Uso de máscara: nem capricho nem estupidez
Se o uso de máscara, como disfarce ou ilusão, não é, evidentemente, compatível ou desejável numa sessão solene como esta, já a máscara, como resguardo e proteção, é completamente justificada e exigível no momento específico que vivemos. Nem capricho nem estupidez: é um ato de responsabilidade, cidadania e solidariedade. Os mesmos princípios reclamados e aclamados no 25 de Abril.
No sábado, 25 de abril, faz 46 anos que o Movimento das Forças Armadas interrompeu o regime antidemocrático anterior, que se havia prolongado durante, exatamente, outros 46 anos. Nos meus 18 anos de estudante universitário, vivi intensa e entusiasticamente esse dia e o longo período que se lhe seguiu.
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No sábado, 25 de abril, faz 46 anos que o Movimento das Forças Armadas interrompeu o regime antidemocrático anterior, que se havia prolongado durante, exatamente, outros 46 anos. Nos meus 18 anos de estudante universitário, vivi intensa e entusiasticamente esse dia e o longo período que se lhe seguiu.
Trata-se de uma data nacionalmente importante e, por isso, a comemorar como, por regra, tem acontecido anualmente. Sucede que, este ano, o encontro dos 46 anos ocorre no decurso de uma pandemia inédita, ameaçadora e imprevisível.
Se não sabemos quando toda esta singularidade vai terminar, conhecemos bem o que já vivemos até aqui, interrompendo presenças, relações, afetos, lutos e perdendo salários, empregos, empresas, amigos e familiares, mas também gerando solidariedade, responsabilidade, experiência e sustentabilidade e descobrindo capacidades, destrezas, cumplicidades e partilhas. E com o elevado preço adicional de um estado de emergência – o primeiro em décadas – com um mês e meio de duração. Durante estes 45 dias, passámos o período Pascal, uma festa religiosa e familiar para a maioria dos portugueses, que, este ano, foi adiada.
É por isso compreensível, até natural, que as comemorações deste 25 de Abril, mesmo apenas centradas no edifício parlamentar e com menos de um sétimo dos intervenientes habituais, esteja a causar grande e acesa controvérsia.
Sabemos todos que os portugueses são ótimos a organizar, fazer e cumprir, mas menos bons a manter, consolidar e prosseguir. Neste caso, aquilo em que somos bons, a adesão, compromisso e disciplina com que temos respondido à ordem de confinamento, foi exemplar. De tal modo que a covid-19 se encontra hoje em níveis de boa contenção. Por este motivo, seguir-se-á, a partir de 2 de maio, o desejável, mas progressivo, regresso à normalidade possível.
Ora, é exatamente nesta fase que se iniciam os nossos principais receios. Porque é a área em que somos menos eficientes e também porque, no fundo, é o desconhecimento que nos espera. E se a evolução futura da pandemia é uma incerteza, sabemos algumas formas de a condicionar. Uma delas, porventura a mais importante, é o uso de máscara, por toda a população, em todos os momentos, mas sobretudo em espaços fechados e/ou mais populosos.
Sendo o Parlamento um espaço fechado, foi com preocupação que ouvi o senhor presidente da Assembleia da República afirmar que o uso de máscara não seria obrigatório na cerimónia comemorativa do 25 de abril, até porque “seria estúpido” que os festejos fossem realizados com “pessoas mascaradas”.
Se o uso de máscara, como disfarce ou ilusão, não é, evidentemente, compatível ou desejável numa sessão solene como esta, já a máscara, como resguardo e proteção, é completamente justificada e exigível no momento específico que vivemos. Nem capricho nem estupidez: é um ato de responsabilidade, cidadania e solidariedade. Os mesmos princípios reclamados e aclamados no 25 de Abril.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico