Regresso do futebol decide-se nos “próximos dias”
“Cimeira” inédita juntou, em São Bento, os líderes dos três “grandes”, unidos pelos efeitos que a suspensão das provas está a provocar nas finanças dos clubes.
Raras circunstâncias na história terão reunido na mesma sala e em sintonia os principais poderes do futebol português. Mas os efeitos perniciosos da crise do novo coronavírus levaram esta terça-feira ao Palácio de São Bento, em Lisboa, Fernando Gomes e Tiago Craveiro, presidente e director geral da Federação Portuguesa (FPF), Pedro Proença, presidente da Liga, Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira e Frederico Varandas, líderes do FC Porto, Benfica e Sporting. Todos ouviram da boca do primeiro-ministro, António Costa, que o regresso das competições “está dependente das autoridades de saúde” e poderá ser decidido “nos próximos dias”.
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Raras circunstâncias na história terão reunido na mesma sala e em sintonia os principais poderes do futebol português. Mas os efeitos perniciosos da crise do novo coronavírus levaram esta terça-feira ao Palácio de São Bento, em Lisboa, Fernando Gomes e Tiago Craveiro, presidente e director geral da Federação Portuguesa (FPF), Pedro Proença, presidente da Liga, Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira e Frederico Varandas, líderes do FC Porto, Benfica e Sporting. Todos ouviram da boca do primeiro-ministro, António Costa, que o regresso das competições “está dependente das autoridades de saúde” e poderá ser decidido “nos próximos dias”.
No final, Fernando Gomes, promotor da iniciativa, fez o resumo do encontro, garantindo que a retoma das competições está dependente de uma análise coordenada “entre técnicos da FPF, com a Liga e as autoridades de saúde”. Uma posição mais clara poderá surgir na quinta-feira, quando António Costa revelar ao país um conjunto de medidas para diminuir o confinamento, face ao fim do estado de emergência decretado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a 2 de Maio.
“Se os trabalhos com a DGS [Direcção-Geral de Saúde] conduzirem a uma decisão definitiva [em relação ao regresso do futebol], ela será anunciada na quinta-feira”, explicou Fernando Gomes.
“A evolução da pandemia dá alguma esperança, mas acima de tudo está a saúde. Dos atletas, dos treinadores, de todas as pessoas envolvidas no espectáculo. Essa avaliação vai ser feita nos próximos dias, entre os técnicos da federação, Liga e autoridades de saúde”, revelou o presidente da FPF.
Fernando Gomes adiantou ainda que foi levantada a hipótese de os jogos em falta para o encerramento da temporada serem disputados num espaço geográfico restrito e com um número restrito de estádios. Uma possibilidade enquadrada “na avaliação de risco” para garantir uma retoma prudente e segura.
Para trás ficava uma “cimeira” inédita, que durou mais de duas horas e procurou sensibilizar António Costa para os efeitos gravosos que a suspensão das provas está a provocar nas finanças de todos clubes.
O encontro foi precedido pela notícia de que o Governo francês proibiu a realização de eventos desportivos até Setembro, impedindo assim a conclusão das competições de futebol desta temporada. Um cenário que, a repetir-se em Portugal, seria desastroso para os clubes profissionais.
Pressão da Altice
No imediato, a consequência mais danosa prende-se com os contratos de transmissão dos jogos estabelecidos com os operadores de telecomunicações NOS, Altice e SportTV. Face à paragem na competição, a Altice confirmou que não irá pagar as tranches relativas a Abril.
O anúncio que antecedeu em algumas horas a reunião com o primeiro-ministro não terá sido uma coincidência e colocou mais pressão sobre António Costa para responder às pretensões dos clubes. Tal como a Altice – que tem contrato nomeadamente com o FC Porto –, também a NOS – Benfica, Sporting e Sp. Braga, entre outros – já anunciara que não pagará mais qualquer verba aos clubes antes do regresso dos jogos.
O presidente do Santa Clara resumiu a situação em nome de todos os participantes das Ligas profissionais. “O mais importante é que o campeonato regresse o mais rapidamente, de forma que consigamos concluir a prova com segurança e retomar os direitos televisivos […]. Para que possamos pôr comida na mesa dos nossos trabalhadores, que é isso que é realmente importante”, sublinhou Rui Cordeiro à agência Lusa.
Exigência da UEFA
À pressão financeira juntou-se também a UEFA. O organismo que gere o futebol europeu estabeleceu o dia 25 de Maio como data limite para as 55 federações associadas apresentarem “o plano de reinício das competições internas”, incluindo a data de reinício e o modelo competitivo escolhido.
Por outro lado, a UEFA procurou minimizar alguns danos financeiros da actual crise libertando mais de 230 milhões de euros para as federações europeias. “A indústria do futebol enfrenta um desafio sem precedentes. A UEFA tem o dever de ajudar as suas federações a responder a isto de formas apropriadas às circunstâncias específicas”, disse Aleksander Ceferin, presidente do organismo, em declarações ao site oficial.
De acordo com Ceferin, será atribuído às federações um valor máximo de 4,3 milhões de euros.
COP a abrir
Antes de receber os representantes do futebol, António Costa esteve reunido com José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Lourenço, presidente do Comité Paralímpico de Portugal, e Carlos Cardoso, presidente da Confederação do Desporto de Portugal. Todos expuseram as suas preocupações relativas ao impacto da pandemia viral.
Constantino aproveitou para deixar a António Costa um conjunto de medidas de apoio ao sector do desporto. “O cancelamento generalizado das competições desportivas pôs em risco a sustentabilidade de grande parte das organizações que compõem a pirâmide do sistema desportivo nacional. Da base ao topo”, salienta o COP na mensagem que acompanha as propostas. “É este o momento de o Governo confirmar a aposta no desporto como actividade social relevante e merecedora do apoio indispensável.”
“O primeiro-ministro ouviu as nossas propostas e garantiu que o Governo está aberto a soluções para a retoma das actividades desportivas”, sintetizou ao PÚBLICO José Manuel Constantino. António Costa não deixou de sublinhar que estará tudo condicionado à natureza das diferentes modalidades e aos factores de risco que cada uma possa representar.
“Agora, as autoridades de saúde irão trabalhar com cada uma das federações e com o IPDJ (Instituto Português do Desporto e da Juventude) para verificar se os planos apresentados para a retoma de cada uma das federações são aceitáveis”, explicou José Constantino.