Venha daí esse Estado-Providência
A vida é mais do que a epidemiologia e a economia. Neste momento, não podemos prescindir das duas. Nem delas nem desse tal Estado-Providência.
A banca terá sido o único sector da economia nacional que não reclamou ajudas estatais, porque não teria legitimidade para o fazer, porque esta não é uma crise de falta de liquidez e porque isso seria politicamente inaceitável, depois de anos e anos de injecção de dinheiro público na reparação de sucessivos erros danosos de gestão.
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A banca terá sido o único sector da economia nacional que não reclamou ajudas estatais, porque não teria legitimidade para o fazer, porque esta não é uma crise de falta de liquidez e porque isso seria politicamente inaceitável, depois de anos e anos de injecção de dinheiro público na reparação de sucessivos erros danosos de gestão.
A generalidade das instituições bancárias chegou rapidamente a um modelo de entendimento para a criação de uma moratória comum, que suspendeu o pagamento das prestações do crédito ao consumo e à habitação, com a vantagem óbvia de evitar a falência dos consumidores e a derrocada do mercado imobiliário. Ambos agradecem a suspensão, pois é disso que se trata.
Praticamente todos os outros sectores olharam para o Estado como a única tábua de salvação, dada a proporção inédita dos estragos, como um escudo protector omnisciente e omnipresente.
A litania do “menos Estado”, a começar pela sua presença no sector da Saúde, tem os seus custos, como agora se vê sem apelo nem agravo, para desencanto dos liberais mais empedernidos. Nem todas as clínicas e serviços privados se mantiveram em funções e alguns deles decidiram fechar a tempo e horas, sem problemas de consciência de com isso contribuírem para sobrecarregar os limites do Serviço Nacional de Saúde.
Há uma consequência imediata desta imprevista e devastadora doença: quer o gestor da pequena e média empresa, quer o trabalhador em layoff só procura e só encontra protecção num Estado se este for minimamente digno das suas funções. A calamidade seria outra, bem pior, na ausência de um serviço público de saúde decente e de um regime de segurança social capaz de responder aos casos mais extremos de necessidade. Há qualquer coisa de intermédio entre o endeusamento do Estado e o dogma do mercado.
O país em confinamento viveu até aqui em suspensão, para que o sistema não implodisse e a propagação do vírus fosse adiada pelo máximo tempo possível. Os políticos escutaram os epidemiologistas até ao limite e os segundos pressionaram até onde puderam.
O alívio das restrições vai ser gradual em função da capacidade de internamento hospitalar, situada pelos especialistas em 4000 internamentos. Sim, a vida é mais do que a epidemiologia e a economia. Neste momento, não podemos prescindir das duas. Nem delas nem desse tal Estado-Providência.