Reabrir a economia não pode custar mais de 4 mil internamentos
Na reunião desta terça-feira, os especialistas já começaram a traçar alguns dos critérios essenciais para que as restrições possam começar a ser levantadas. Mas avisam que capacidade de resposta do SNS só se mantém com uma onda semelhante à que enfrentamos.
O regresso gradual e progressivo à realidade vai levar as pessoas para a rua e para o trabalho e, nessa fase, as autoridades de saúde vão acompanhar de perto um painel de indicadores que lhes permita perceber se a covid-19 está controlada. O número de internamentos é um desses indicadores. Se chegar a 4000 com a reabertura da economia significa que a capacidade de resposta dos serviços de saúde está muito mal.
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O regresso gradual e progressivo à realidade vai levar as pessoas para a rua e para o trabalho e, nessa fase, as autoridades de saúde vão acompanhar de perto um painel de indicadores que lhes permita perceber se a covid-19 está controlada. O número de internamentos é um desses indicadores. Se chegar a 4000 com a reabertura da economia significa que a capacidade de resposta dos serviços de saúde está muito mal.
O número foi apresentado pelos especialistas em saúde na reunião que decorreu esta manhã no Infarmed, à saída da qual o Presidente da República confirmou que o estado de emergência termina dia 2 de Maio à meia-noite. A reunião desta terça-feira foi sobretudo concentrada no desconfinamento, embora os detalhes só sejam conhecidos no dia 30 de Abril, quando António Costa apresentar o calendário do regresso à normalidade.
Fontes ouvidas pelo PÚBLICO explicam que haverá uma espécie de painel de indicadores a acompanhar na fase de desconfinamento, sendo que um deles serve para medir a sobrecarga da resposta dos serviços de saúde. Aqui foi apresentado um limite de stress para o número de internamentos situado em 4000, que nesta fase servirá como sinal de alarme.
Os especialistas alertam que estes 4000 internamentos não devem acontecer todos ao mesmo tempo, mas durante várias semanas, próximos de uma média de 1000 novos internamentos por semana (no máximo). Ou seja, o limite da resposta do Serviço Nacional de Saúde aproxima-se dos valores da onda de infecções que atravessamos neste momento e durante a qual, até agora, apenas 15% dos doentes foram internados e destes só 25% foram para Unidades de Cuidados Intensivos. No entanto, caso o aumento expectável de contágios após o levantamento de medidas de restrição ultrapasse esta média, então a capacidade de resposta entrará num cenário perigoso e que pode levar ao colapso do SNS.
Também por isso, o primeiro-ministro tem insistido que as medidas aplicadas pelo Governo serão avaliadas de 15 em 15 dias, avisando que pode haver recuos no levantamento das restrições, caso se confirme que os indicadores pioraram.
Menos casos durante 14 dias
Ainda assim, feitos os alertas, foram enumerados alguns dos critérios a ser cumpridos para que o país possa aliviar algumas restrições. De acordo com os especialistas do Instituto Ricardo Jorge, “o momento óptimo” de desconfinamento só poderá acontecer caso haja uma diminuição de casos durante pelos menos 14 dias sucessivos. Além disso, o número de infectados também deve ser inferior a 50 novos casos por dia e número de óbitos deve estar a cair de forma consistente (um cenário que se tem verificado nos últimos dias).
Deverá também registar-se uma queda de hospitalizações nos cuidados intensivos e um regresso da taxa de mortalidade generalizada de volta aos valores normais do período.
À saída desta reunião com as autoridades de saúde, Marcelo Rebelo de Sousa, que nesta terça-feira não fez quaisquer perguntas aos especialistas (apenas ouviu), defendeu que a “contenção continua a ser importante” e que é preciso “não entender a nova fase como qualquer facilitação”.