E se cientistas e alunos dos PALOP trocassem cartas durante o ano lectivo?

E se cientistas e estudantes trocassem cartas durante um ano lectivo? É esta a proposta de dois jovens cientistas portugueses na Alemanha para encorajar o ingresso no ensino universitário nas áreas das Ciências.

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Santi Vedri/Unsplash

Um projecto liderado por dois jovens cientistas portugueses na Alemanha quer sensibilizar crianças dos países de língua portuguesa a ingressarem no ensino superior e, em particular, a optarem por carreiras nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.

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Um projecto liderado por dois jovens cientistas portugueses na Alemanha quer sensibilizar crianças dos países de língua portuguesa a ingressarem no ensino superior e, em particular, a optarem por carreiras nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.

Liderado por Mariana Alves e Rafael Galupa, investigadores do Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL) na Alemanha, o projecto “Cartas com Ciência" tem como objectivo “fomentar trocas epistolares que permitam mitigar barreiras e preconceitos relacionados com o ensino superior e as carreiras de investigação, promovendo a literacia científica e a língua portuguesa”.

A iniciativa, segundo um comunicado dos promotores enviado à agência Lusa, será desenvolvida “através de correspondência por cartas entre crianças dos nove países de língua oficial portuguesa e investigadores lusófonos de todo o mundo”, através do site do projecto que será lançado na terça-feira, 5 de Maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa.

“Muitas destas crianças vão receber uma carta pela primeira vez”, sublinha Mariana Alves, explicando que, durante um ano lectivo, crianças e investigadores vão trocar um total de oito cartas em quatro rondas, sobre Investigação Científica e carreira, Ensino Superior, obstáculos, desafios e como superá-los”.

Rafael Galupa acrescenta que “Cartas com Ciência” vai congregar “investigadores lusófonos espalhados pelo mundo em universidades e institutos, sendo para qualquer pessoa que exerça investigação científica, como técnicos de laboratório, doutorandos, investigadores em pós-doutoramento, chefes de investigação, docentes universitários, entre outros”.

“Toda a organização é assegurada pela nossa equipa. Associaremos as turmas participantes — inscritas pelos respectivos professores, a um número de investigadores igual ao número de alunos de cada turma, adoptando assim uma política que fomente a inclusão: todos os alunos de cada turma participam no programa independentemente do seu interesse inicial em carreiras científicas”, frisa o investigador.

Pela “redução das desigualdades"

Segundo os responsáveis do projecto, os interesses académicos e/ou recreativos dos alunos — por exemplo, animais, espaço ou corpo humano, e futebol, leitura ou música —, serão tidos em conta na escolha dos investigadores com que se corresponderão”.

Para Mariana Alves e Rafael Galupa, ao suscitar um maior interesse pelo universo do ensino superior e da ciência, o projecto constituiu um “passo estratégico” rumo à mudança social, promovendo “a redução das desigualdades e a qualidade na educação dos cidadãos lusófonos, duas das 17 metas de desenvolvimento sustentável estabelecidas pelas Nações Unidas para 2030”.

“Mais crianças encararão as carreiras de investigação e o ensino superior como uma possibilidade, especialmente em contextos desprivilegiados”, salienta Mariana Alves, recordando o facto de oito dos nove países que têm o português como língua oficial serem países em desenvolvimento, “cinco deles na lista da ONU dos Países Menos Desenvolvidos”.

A promoção do português como língua de conhecimento e de oportunidades, que é falada por mais de 250 milhões de pessoas no mundo, é outra das virtualidades destacadas. “No entanto, para muitas crianças que vivem nos PALOP, não sendo o português a sua língua materna, é a língua da escola. É com base nesta realidade que pretendemos promover o português como língua de conhecimento e de oportunidades, de solidariedade e de cooperação entre os PALOP”, realça Rafael Galupa.

O projecto conta com a parceria do Instituto Gulbenkian da Ciência e Universidade de Aveiro (Portugal), Osuwela (ONG moçambicana), Instituto Politécnico da Tundavala (Lubango, Angola), CISION e Idea Factory (Portugal).