Câmara de Matosinhos teme aumento de casos no Lar do Comércio

Segunda vistoria verificou que “um conjunto muito alargado de problemas persistem” em lar de Matosinhos. Últimos dados falam de seis mortes e 30 infectados, mas autarquia teme que “número aumente significativamente” e fala num quadro “muito preocupante” Novos trabalhadores vão reforçar resposta da instituição.

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Mais de 200 pessoas vivem no Lar do Comércio Paulo Pimenta

O relatório final ainda não foi divulgado, mas a segunda vistoria ao Lar do Comércio, em Matosinhos, confirmará a existência de diversos problemas no interior da instituição e reportará “falhas que não poderiam estar a acontecer neste momento”. É um “quadro de grande preocupação”, disse ao PÚBLICO José Pedro Rodrigues, vereador da Protecção Civil da Câmara de Matosinhos, que na quinta-feira acompanhou a vistoria de mais de seis horas ao lar. “É uma das situações mais preocupantes no concelho”, admitiu.

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O relatório final ainda não foi divulgado, mas a segunda vistoria ao Lar do Comércio, em Matosinhos, confirmará a existência de diversos problemas no interior da instituição e reportará “falhas que não poderiam estar a acontecer neste momento”. É um “quadro de grande preocupação”, disse ao PÚBLICO José Pedro Rodrigues, vereador da Protecção Civil da Câmara de Matosinhos, que na quinta-feira acompanhou a vistoria de mais de seis horas ao lar. “É uma das situações mais preocupantes no concelho”, admitiu.

A vistoria, com a presença da protecção civil e acção social da autarquia, da Autoridade de Saúde local e da Segurança Social, surgiu após denúncias de que as recomendações feitas numa primeira visita, e explanadas num relatório de 12 de Abril, não estariam a ser cumpridas. E assim se confirmou. Apesar de haver aspectos que “aparentam ter merecido preocupação da instituição”, afirmou José Pedro Rodrigues, “um conjunto muito alargado de problemas persistem”.

A segregação entre utentes com covid-19 e utentes saudáveis, por exemplo “não foi completamente garantida”, apesar de haver mais separação do que a verificada na anterior visita. O vereador, eleito pela CDU, evita entrar em pormenores antes do relatório final, que poderá ser divulgado ainda esta sexta-feira, mas não esconde um tom crítico quanto à não-adaptação da instituição ao momento.

Já a partir desta sexta-feira, a Segurança Social comunicou a disponibilização de oito profissionais, enfermeiros e técnicos de acção directa, para reforçar a equipa do Lar do Comércio, que tem justificado algumas falhas com a escassez de trabalhadores. Entretanto, as entidades que fizeram a vistoria ao lar acordaram com a instituição um regresso ao espaço na manhã de sábado para “entrosar os novos profissionais com as recomendações e determinações da Unidade de Saúde Pública”, estando também prevista a “presença e apoio dos bombeiros para avançar de forma imediata com todas as medidas de segregação”. 

O Lar do Comércio não adianta quantos óbitos há a lamentar neste momento, mas admite a existência de “quatro funcionários infectados e 26 utentes” – estando “os restantes testes ainda em curso”. Segundo apurou o PÚBLICO, na noite da vistoria, a Autoridade de Saúde foi surpreendida com mais um óbito, o que terá feito subir o número de vítimas mortais para seis. Mas a gravidade da situação pode ainda aprofundar-se: “O nosso receio é que, com o grau de lacunas existente, este número aumento significativamente”, aponta José Pedro Rodrigues.

Num curto comunicado, divulgado ainda na noite de quinta-feira, a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-N) limitava-se a informar que no final desta segunda inspecção, “foram determinadas novas medidas correctivas”, escusando-se a especificar que medidas foram essas e se as correcções anteriormente solicitadas pela autoridade de saúde estavam a ser cumpridas. O PÚBLICO tentou contactar a Autoridade de Saúde local, mas sem sucesso até ao momento. 

A direcção do lar, dirigido por Marta Couto-Soares, continua, no entanto, a negar os relatos de autoridades de saúde e autarquia: “Todos os idosos se encontram, no momento, em isolamento nos seus quartos, sendo as refeições e os cuidados aí prestados”, afirma, admitindo, apesar disso, algumas dificuldades: “Poder-se-á imaginar, numa área tão vasta como a que tem o Lar do Comércio, como é difícil chegar a todos em tempo útil e eficazmente.”

Ainda antes de a pandemia se revelar um problema especialmente grave em vários lares do país, a autarquia liderada por Luísa Salgueiro visitou os 18 lares de idosos e também centros de apoio a pessoas com deficiência, onde habitam cerca de 1000 pessoas. E nessas visitas foram explicitadas as regras e métodos de segregação de doentes e pessoas saudáveis, para conter o contágio, a melhor forma de adoptar métodos de protecção dos trabalhadores e ainda recomendadas medidas que melhorem circuitos de gestão de resíduos, funcionamento de cantinas, garantia de limpeza, entre outros.

“São um conjunto muito vasto de recomendações que são fundamentais para este momento difícil. E as instituições devem acolher sem reservas estas indicações. Mesmo nos casos mais exigentes que encontrámos, as instituições foram fazendo um esforço para adaptar a sua realidade métodos a esta nova situação e recomendações. O Lar do Comércio não se pode pôr de fora na implementação destas orientações”, avisa.

O Lar do Comércio tem justificado algumas das lacunas – na comunicação com familiares, por exemplo, já que alguns ficaram sem contacto e sem notícias dos seus familiares durante semanas, mas também no cumprimento das regras –, com a escassez de trabalhadores. “Estamos a trabalhar com recursos humanos escassos - mais de 60 funcionários encontram-se actualmente de baixa médica - apesar de todos os esforços que têm sido levados a cabo para recrutar”, disse ao PÚBLICO a direcção do lar numa resposta escrita.

José Pedro Rodrigues argumenta que “o tempo para concretizar as orientações da unidade de saúde publica não é hoje, é o de há uma semana [quando foi feita a primeira vistoria]”. Nessa altura, sublinha “havia mais trabalhadores” – mas as regras não estavam também a ser cumpridas. A Câmara de Matosinhos já manifestou disponibilidade para ajudar na triagem e selecção de trabalhadores.

A autarquia tinha referido ao PÚBLICO que o hospital de campanha do município estaria disponível para receber utentes, caso a autoridade de saúde assim o recomendasse. No entanto, o vereador recorda que não é aceitável que “uma instituição com esta dimensão, com mais de 200 utentes, não consiga gerar as respostas necessárias para lidar com esta situação. Não pode é ignorar as recomendações e determinações da saúde pública”.

O hospital de campanha de Matosinhos recebeu esta sexta-feira os primeiros utentes, à volta de sete pessoas, reencaminhados pelo Hospital Militar e o Hospital Pedro Hispano.

No Lar do Comércio, os equipamentos de protecção foram também reforçados, tanto pela Segurança Social como pelo município, mas se estão ou não a ser usados correctamente é uma resposta que o relatório dará. A direcção do lar diz estar a comprar mais equipamento e a receber doações, falando ainda assim numa “escassez de batas descartáveis”. O certo, aponta o vereador José Pedro Rodrigues, é que algo não correu bem. “Ao fim de uma semana há um conjunto de lacunas que não podem acontecer”.