A arquitectura modernista de Esposende chega às páginas da Monocle
Revista britânica propõe uma visita guiada à Casa das Marinhas, de Viana de Lima, e à Casa de Ofir, de Fernando Távora, elogiando a “nova vaga” desta época da arquitectura portuguesa.
Não é a primeira vez que a revista britânica Monocle dedica atenção a Portugal. No número do seu 10.º aniversário, em 2017, por exemplo, publicou uma reportagem de 64 páginas sobre o estado do país, em diversos domínios, que então era apresentado como “algo notável”, uma nação “orgulhosa, pronta para o negócio e engrenada com o resto do mundo”.
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Não é a primeira vez que a revista britânica Monocle dedica atenção a Portugal. No número do seu 10.º aniversário, em 2017, por exemplo, publicou uma reportagem de 64 páginas sobre o estado do país, em diversos domínios, que então era apresentado como “algo notável”, uma nação “orgulhosa, pronta para o negócio e engrenada com o resto do mundo”.
Nos tempos de pandemia que agora vivemos, continuamos “engrenados” com o mundo global, mas pelas razões más que todos conhecemos. Mas isso não impediu a Monocle de regressar a Portugal, desta vez com um pequeno dossier de seis páginas (e 17 fotografias) dedicado à arquitectura modernista do concelho de Esposende, no n.º 133, relativo ao mês de Maio.
Com o título “Nova vaga”, e uma chamada de atenção para a série de casas de férias espalhadas ao longo das dunas e das praias desta região do litoral nortenho, que “testemunham a idade de ouro da arquitectura modernista”, o jornalista americano Ivan Carvalho, correspondente da revista em Milão, e o fotógrafo espanhol Luis Diaz Diaz (que também trabalha para o New York Times) propõem uma visita guiada a alguns desses exemplares que marcam uma época.
Guiados por Paulo Guerreiro, historiador da arquitectura e responsável pelo departamento do património cultural da Câmara Municipal de Esposende, os dois jornalistas — que, soube o PÚBLICO, visitaram a terra no Verão do ano passado — começam por, em volta do icónico farol, contextualizar o lugar da cidade na geografia do país. Detêm-se, depois, nas duas casas mais celebradas deste autêntico museu da arquitectura de vilegiatura: a Casa de Ofir (1955-58), de Fernando Távora, e a Casa das Marinhas, de Viana de Lima (1954-57), concentrando esta o maior número de fotografias do artigo.
Depois de lembrar que Távora foi professor dos dois ‘Pritzker’ portugueses, Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura, a Monocle diz que a sua Casa de Ofir combina um telhado de telha de barro, à moda da arquitectura tradicional portuguesa, com a linguagem racionalista do uso do betão, pontuada com “uma chaminé de cor amarelo brilhante”.
Mais detalhada é a visita à Casa das Marinhas, que é actualmente uma casa-museu e a sede deste conjunto patrimonial que a autarquia de Esposende decidiu valorizar, inventariar e divulgar com o lançamento de um mapa em Abril de 2017.
Viana de Lima (1913-1991) é, de resto, um filho da terra, tendo-se tornado depois também uma referência da primeira geração da Escola do Porto. Decidiu construir esta pequena casa de férias num terreno à saída da cidade tendo integrado nela o velho moinho que aí existia. “O que mais impressiona em Viana de Lima é a sua capacidade de transformar materiais inexpressivos — o betão, o vidro — em formas poéticas”, diz à Monocle Paulo Guerreiro, lembrando que o arquitecto português se cruzou com Le Corbusier nos Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna (CIAM).
“As marcas de Le Corbusier estão bem visíveis no uso das cores primárias que decoram a fachada virada a oeste [ao mar], com as amplas janelas abertas para a luz solar que ilumina uma sala de estar com um grande pé-direito”, descreve Ivan Carvalho, que, a certa altura, realça mesmo o contraste entre a discrição da arquitectura modernista de Esposende, muitas vezes resguardada dentro de uma vegetação exuberante, e a opulência, sempre muito fotogénica, das casas de férias de Palm Springs, na Califórnia.
A Monocle conclui a visita ouvindo um dos moradores neste “cluster de casas modernistas que marcaram um capítulo essencial na arquitectura portuguesa”, João Pinto de Sousa, proprietário, em Ofir, da casa cor-de-rosa e pós-modernista desenhada já nos anos 80 por Alcino Soutinho (e cuja fotografia abre o artigo).
“Os arquitectos, em Esposende, tiveram a capacidade de usar as referências do nosso passado, mas fizeram com elas algo completamente novo, que é inspirador olhar, mas, acima de tudo, habitar”, testemunha o morador.