Netflix lança concurso para argumentistas em Portugal, em parceria com ICA
Prémios são em dinheiro. Netflix pode ou não optar por produzir algum projecto. Iniciativa inédita surge com sector quase paralisado, em plena pulsão de internacionalização no ano da transposição da directiva que obrigará o streaming a contribuir para o audiovisual dos países da UE.
O Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) anunciou esta quarta-feira que se uniu numa parceria inédita com a plataforma de streaming Netflix para um concurso destinado a argumentistas. O objectivo, diz o ICA em comunicado, é “impulsionar a produção audiovisual portuguesa” e terá como resultado prémios para os dez melhores argumentos inéditos de séries de ficção ou documentário. O concurso não obriga a Netflix a desenvolver ou produzir qualquer dos projectos, sendo decisivo um potencial processo de negociação posterior entre a empresa e os finalistas.
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O Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) anunciou esta quarta-feira que se uniu numa parceria inédita com a plataforma de streaming Netflix para um concurso destinado a argumentistas. O objectivo, diz o ICA em comunicado, é “impulsionar a produção audiovisual portuguesa” e terá como resultado prémios para os dez melhores argumentos inéditos de séries de ficção ou documentário. O concurso não obriga a Netflix a desenvolver ou produzir qualquer dos projectos, sendo decisivo um potencial processo de negociação posterior entre a empresa e os finalistas.
O concurso começa já dia 30 de Abril, quinta-feira, e receberá candidaturas até 1 de Junho, com os resultados a serem anunciados até 30 de Julho de 2020. Podem concorrer “argumentistas e autores residentes em Portugal” e os seus projectos serão avaliados por um júri constituído pela jornalista e crítica literária Isabel Lucas, pelo realizador Jorge Paixão da Costa, pelo realizador e argumentista Possidónio Cachapa, pela argumentista espanhola Verónica Fernández, que é directora de conteúdos da Netflix, e pelo ex-programador da SIC Luís Proença, que é actualmente director adjunto de comunicação da Fundação Calouste Gulbenkian. Esta é a fase de pré-selecção.
Os detalhes do concurso constam do seu regulamento, que precisa que este “se destina à atribuição de apoio financeiro a projectos singulares de séries de ficção ou documentário, em fase de escrita e desenvolvimento”. São projectos que não tenham ainda entrado em fase de rodagem; um autor pode concorrer com um máximo de dois projectos e as séries em co-autoria podem ter “um máximo de cinco autores”. Depois de escolhidos dez projectos pelo júri, a Netflix selecciona as cinco melhores ideias (quatro de ficção e uma de documentário) e atribui-lhes um prémio de 25 mil euros; os restantes cinco seleccionados receberão seis mil euros.
Depois desta fase, cabe à Netflix decidir se quer dar seguimento a algum dos projectos finalistas. “Caso a Netflix não prossiga com o apoio a algum dos projectos, os autores mantêm todos os direitos sobre a obra”, lê-se no regulamento.
A parceria inédita reúne o instituto público responsável pela gestão e atribuição dos apoios públicos à produção, escrita ou distribuição de cinema e audiovisual português e a mais poderosa e representativa plataforma de streaming mundial. Presente no mercado português desde 2015, a Netflix está actualmente em mais de 190 países e tem mais de 182 milhões de assinantes. O concurso é um momento simbólico para um sector quase paralisado devido à pandemia da covid-19 e que ao mesmo tempo está expectante da transposição da directiva europeia do audiovisual que obrigará, país a país, à contribuição de serviços como a Netflix para os sectores nacionais. Nos últimos anos, a vontade de internacionalização da produção televisiva portuguesa tem-se tornado parte tanto do discurso de programadores e produtores quanto, mais recentemente, de governantes e de prospectores estrangeiros.
Em entrevista ao PÚBLICO em Fevereiro, Nuno Artur Silva manifestara já a vontade de exercer diplomacia audiovisual com serviços como a Netflix, além de um diálogo contributivo e legal. “Estamos, independentemente da adaptação da directiva, a falar com eles directamente – com os mais importantes”, admitia já, dizendo que a tutela quer “trabalhar com eles para os incentivar, independentemente da directiva ou acompanhando a transposição da directiva, a investirem em Portugal”.
O ICA cita, em comunicado enviado às redacções, o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, num elogio a uma “iniciativa especialmente relevante” que pode ser “um importante passo para a consolidação da ficção audiovisual e do documentário no nosso país”. Na mesma nota, diz o vice-presidente da área de Conteúdos Originais da Netflix, Diego Ávalos: “[A iniciativa] visa apoiar e estimular o grande talento da comunidade criativa portuguesa. Acreditamos firmemente que grandes histórias estão para chegar e podem seguir para qualquer lugar, e estamos confiantes em que este concurso abrirá novas janelas de inspiração e oportunidades para os criadores”.
Apesar de afectada com todos os outros agentes do sector impedido de ter rodagens em curso, a Netflix vive um momento peculiar com a grande valorização das suas acções em bolsa, ao mesmo tempo que continua a recorrer aos empréstimos para manter o seu nível de produção febril. Em plena pandemia, enviou um sinal ao mercado criando, por um lado, um fundo de emergência de 100 milhões de dólares para apoiar a comunidade criativa afectada pela covid-19 e, nos últimos dias, fundos de ajuda em Itália ou Países Baixos, no valor de um milhão de euros, em parceria com os institutos públicos e comissões locais na área do filme e do cinema.