Covid-19: entre o alarmismo de Moçambique e a primeira morte na Guiné-Bissau
Entre os PALOP, Cabo Verde é o país com mais casos e a cerca sanitária em torno da capital está em cima da mesa. Governo moçambicano acusado de lançar o pânico ao falar na possibilidade de 20 milhões de infectados. Depois de dias sem casos novos, guineenses registam uma morte.
Um quarto da população africana poderia ser infectada pelo novo coronavírus sem campanhas de isolamento social estritas, e Jerry Brown, o médico que ajudou a Libéria no combate ao surto de ébola em 2014 e está na linha da frente do combate à covid-19, fala na possibilidade de 250 milhões de casos em todo o continente. Moçambique diz que pelos seus cálculos 20 milhões deles seriam moçambicanos.
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Um quarto da população africana poderia ser infectada pelo novo coronavírus sem campanhas de isolamento social estritas, e Jerry Brown, o médico que ajudou a Libéria no combate ao surto de ébola em 2014 e está na linha da frente do combate à covid-19, fala na possibilidade de 250 milhões de casos em todo o continente. Moçambique diz que pelos seus cálculos 20 milhões deles seriam moçambicanos.
O Governo de Filipe Nyusi usou esse cenário pessimista no seu pedido de ajuda financeira à comunidade internacional para a luta contra a pandemia, justificando assim os 465 milhões de euros que solicitou. O país tinha 76 casos positivos até este domingo e 20 milhões equivaleria a 70% da população do país infectada.
“Alarmista” e gerador de um clima de pânico, foi assim que o Centro para a Democracia e Desenvolvimento, organização da sociedade civil, classificou o anúncio feito pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades de Moçambique na semana passada.
“O Governo moçambicano traçou um cenário alarmista de 20 milhões de infectados para atrair apoio da comunidade internacional”, referiu o CDD numa nota à imprensa. “O executivo devia informar com muita responsabilidade sobre a situação da covid-19 em Moçambique”, evitando “traçar cenários catastróficos, com o objectivo de angariar ajuda internacional.”
Por esta altura, Moçambique nem sequer é o pior entre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Cabo Verde aumentou neste domingo o número de casos positivos para 106, com uma morte, o turista inglês de 62 anos que foi o primeiro infectado registado no arquipélago.
Nas seis ilhas cabo-verdianas sem registos de casos o estado de emergência foi levantado às 00h00 desta segunda-feira, permanecendo em vigor na Boa Vista, Santiago e São Vicente até às 24 horas de 2 de Maio. Mantendo-se suspensas as ligações entre ilhas e os voos internacionais.
Na sexta-feira, na habitual conferência de imprensa sobre a covid-19, o ministro da Administração Interna de Cabo Verde, Paulo Rocha, referiu-se à possibilidade de impor uma cerca sanitária em torno da cidade da Praia, a capital do país. Explicando ser uma medida “extremamente complexa” de implementar, considerou ser “preciso reflectir sobre todas as consequências de uma decisão de tal envergadura”.
“Estamos a falar de uma ilha com vários concelhos [nove], com muitos povoados, com uma densidade populacional grande, mas em que há uma dependência grande em relação à cidade da Praia”, estabelecer um “cerco sanitário tem consequências várias e imprevisíveis que é preciso ter em linha de conta”, explicou, citado pela Lusa.
Entre os PALOP, além de Cabo Verde, só Angola tinha registo de mortes por coronavírus (duas) até este domingo, conseguindo o país manter um nível baixo de casos até agora, com apenas 25. Sílvia Lutucuta, a ministra da Saúde angolana dizia na sexta-feira à Lusa que o país conseguiu “fechar o círculo” e controlar a cadeia de transmissão, porque 21 dos 25 casos positivos foram logo isolados e os outros quatro casos foram detectados em tempo útil.
Melhor que Angola entre os PALOP, no que diz respeito a números, somente São Tomé e Príncipe, que foi um dos últimos países do continente a ser atingido e tinha quatro casos conhecidos.
O país, que vai receber 12,3 milhões de dólares do Fundo Monetário Internacional para a luta contra a pandemia, instituiu na quarta-feira “o confinamento obrigatório em todo o território nacional” das 19h às 5h e o Governo alertou a população que os que não cumprirem podem incorrer “em crime de desobediência”. A polícia e o exército foram mobilizados para patrulhar as ruas.
Com os 53 casos da Guiné-Bissau (que neste domingo confirmou a primeira morte), os PALOP somam em conjunto 260 casos e cinco mortos. No sábado, as autoridades de saúde guineenses recomendaram o prolongamento do estado de emergência no país, mesmo tendo em conta que o país registava três dias consecutivos sem nenhum novo caso de infecção. Decisão que foi confirmada este domingo pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló.
“A opinião técnica é para prolongar por mais duas semanas o estado de emergência, porque apesar dos números ainda há alguns receios”, afirmou o médico Tumane Baldé, porta-voz do Centro de Operações de Emergência de Saúde, na habitual conferência de imprensa diária. O estado de emergência foi prolongado por mais 15 dias.