Um recomeço cheio de primeiras vezes

Agora, listamos mentalmente o que nos fez falta nesta série de dias a que já perdemos a conta, e apercebemo-nos que é tudo tão simples na verdade. Tudo será tão especial, tudo saberá a primeira vez.

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Trent Haaland/Unsplash

Recomeça…/ Se puderes/ Sem angústia/ E sem pressa. Recomeços. Todos ansiamos por este, um recomeço, ou na realidade um novo começo com todas as descobertas que um começo tem. Falamos de normalidade quase já sem saber o que verdadeiramente poderá significar. A pandemia, o tempo, o isolamento, o confinamento, o distanciamento físico e social, as horas infinitas de videochamadas e o desafio do teletrabalho. Tudo isto provocou, quase de modo axiomático, mudanças em cada um de nós.

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Recomeça…/ Se puderes/ Sem angústia/ E sem pressa. Recomeços. Todos ansiamos por este, um recomeço, ou na realidade um novo começo com todas as descobertas que um começo tem. Falamos de normalidade quase já sem saber o que verdadeiramente poderá significar. A pandemia, o tempo, o isolamento, o confinamento, o distanciamento físico e social, as horas infinitas de videochamadas e o desafio do teletrabalho. Tudo isto provocou, quase de modo axiomático, mudanças em cada um de nós.

Agora, listamos mentalmente o que nos fez falta nesta série de dias a que já perdemos a conta e apercebemo-nos que é tudo tão simples na verdade. Tudo será tão especial, tudo saberá a primeira vez. Como quando andamos de bicicleta sem rodinhas, pela primeira vez. Ou quando provamos um gelado que nos delicia, pela primeira vez. Quando descobrimos uma paisagem que nos corta a respiração, pela primeira vez. Quando ouvimos uma música que nos apaixona, pela primeira vez. Quando conhecemos um sorriso, pela primeira vez. Ou quando damos um abraço forte, pela primeira vez.

Ainda não sabendo nem quando nem como, sei que vou querer encher este novo começo de primeiras vezes. Daquelas que desencadeiam todas aquelas “-inas": a dopamina de um sorriso, a oxitocina de um abraço ou a adrenalina de um reencontro. Dar espaço a todos estes neurotransmissores que nos causam a euforia e ânsia da boa, que dão todo este poder a uma primeira vez. 

A primeira primeira vez que anseio é deixar de ter abraçar apenas como verbo. Deixar de ter os abraços sem braços e torná-los abraços de coração cheio e peito apertado. Dar abraços às melhores partes de mim. Dar abraços aos meus pequenos corações porque depois dos abraços vêm as brincadeiras do faz-de-conta, as construções, as birras, as lutas de almofadas, as verdadeiras descobertas e até o genuíno “o que trouxeste hoje para nós, titi?”.

Anseio por todas as primeiras vezes de existência serena, num jardim, numa esplanada, em que a companhia ou a falta dela, os sons envolventes e o olhar para o horizonte eram o suficiente para preencher qualquer vazio.

Anseio até pela primeira vez de pegar no carro, sintonizar a rádio e seguir estrada fora. Eu e a minha música, as notícias e até a “lengalenga” que já repetia em uníssono do trânsito da VCI ou da 2ª circular. Rir sozinha com o Bruno Aleixo, cantarolar e dançar ou simplesmente emocionar-me com cada canção. Pegar no carro e sentir a liberdade de ter para onde ir, com um destino definido ou quem sabe de me perder porque o destino pouco importa.

Entre toda a ânsia, seja qual for a primeira vez, que não nos falte a tranquilidade de dar tempo ao tempo. De admitir um começo totalmente novo, passo a passo, descoberta a descoberta, porque também nós ganhámos novas dimensões e teremos de as descobrir. “E os passos que deres, / Nesse caminho duro /Do futuro / Dá-os em liberdade.”