Arqueólogos descobrem no Vale do Côa uma das maiores figuras rupestres do mundo
É a figura de um auroque, boi selvagem, com 3,5 metros. Arqueólogos dizem que é neste momento a maior gravura do mundo, dentro do seu género, encontrada ao ar livre. Terá cerca de 23 mil anos.
A Fundação Côa Parque (FCP) anunciou nesta sexta-feira a descoberta de um painel de figuras rupestres, entre as quais está a de um auroque que é “maior figura da arte do Vale do Côa e da toda a Península Ibérica, e uma das maiores do mundo, apenas comparável com os auroques da gruta de Lascaux”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Fundação Côa Parque (FCP) anunciou nesta sexta-feira a descoberta de um painel de figuras rupestres, entre as quais está a de um auroque que é “maior figura da arte do Vale do Côa e da toda a Península Ibérica, e uma das maiores do mundo, apenas comparável com os auroques da gruta de Lascaux”.
“Encontrámos, durante as escavações, a figura de um auroque [boi selvagem] com a dimensão de 3,5 metros, que é neste momento a maior [gravura] do mundo, dentro do seu género, encontrada ao ar livre, datada do período do Paleolítico Superior, com cerca de 23 mil anos”, explicou à agência Lusa o arqueólogo da Fundação Côa Parque, Thierry Aubry.
Em comunicado, citado pela Rádio Renascença, a fundação explica que, “sob os sedimentos escavados”, a equipa de arqueologia do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) descobriu um painel com mais de seis metros de comprimento. A descoberta é relatada na edição de Maio da revista francesa Archéologia. No resumo do artigo, com o título “Vale do Côa. Gravuras paleolíticas enterradas sob níveis arqueológicos”, lê-se que estas “descobertas recentes feitas na Primavera de 2020 estão a relançar o debate” sobre a arte paleolítica ao ar livre.
De acordo com a fundação, a equipa liderada por Thierry Aubry, responsável técnico-científico do Museu do Côa e Parque Arqueológico do Vale do Côa, iniciou os trabalhos de escavação junto à rocha 9 do Fariseu depois de identificado de “um traço gravado” junto a essa rocha, “que prosseguia sob o solo actual, numa superfície então visível de menos de um metro de comprimento”.
O comunicado da fundação nota ainda que “o traço que se observava à superfície fazia parte da garupa de um grande auroque (boi selvagem) com mais de 3,5 metros de comprimento”. “No seu interior identificaram-se outros animais gravados por picotagem e abrasão: uma fêmea de veado, uma cabra e uma fêmea de auroque, seguida pelo seu vitelo. No sector direito do painel identificou-se um outro conjunto de gravuras, contendo várias representações de auroques, veados e cavalos, todos sobrepostos, que se encontram ainda parcialmente sob sedimentos”.
“Além da importância do achado em si, o facto de o painel ter sido encontrado sob camadas arqueológicas permite atribuir-lhe uma data mínima. Esta é a única forma de datar objectivamente a arte do Côa, uma vez que é impossível de datar directamente por Carbono 14”, explicou Thierry Aubry à agência Lusa.
A rocha 9 do Fariseu representa um dos principais núcleos de arte rupestre do Vale do Côa, classificados como Monumento Nacional e inscritos na Lista do Património Mundial da organização das nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
“A continuação dos trabalhos e as datações físico-químicas a realizar permitirão datar de forma científica estas camadas que cobrem as gravuras, mas a sua comparação com o registo da rocha 1 permite dizer que as mais antigas datarão das primeiras fases do Paleolítico Superior”, refere a Fundação Côa Parque. Os trabalhos arqueológicos foram suspensos no âmbito do plano de contingência da pandemia de covid-19 e serão continuados “assim que as actuais medidas de contenção da pandemia” o permitam.