Royce Da 5’9’’: “Neste momento, temos que nos focar em nós mesmos, é isso que os negros devem fazer na América”

Demorou 20 anos para chegar ao seu pico de forma: em Book of Ryan e, agora, The Allegory, afirma-se como uma das grandes figuras do hip-hop americano, político e emocional, duro e pragmático. Não é uma alegoria.

Foto
DR

Se, por esta altura, o leitor português que esteja familiarizado com os nomes de Kendrick Lamar ou J. Cole ainda não ouviu falar de Royce Da 5’9’’ — nascido Ryan Daniel Montgomery em Julho de 1977 em Detroit, exactamente uma década após o “Verão quente” do 12th Street Riot —, não estará tão distante assim de muitos ouvintes que até acompanham o hip-hop americano com alguma regularidade. Várias explicações possíveis (além de uma mais objectiva: Royce pertence a uma geração mais velha do que a dos dois nomes atrás citados): o facto de, tendo iniciado a carreira nos finais dos anos 90 (quando o hip-hop não tinha um quarto da popularidade que tem hoje em todo o mundo), ter assinado discos de qualidade intermitente e só nos últimos anos ter criado as suas melhores peças; a inelutável sombra de Eminem (e alguns desentendimentos pelo meio), parceiro de rimas e batidas desde o início da aventura; o desgaste provocado pelas altercações com alguns elementos dos D12, super-grupo de Detroit criado na asa de Eminem, e que lhe chegaram a valer, a Royce e a ao também rapper Proof, uma noite na prisão; a circunstância de ter vários projectos colaborativos (Bad Meets Evil, Slaughterhouse e, acima de tudo, PRhyme, com DJ Premier) que desviaram o foco da sua carreira a solo; ou, enfim, o “pormenor” de, nesse seminal ano de 1998, ter preferido assinar com a Tommy Boy Records, que lhe ofereceu 1 milhão de dólares, em detrimento da Aftermath, de Dr. Dre (que propôs ao miúdo de 21 anos uns “míseros” 250 mil dólares)…