João Rodrigues quer dar a conhecer os melhores produtos de Portugal
Um site, criado pelo chef do Feitoria, que é uma rede de partilha e apoio aos produtores. É o Projecto Matéria, com profissionais cujo trabalho João Rodrigues gostaria que todos descobrissem.
O mar, ondas a rebentar numa praia, peixes, mãos a amassar o pão, uma fogueira, um limoeiro, ovelhas, porcos, oliveiras. São imagens de produtos e das paisagens onde eles crescem e se desenvolvem que nos recebem, num vídeo, quando entramos no site do Projecto Matéria. Mas, ao navegar pelo seu interior, são as pessoas por trás destes produtos que vamos descobrir.
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O mar, ondas a rebentar numa praia, peixes, mãos a amassar o pão, uma fogueira, um limoeiro, ovelhas, porcos, oliveiras. São imagens de produtos e das paisagens onde eles crescem e se desenvolvem que nos recebem, num vídeo, quando entramos no site do Projecto Matéria. Mas, ao navegar pelo seu interior, são as pessoas por trás destes produtos que vamos descobrir.
Desde 2015 que João Rodrigues, chef do restaurante Feitoria (uma estrela Michelin), do Hotel Altis Belém, em Lisboa, começou a pensar no Matéria. “Inicialmente teve a ver com uma necessidade profissional”, recorda. “Estava à procura de algo que tivesse a ver com a identidade portuguesa.” Queria que a carta do Feitoria reflectisse o país e percebeu que só o poderia fazer se apresentasse os produtos mais genuínos.
“Liguei a chefs amigos espalhados pelo país e percebi que havia uma falta de informação generalizada.” Todos conheciam alguns produtores, mas, percebeu João, faltava uma rede que ligasse tudo isto. “Pensei que era boa ideia começar a mapear o que existia.”
No ano seguinte, o resultado das primeiras visitas a produtores, feitas com tempo e verdadeira curiosidade, foi um Menu Matéria onde os produtos eram de tal maneira as estrelas que vinham até à mesa ainda crus para que os clientes os ficassem a conhecer melhor, os pudessem cheirar, saber de onde vinham, quem os tinha produzido.
A seguir surgiram os jantares com chefs estrangeiros convidados, que passavam alguns dias numa região de Portugal precisamente para conhecerem, com calma e profundidade, os produtos com os quais iam depois cozinhar.
Entretanto, o site estava já a ser pensado por João e pela mulher, Vânia. Mas foi preciso esperar. Para pôr em prática a ideia, que implica viajar pelo país, fazer pequenos textos, fotografar, e contar as histórias que se vão descobrindo, era preciso apoio. E ele só chegou recentemente, através do financiamento do Turismo de Portugal – a tempo de pôr o site operacional mesmo quando a pandemia do covid-19 começava a fechar os restaurantes por todo o lado.
Apesar de o país estar praticamente parado, o site – que apela à colaboração de todos – tem recebido muitas sugestões sobre produtores cujo trabalho vale a pena conhecer. Assim que for possível sair de casa novamente, a equipa do Matéria (que, para além de João e Vânia, conta com a ajuda dos jornalistas Tiago Pais e Patrícia Serrano e de José Pedro Silva) vai voltar a fazer visitas.
“Não colocamos no site nenhum sítio que não tenhamos visitado”, explica João. Só assim podem atestar a qualidade do produto, a forma como é feito e garantir a sua genuinidade.
Nas conversas que vão tendo com os produtores descobrem também as dificuldades que eles enfrentam devido à pequena escala – que é, por outro lado, o que faz com que os produtos que saem das suas mãos sejam únicos e especiais. O novo coronavírus, diz João, veio afectá-los de maneiras muito diferentes: “Neste momento há gente com dificuldade em escoar o produto que já tinha e outros que dizem que nunca trabalharam tanto.”
E assim, através do Projecto Matéria, viajamos por Portugal e encontramos, por exemplo em Vinhais, a dona Elisa Augusta, que fez o seu primeiro enchido aos 12 anos e hoje, aos 88, continua a fazê-los e tem a sua própria vara de porcos bísaros; na Quinta do Anjo, perto de Setúbal, o Rui “Bolinhas” Simões, queijeiro de 57 anos dedicado ao Queijo de Azeitão feito artesanalmente; passamos pela banca de Luísa Marques no Mercado Municipal de Peniche, “paragem obrigatória para todos os apreciadores de um dos produtos mais típicos da terra: o peixe seco”; e espreitamos a produção de cogumelos shiitake dos holandeses Klaas Zwart e Francien Nijhof, em Tábua, Beira Alta; ou os famosos queijos chèvre de Adolfo Henriques na Maçussa, próximo do Cartaxo.
Estes são apenas alguns entre muitos projectos (e que se pretende que venham a ser muitos mais) reunidos até agora no Matéria, sempre com texto (em português e inglês), fotos, e informações de contacto, para além da indicação de quem os apresentou a João Rodrigues.
A ideia tem vindo a crescer e neste momento inclui também um espaço para “projectos que admiramos”, onde cabem vários artesãos (Caulino Ceramics, Margarida Fábrica, Rival, Sara Bozzini, Sedimento Studio ou Studioneves), mas também mercearias como a Comida Independente, enologia, projectos editoriais e eventos.
O objectivo, conta João Rodrigues, é continuar a alargar (mais para a frente também com ligações fora do país), juntar neste site tudo o que de melhor se faz em Portugal nestas áreas e torná-lo um lugar de encontro para que ninguém possa voltar a dizer ‘isso é fantástico, nunca tinha ouvido falar’.