Donald Trump acusa a China de querer travar a sua reeleição

Presidente norte-americano diz que o Governo chinês prefere a eleição de Joe Biden e sugere que a forma como o país geriu a pandemia faz parte dessa estratégia. Sondagens mais recentes apontam para vitória do candidato do Partido Democrata em estados importantes.

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“A China fará tudo o que puder para me fazer perder esta corrida", disse Trump Reuters/CARLOS BARRIA

A guerra de palavras entre os Estados Unidos e a China, que começou com as negociações comerciais do ano passado e subiu de tom já durante a pandemia do novo coronavírus, vai durar pelo menos até às eleições presidenciais norte-americanas, em Novembro. Numa entrevista à agência Reuters, o Presidente Donald Trump voltou a acusar o Governo chinês de ter escondido a gravidade do vírus e sugeriu, pela primeira vez, que esse comportamento teve como objectivo dificultar a sua reeleição.

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A guerra de palavras entre os Estados Unidos e a China, que começou com as negociações comerciais do ano passado e subiu de tom já durante a pandemia do novo coronavírus, vai durar pelo menos até às eleições presidenciais norte-americanas, em Novembro. Numa entrevista à agência Reuters, o Presidente Donald Trump voltou a acusar o Governo chinês de ter escondido a gravidade do vírus e sugeriu, pela primeira vez, que esse comportamento teve como objectivo dificultar a sua reeleição.

“A China fará tudo o que puder para me fazer perder esta corrida”, disse o Presidente norte-americano, acusando as autoridades chinesas de preferirem a eleição do candidato do Partido Democrata, Joe Biden. Na opinião de Trump, a vitória de Biden faria com que os Estados Unidos aliviassem a pressão sobre a China para a renegociação de acordos comerciais.

Depois de um período inicial, até finais de Fevereiro, em que elogiou a reacção da China e da Organização Mundial de Saúde – dizendo, no Twitter, que ambas estavam a trabalhar “com transparência” e “de forma inteligente” –, Trump passou a acusá-las de serem as principais responsáveis pela pandemia e suas consequências nos Estados Unidos.

Do outro lado, em Pequim, a tarefa de responder ao Presidente norte-americano foi atribuída a segundas figuras do regime, que têm acusado Trump de querer esconder os seus próprios erros na gestão da crise. São comuns as trocas de acusações em que um lado acusa o outro de ter fabricado a pandemia, sem provas que sustentem qualquer afirmação num ou noutro sentido.

Na entrevista à agência Reuters, o Presidente norte-americano manteve a regra de não acusar directamente Xi Jinping, de quem disse, em várias ocasiões, ser amigo. Mas, pela primeira vez, Trump estabeleceu uma ligação directa entre a pandemia e as eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Questionado sobre se está em preparação alguma resposta concreta à China pela forma como geriu o desenvolvimento da crise de saúde, o Presidente norte-americano não entrou em pormenores e disse que o assunto ainda está a ser investigado.

“Eu tenho poder para fazer muitas coisas”, disse Trump. “E eles estão sempre a usar relações públicas para fazerem crer que são inocentes.”

Sondagens preocupam

A acusação de que a China está apostada em impedir a reeleição de Trump em Novembro surge uma semana depois de o site Politico ter divulgado um relatório, entregue ao Partido Republicano, com conselhos a congressistas, senadores e outros responsáveis sobre as respostas a dar em público às críticas de má gestão pela Casa Branca.

Na “versão curta” do relatório de 57 páginas, os estrategas da O’Donell & Associates – uma empresa ligada a figuras republicanas como o secretário de Estado Mike Pompeo, e o senador do Arkansas Tom Cotton – sugerem que a resposta deve centrar-se na China.

“A China provocou a pandemia, encobriu-a, mentiu e açambarcou as reservas mundiais de equipamento médico”, diz uma das frases que são propostas para serem usadas em entrevistas e conferências de imprensa, entre outros exemplos. “O meu opositor [Joe Biden] é fraco com a China, não tem coragem para enfrentar o Partido Comunista Chinês e não se pode confiar nele para isso”; “Eu vou fazer frente à China, trazer de volta os postos de trabalho nas fábricas e impor sanções à China pelo seu papel na propagação desta pandemia.”

Numa altura em que os comícios com milhares de pessoas estão suspensos nos Estados Unidos por causa da pandemia, o Presidente Trump recebeu más notícias nos últimos dias sobre as suas possibilidades de reeleição.

Numa sondagem da empresa Ipsos para a agência Reuters, divulgada esta semana, 44% dos inquiridos disseram que vão votar em Joe Biden e 40% declararam apoio a Donald Trump. E o candidato do Partido Democrata surge com uma vantagem de seis pontos no Michigan, Wisconsin e Pensilvânia – três estados da região do Midwest que foram importantes para a vitória de Trump em 2016.

De acordo com a agência Associated Press, alguns conselheiros do Presidente norte-americano já dão o estado do Michigan como perdido e têm sérias dúvidas de que seja possível vencer na Florida e no Arizona, outros dois estados que deram a vitória a Trump há quatro anos.

Esta quinta-feira, a mesma agência noticiou que o Presidente norte-americano gritou com o seu director de campanha, Brad Parscale, quando foi confrontado com os sinais de que a sua reeleição pode estar em risco. Segundo a AP, Trump tem sido aconselhado a manter um perfil discreto nas conferências diárias na Casa Branca sobre a pandemia e a não comentar questões médicas.

Na sondagem Ipsos/Reuters, feita no início da semana e já depois de Trump ter sugerido aos cientistas da Casa Branca que fizessem estudos sobre o efeito da injecção ou ingestão de desinfectantes em doentes com covid-19, apenas 43% dos inquiridos avaliaram com nota positiva a gestão da pandemia por parte do Presidente norte-americano.