A fatura e o futuro
Da mesma forma como apoiamos empresas em lay-off perante a sua perda de receitas (e apesar dos lucros consideráveis de algumas delas), não poderemos falhar às nossas instituições de Ensino Superior e Ciência. É o futuro que está em jogo, sem margem de erro.
Já se começa a vislumbrar a fatura da crise no Ensino Superior. É esperado um impacto sobre várias rubricas de receitas, das propinas de estudantes internacionais (receitas previstas de 20 milhões de euros), às vendas de bens e serviços (receitas anteriormente conseguidas de 86 milhões de euros), bem como sobre os serviços de ação social, por efeito de reduções no funcionamento das cantinas.
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Já se começa a vislumbrar a fatura da crise no Ensino Superior. É esperado um impacto sobre várias rubricas de receitas, das propinas de estudantes internacionais (receitas previstas de 20 milhões de euros), às vendas de bens e serviços (receitas anteriormente conseguidas de 86 milhões de euros), bem como sobre os serviços de ação social, por efeito de reduções no funcionamento das cantinas.
Os impactos sobre cada uma das áreas acima referenciadas serão diferentes de estabelecimento para estabelecimento, dado a sua maior ou menor capacidade de obtenção destas receitas (fruto de condicionantes várias).
Por exemplo, a Universidade de Coimbra, que tem um peso significativo de receitas provenientes do Turismo e de alunos internacionais, já veio anunciar um possível impacto de sete milhões de euros.
Existem outras universidades e politécnicos que podem ser consideravelmente afetados, dado que muitos dependiam de protocolos internacionais, que podem ficar em risco devido aos problemas de mobilidade.
Existem ainda outros impactos previsíveis sobre outras rubricas, incluindo as propinas, por força da redução do número de alunos, bem como dos projetos de investigação, por força de problemas na execução de fundos comunitários.
Estamos a falar de um problema grave, que é agudizado por um cenário de subfinanciamento crónico. A ideia de entrar numa espiral deflacionária significará um enorme problema, para um país que ainda possui problemas sérios pelas suas baixas taxas de qualificação avançada.
Esta é uma questão em que o ministro Manuel Heitor não se poderá refugiar no chavão da “autonomia responsável”. Trata-se de uma questão fulcral do ponto de vista das decisões de um Governo que quis fazer do Ensino Superior e Ciência uma bandeira.
A resposta dada por docentes e investigadores tem sido extraordinária. Foram eles que mantiveram o sistema à tona, tal como foram sempre os responsáveis por conseguir aumentar as receitas próprias.
Atirar sobre este setor significa um problema geopolítico grave. Nenhum país consciente abandona a sua capacidade tecnológica, académica e científica, sendo esta uma chave para sair de qualquer crise.
Se houve um momento em que se comprovaram as teses da economista Mariana Mazzucato, foi este. A resiliência do capital do Estado e da sua capacidade de resposta perante a crise foram claramente demonstrados.
Estamos numa época em que finalmente se começam a perceber as consequências das políticas de paraísos fiscais e da circulação financeira.
É também a altura para repor a questão da criação de Valor, matéria muito trabalhada pelos primeiros economistas institucionalistas americanos e recuperado pela economista italiana no fabuloso livro O valor de tudo: dar e tirar na economia global.
Sei que estamos em boa companhia, naqueles que percebem o momento de se investir seriamente neste setor e assim abrir horizontes para uma transformação da economia portuguesa.
Da mesma forma como apoiamos empresas em lay-off perante a sua perda de receitas (e apesar dos lucros consideráveis de algumas delas), não poderemos falhar às nossas instituições de Ensino Superior e Ciência. É o futuro que está em jogo, sem margem de erro.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico