Autoridades estiveram um mês sem conseguir vigiar todos os infectados
Forças de segurança precisam que autoridades de saúde lhes digam quem está doente para fiscalizarem confinamento, tem insistido Eduardo Cabrita. PSP garante que problema está resolvido.
A falta de acesso às listas de todas as pessoas infectadas com covid-19 em Portugal fez com que, durante um mês, PSP e a GNR tenham sido impossibilitadas de confirmar se os doentes e as pessoas que com eles lidaram de perto estavam, efectivamente, a cumprir o confinamento domiciliário obrigatório que lhes foi decretado.
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A falta de acesso às listas de todas as pessoas infectadas com covid-19 em Portugal fez com que, durante um mês, PSP e a GNR tenham sido impossibilitadas de confirmar se os doentes e as pessoas que com eles lidaram de perto estavam, efectivamente, a cumprir o confinamento domiciliário obrigatório que lhes foi decretado.
Mas neste momento a Polícia diz que o problema já se encontra resolvido — muito embora o mais recente relatório da Estrutura de Monitorização do Estado de Emergência (EMEE), que diz respeito ao período entre 3 e 17 de Abril, ainda o mencione várias vezes, tanto pelas palavras da direcção nacional da PSP como pelas declarações do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.
Nesse documento a GNR faz uma vaga alusão à necessidade de melhorar a articulação com as entidades sanitárias no que respeita às listas de confinamento obrigatório. Já a PSP escalpeliza mais o problema: “Constata-se que 44,5% das identificações constantes nas listagens estão incompletas, inibindo-se assim a prossecução das medidas de vigilância activas”, queixa-se a PSP, que contabilizou 2094 pessoas em todo o país que não conseguiu vigiar por não lhe terem sido fornecidos dados completos sobre elas (nome e morada), embora mantenha outras 1969 sob controlo.
De 18 de Abril e até ontem as autoridades tinham detido 34 pessoas por violação do confinamento obrigatório, a que acrescem mais 29 no período do estado de emergência imediatamente anterior, ao qual diz respeito este relatório. Se somarmos os casos do primeiro estado de emergência, estar-se-á a falar de perto de uma centena de ocorrências deste tipo. Há o caso da idosa infectada na Madeira que, como se sentia bem, fazia a sua vida normal. Foi detida três vezes, uma delas no supermercado. A estas pessoas é assacado não só o crime de desobediência como também o de propagação de doença. Também o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, tem vindo a mencionar o problema nas reuniões da EMEE, dizendo que as forças de segurança precisam de saber quem está infectado para fiscalizarem o cumprimento do confinamento.
Contactada pelo PÚBLICO, a Direcção-Geral da Saúde garante que as autoridades sanitárias remetem as listagens das pessoas que estão sob vigilância activa e das respectivas moradas para a PSP e a GNR, como manda a lei. “O que poderá estar a acontecer é que, quando uma pessoa está doente, não será indicada uma data de terminus da vigilância activa, isto porque a vigilância irá manter-se o tempo necessário, enquanto o doente for positivo para a SARS-CoV-2”, explica esta entidade. Como estes dados não são estáticos, “pode até não existir dados a reportar naquele dia ou naquela semana, se a doença estiver controlada e não existirem novos casos, ou novos contactos de casos”.
Mas o confinamento dos infectados não é o único problema com que se têm confrontado as forças de segurança. A PSP diz-se incapaz de descortinar quanto tempo podem durar as deslocações de curta duração à rua permitidas aos portugueses para apanharem ar ou para praticarem desporto. Como se afere a curta duração? – pergunta a polícia.
Embora tenha havido um acatamento generalizado das medidas decretadas para o primeiro estado de emergência, já entre 3 e 17 de Abril, e em especial aos fins-de-semana, as autoridades detectaram aquilo que designam por “um crescente fluxo rodoviário para fora das zonas urbanas, rumo em especial às zonas de lazer, zonas litorais e fluviais”. E também um progressivo aligeirar do cumprimento da lei por parte de alguns grupos de cidadãos, nomeadamente em zonas urbanas sensíveis, com o aumento de pessoas a circular na via pública e aglomerados durante o período nocturno.