Aldir Blanc, um dos grandes compositores brasileiros, não resistiu à covid-19
Parceiro de João Bosco em canções imortais da música popular brasileira, Aldir Blanc não resistiu à covid-19 e morreu na madrugada desta segunda-feira, no Rio de Janeiro. Tinha 73 anos e estava internado desde 23 de Abril.
Aldir Blanc foi um dos maiores compositores da música popular brasileira e o seu nome está associado a inúmeras canções que fizeram história, como O bêbado e a equilibrista, Agnus sei, Bala com bala, O mestre-sala dos mares ou Dois pra lá, dois pra cá. No dia 23 de Abril foi-lhe diagnosticada covid-19 e encontrava-se internado no Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, em estado considerado grave, segundo os relatos da imprensa brasileira, que ia acompanhado o evoluir do seu estado de saúde.
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Aldir Blanc foi um dos maiores compositores da música popular brasileira e o seu nome está associado a inúmeras canções que fizeram história, como O bêbado e a equilibrista, Agnus sei, Bala com bala, O mestre-sala dos mares ou Dois pra lá, dois pra cá. No dia 23 de Abril foi-lhe diagnosticada covid-19 e encontrava-se internado no Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, em estado considerado grave, segundo os relatos da imprensa brasileira, que ia acompanhado o evoluir do seu estado de saúde.
Acabou por não resistir e morreu na madrugada desta segunda-feira. Tinha 73 anos. Quando completou 50 anos, em 1996, foi lançado um disco com 20 das canções que o celebrizaram, num tributo reconhecido à sua obra. A apresentação, gravada, é de Dorival Caymmi.
Nascido Aldir Blanc Mendes em 2 de Agosto de 1946 no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, residiu também no bairro da Tijuca. Começou a compor aos 16 anos e aos 17 aprendeu a tocar bateria, fundando o grupo Rio Bossa Trio. Segundo a Enciclopédia da Música Brasileira (Art Editora, São Paulo, 1977), a entrada no grupo do músico Sílvio Silva Júnior, que Aldir conhecera em Paquetá, em 1965, mudou-lhe o nome para GB-4.
Aos 20 anos, em 1966, especializou-se em psiquiatria na Faculdade de Medicina e Cirurgia, e em 1968 concorreu ao III Festival Internacional da Canção (FIC) da TV Globo com A noite, a maré e o amor, uma parceria com Sílvio Silva Júnior. No ano seguinte, 1969, concorreu ao II Festival Universitário de Música Popular Brasileira e desta vez conseguiu ver classificadas três músicas suas: Nada sei de eterno, Mirante e De esquina em esquina, interpretadas, respectivamente, por Taiguara, Maria Creuza e Clara Nunes. De volta aos festivais, em 1970, viu classificadas Diva no V FIC e Amigo é pra essas coisas no II Festival Universitário de MPB. Foi nessa época que, junto com Ivan Lins e César Costa Filho, integrou o Movimento de Artistas Universitários (MAU) que pretendia uma maioria divulgação da música brasileira para lá dos festivais.
João Bosco e Elis Regina
Foi ainda em 1970 que conheceu o jovem compositor mineiro João Bosco (nascido em Ponte Nova, em 1946), à época estudante de engenharia em Ouro Preto. Este foi-lhe enviando cassetes com músicas suas, para que Aldir escrevesse as letras, e o início da profícua parceria entre ambos acabou por ter a primeira expressão pública em 1972, com a gravação de Agnus sei, lançada em vinil como primeiro volume da colecção Disco de Bolso do jornal O Pasquim. Mas foi com a gravação, nesse mesmo ano, de Bala com bala, por Elis Regina, que o trabalho de ambos teve verdadeira projecção.
Em 1973 abandonou de vez a Medicina para se dedicar exclusivamente à música. E nesse mesmo ano a RCA Victor lançou um LP onde João Bosco interpretava apenas composições dele com Aldir, como a pioneira Agnus sei, Bala com bala e Cabaré. A parceria com João Bosco é talvez a mais conhecida do grande público, e que Elis Regina ajudou muito a divulgar, gravando, além da já citada Bala com bala, também Dois pra lá, dois pra cá, O mestre-sala dos mares, Caça à raposa e principalmente O bêbado e a equilibrista.
Esta última, lançada em 1979, tornou-se nas vozes de João Bosco e sobretudo de Elis Regina um hino contra a ditadura militar e pela amnistia dos presos políticos e exilados. Dizia: Meu Brasil!/ Que sonha com a volta do irmão do Henfil/ Com tanta gente que partiu/ Num rabo de foguete”. Era uma referência explícita ao exílio do sociólogo Betinho, irmão do cartoonista Henfil (Henrique de Sousa Filho) e do músico Francisco Mário (a história é contada no documentário Três Irmãos de Sangue, de Ângela Patricia Reiniger, 2006)
Guinga e outras parcerias
Mas Aldir Blanc foi também parceiro musical de criadores como Guinga, Edu Lobo, Raphael Rabello, Cacaso, Bororó, Ivan Lins ou Paulo César Pinheiro, entre muitos outros. Essa diversidade de colaborações é espelhada nas muitas composições gravadas por diversas vozes da música brasileira (como Elis Regina, Simone ou Leila Pinheiro) e está também documentada no disco que celebrou os seus 50 anos de vida, onde colaboraram Edu Lobo, Paulinho da Viola, Danilo Caymmi ou Nana Caymmi.
Do lado português, há um disco que lhe é inteiramente dedicado, A Poesia de Aldir Blanc, da cantora Maria João e convidados, com arranjos assinados por ela e por João Farinha. Com canções das duplas de Aldir com João Bosco ou Guinga, conta com André Mehmari, Guinga, João Farinha, André Nascimento, Silvan Strauss, Eleonor Picas, Filipe Raposo, Ricardo Dias, Luís Ferreirinha, Mário Delgado, Sérgio Carolino, Mário Laginha e Filho da Mãe.
A par de escritor de canções, Aldir Blanc era também cronista. Em 2006, publicou o livro Rua dos Artistas e Transversais (Editora Agir), reunindo em colectânea os seus livros de crónicas Rua dos Artistas e Arredores (1978) e Porta de Tinturaria (1981), além de outras crónicas escritas para o Jornal do Brasil e para a revista Bundas.