A desunião geral
Esta é a segunda conversa da nossa quinta memória, dedicada ao ódio.
Até 1870, a França é um império governado por um Napoleão: o Segundo Império e o imperador é o Luís Napoleão Bonaparte, Napoleão III Imperador dos franceses e sobrinho do Napoleão Bonaparte. Mas o Império perdeu-se por causa de um telegrama. Em 1870, uma troca de mensagens entre o Embaixador de França e o rei da Prússia é adulterada pelo chanceler Bismarck de maneira a parecer que o rei da Prússia se referira ao embaixador francês de forma humilhante.
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Até 1870, a França é um império governado por um Napoleão: o Segundo Império e o imperador é o Luís Napoleão Bonaparte, Napoleão III Imperador dos franceses e sobrinho do Napoleão Bonaparte. Mas o Império perdeu-se por causa de um telegrama. Em 1870, uma troca de mensagens entre o Embaixador de França e o rei da Prússia é adulterada pelo chanceler Bismarck de maneira a parecer que o rei da Prússia se referira ao embaixador francês de forma humilhante.
O episódio, em si insignificante, vai excitar o nacionalismo francês e levar Napoleão III a declarar guerra à Prússia. Grave erro. O que era para ser um momento de glória transformou-se numa catástrofe: a França perde rapidamente a guerra e, com ela, as suas Províncias da Alsácia e da Lorena e, finalmente, o próprio império. Humilhação suprema: é em Versalhes que o rei da Prússia vai ser coroado imperador do Império Alemão.
Em lugar do Segundo Império francês nasce a Terceira República. De esquerda, laica, fortemente progressista, com tendências socialistas. Nos seus primeiros anos, a República Francesa aplica-se em reformar a instrução nacional subtraindo-a à influência da Igreja Católica... Se a direita católica e monárquica não tem a hegemonia cultural nem o poder político, se ainda por cima ela tem de arcar com o opróbrio da tonta derrota de Napoleão III na guerra que desnecessariamente foi procurar com os Alemães, resta aos católicos fazerem aquilo que antes tinham visto fazer aos protestantes e judeus quando impedidos de ter cargos no Estado: fazer negócios no privado, tornarem-se comerciantes e banqueiros.
Nasceu assim a Union Générale, ambiciosa sociedade bancária dominada por católicos e destinada a aproveitar o melhor da revolução industrial, da empresa colonial, da construção de ferrovias e da globalização do final do século XIX. Entre 1878 e 1881, os lucros dos accionistas da Union Générale sextuplicaram, até porque a Bolsa estava ao rubro em França. Infelizmente, esses eram os sinais costumeiros de uma bolha que, como de costume, ninguém viu, e que os apoiantes da Union Générale se recusaram a aceitar. Desta história obscura nasce muito daquilo que o final do século XIX e a primeira metade do século XX europeu foram.
Esta é a segunda conversa da nossa quinta memória, dedicada ao ódio.
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