o stress induzido pelo confinamento”, avalia o mesmo especialista.
De acordo com o estudo, os programas criados pelos próprios participantes são a forma de actividade física realizada com maior frequência durante o período de confinamento. É esta a resposta dada por 26% dos inquiridos. Os programas de exercícios seguidos através das redes sociais (22%) e as actividades de caminhada (20%) foram as outras actividades preferidas dos portugueses no último mês e meio.
Este estudo é da autoria de um consórcio de cinco universidades nacionais (Universidade de Lisboa, Universidade do Porto, Universidade de Coimbra, Universidade de Évora e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), que têm cursos na área das Ciências do Desporto, e é realizado no âmbito do Sistema de Vigilância e Monitorização da Actividade Física e Desportiva, uma iniciativa do IPDJ lançada em 2009, que envolve mais de 15 mil participantes. O estudo específico sobre os meses de confinamento motivado pela pandemia envolve uma amostra de 700 pessoas. A avaliação dos padrões de actividade física e comportamento sedentário dos portugueses – que tem por base sensores de movimento e questionários – é feito junto das mesmas pessoas que, no ano passado, já tinham sido envolvidas num trabalho de investigação integrando a mesma iniciativa no ano passado.
Ao PÚBLICO, o secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, que tutela aquele organismo, mostra o desejo de que “os bons hábitos de prática de actividade física adquiridos neste período em que as pessoas ficaram em casa, em isolamento social, se possam manter, e até melhorar”, lembrando que a preocupação com a saúde e o bem-estar levaram o Ministério da Educação a lançar, no final de Março, a campanha #serAtivoEmCasa, que divulga recomendações de prática de actividade física em contexto de isolamento social, com um conjunto de suportes pedagógicos e práticos que potenciam a prática de actividade física em casa. Os conteúdos estão disponíveis através do site do IPDJ e nas redes sociais.
Ainda de acordo com o estudo, a maioria das pessoas (53%) interrompe o comportamento sedentário várias vezes por hora. De entre os inquiridos, 28% afirmam interrompê-lo pelo menos uma vez a cada hora, ao passo que 19% afirma passar várias horas em comportamento sedentário de forma prolongada.
Apesar de registar um aumento da prática da actividade física, esta investigação revela que o confinamento também veio aumentar os comportamentos sedentários. Em relação ao período anterior, cresceu em 63% o tempo passado a ver televisão e em 75% o tempo despendido ao computador ou consolas em contexto de lazer. Os portugueses também passaram mais tempo (um crescimento de 22%) a usar telemóveis ou tablets.
“Em contexto de vida normal, é natural a coexistência destes comportamentos”, contextualiza Luísa Sardinha, sublinhando que a evidência científica disponível mostra uma independência entre estes dois tipos de comportamentos. O presidente da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa dá o exemplo de alguém que, por norma, passa oito horas diárias em frente ao computador no seu trabalho, mas que no final do dia se desloca ao ginásio, ou sai à rua para realizar exercício físico. “Esta hipótese caracteriza uma pessoa que passa um elevado tempo em comportamento sedentário mas que também é considerada fisicamente activa.”